Direto de Mascate, as Adagas vão voar

Fora isso, admito que não sabia de absolutamente nada a respeito desta que será a adversária da seleção brasileira de futebol, no comecinho de tarde desta terça-feira. Não que seja incomum escolhermos oponentes bizarros para nossos amistosos internacionais. Basta puxar pela memória e grandes embates contra seleções do quilate de Andorra, Guatemala, Canadá, Argélia, Kuwait e Porto Rico serão lembrados por seus lances empolgantes, ou não. Mas Omã me surpreendeu, confesso, uma vez que mal lembrava que o país existia e nem imaginava como poderia ser o futebol profissional por lá. Como fiquei curioso, resolvi dar uma pesquisada, e acho justo aproveitar o momento para clarear um pouco a história, especialmente futebolística, deste nosso pouco usual adversário.
Não que seja uma história muito rica, na verdade. A atual Associação Omaniana de Futebol foi fundada em 1978, e as maiores conquistas do país estão nas competições Sub-17. Em duas oportunidades (em 1996 e 2000) a seleção de Omã venceu o Campeonato Asiático da categoria, e em 1995 chegou a ficar em quarto lugar no Mundial, o que não é pouca coisa. Boa parte dos atletas que participaram dessa geração vão estar em campo no Qaboos Sports Complex Stadium para enfrentar os brasileiros. A seleção profissional não tem maior cartaz, mas também não merece total desprezo – afinal, é nada menos que a atual campeã da Copa das Nações do Golfo, triunfando nos pênaltis diante da Arábia Saudita no dia 17 de janeiro último. Omã era país-sede do torneio, disputado de dois em dois anos, e essa foi a primeira conquista internacional da seleção profissional do país. Atualmente, a seleção que vamos ver daqui a pouco ocupa a posição 79 no ranking da FIFA, um pouco distante da melhor posição já alcançada pelo país, que foi o 50º lugar em 2004.
Nas Eliminatórias da Copa, as Adagas Vermelhas (sim, esse é o apelido da seleção omaniana) não tiveram, como de hábito, uma participação das mais empolgantes. Na primeira eliminatória, superaram com autoridade a temível seleção do Nepal por um duplo 2 a 0. No entanto, pegaram um grupo difícil na segunda fase, e acabaram ficando em terceiro entre quatro times, perdendo a classificação para Japão e Bahrein. Omã venceu duas vezes a frágil Tailândia, e conseguiu um empate em Mascate contra o Japão – o que, considerando que os nipônicos são uma potência continental, foi um ótimo resultado. Mas a derrota em casa para Bahrein por 0 a 1 acabou sendo decisiva, e impediu que o Sultanato de Omã seguisse sonhando com sua primeira Copa do Mundo. Atualmente, a seleção está envolvida nas eliminatórias para a Copa da Ásia, e vive momento delicado – perdeu o último jogo por 2 a 1 para a Arábia Saudita, em casa, e está correndo riscos consideráveis de eliminação também nesse ‘qualifying’.
O campeonato nacional de futebol de Omã é dividido em três divisões. Na mais importante, doze clubes disputam a taça, e a supremacia geral é do Dhofar, com nove títulos no campeonato local e mais sete Sultan Qaboo (também conhecida como Copa de Sua Majestade) no currículo. Com esse cartel, não surpreende que sejam chamados de “Al-Zaeem”, os “Os Líderes”. A grande rivalidade local é entre o Dhofar e o Al Nasr Salalah, apelidado de “Al-Mulk” (O Rei) e outro grande levantador de taças do país, com cinco Campeonatos e quatro Copas Sultan Qaboo. Atualmente, no entanto, os dois times estão mal, ostentando respectivamente a sétima e oitava posições no campeonato de 2009-2010. A liderança de momento é do Al Suwaiq, que subiu na temporada 2008-2009 e já chega sem medo de encarar os grandes. Logo atrás estão o Al Nahda (atual campeão) e o Al Seeb. Bem menos amena, de qualquer modo, é a história do Fanja: único clube local a ganhar um título internacional (a Copa de Clubes do Golfo de 1989), sete vezes campeão local e com mais de 300 mil torcedores no país, vive em crise desde a morte de seu mantenedor Sayyid Sami e amarga atualmente os campos cheios de areia da segunda divisão local.
A imprensa brasileira tem destacado basicamente dois jogadores da seleção de Omã – o goleiro Ali Al-Habsi, reserva do Bolton da Inglaterra, e o atacante Amad Al-Hosni, que joga no Charleroi da Bélgica. O goleiro de fato é um dos ídolos do futebol local, tendo ganhado nada menos que quatro prêmios de Melhor Goleiro na Copa do Golfo; e Amad Al-Hosni é há tempos um dos craques do país, defendendo desde 2003 a seleção nacional. Mas eu particularmente acho que a seleção brasileira tem pelo menos dois outros nomes com os quais se preocupar: Hassan Rabia e Sultan Al-Touqi. O primeiro foi o artilheiro da última Copa do Golfo, metendo quatro buchas no decorrer do certame, e chegou a fazer uma breve passagem pelo Al Nassr da Arábia Saudita antes de retornar ao Al Suwaiq, clube que defende atualmente. É um atacante de chute forte e boa presença de área, segundo os omanianos, e merece respeito. O segundo é um meia habilidoso, que é presença certa em todos os jogos e é considerado um dos mais qualificados atletas a defender as Adagas Vermelhas em todos os tempos. Olho neles, Dunga!
Em resumo, não é que a seleção brasileira vá ter um adversário dos mais espinhosos – a tendência é acontecer o mesmo que em 90% dos amistosos da seleção: um jogo sonolento, uma atuação preguiçosa e um ou dois gols marcados de forma marota em uma partida sem maiores compromissos. Mas não deixa de ser interessante termos uma seleção de apelo mundial ajudando a prestigiar o futebol local, em um país que aprecia muito o esporte e que tem tudo para aproveitar esse espetáculo para o próprio crescimento. Aliás, até o Carlos Alberto Torres andou treinando a seleção de Omã no passado, em uma prova de que Mascate, na verdade, é logo ali. E para mim é sempre um deleite poder ver um jogo do tipo, mostrando realidades distantes do nosso dia-a-dia e fazendo com que países distantes sejam mais do que simples pinturas em um mapa e capitais para decorar. Assistirei com gosto o jogo dessa terça – e não duvido que Hassan Rabia meta uma bucha no Júlio César, hein? Para a torcida local, isso já seria a glória.
Foto: seleção de Omã pronta para dar um suadouro no Brasil (site oficial da OFA).
Comentários
Belo trabalho, Igor. Quem sabe não sai um blog "Bola Omaniana"? Ou o Minuto Omaniano no Carta na Mesa.
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