O conceito de perfeição

Há algo a se comentar quando tudo dá certo? Talvez não, mas me atreverei. Só para ficar nos números: o Grêmio aplica 7 a 1 no Figueirense, fora de casa, contra uma equipe que não vencia há quase 5 anos; é o líder isolado do Campeonato Brasileiro; time que tem mais vitórias, menos derrotas, mais vitórias fora de casa, segundo melhor ataque, melhor defesa, melhor saldo, e fez hoje a maior goleada do Brasileirão 2008, e a maior de sua história no campeonato. Agora, entremos nos méritos, que não foram poucos.

Não fosse o pênalti bobo cometido por Paulo Sérgio e a atuação do time hoje no Orlando Scarpelli teria sido perfeita. Todos os setores funcionaram muito bem, e nenhum dos 11 atletas teve uma atuação inferior ao conceito "bom" na noite de hoje. O conjunto foi perfeito, desde a postura, com marcação na saída de bola adversária, à anulação de Cleiton Xavier - e por conseguinte da criação do Figueira - até as conclusões, pecado maior do jogo de sábado, que impediu que o Grêmio já fizesse sua goleada histórica diante do Cruzeiro, na rodada passada. As bolas que não entraram sábado entraram todas hoje.

O tricolor ensaiava seu golo desde o início, marcando os fracos zagueiros catarinenses, ganhando rebotes e criando chances por atacado. O primeiro veio em cruzamento de Paulo Sérgio, que Willian Magrão escorou para Perea mandar de cabeça. A bola ainda bateu nas costas de Wilson e entrou, aos 17. Sorte de líder isolado. Dez minutos depois, escanteio de Tcheco e Perea marcou outro, com oportunismo. O colombiano é muito irregular. Tem atuações bizarras como sábado, mas, quando está inspirado, faz chover. Marcou seus 14 golos este ano (boa marca) em apenas 7 partidas. Em apenas dois (Jaciara e Figueirense), fez metade deles.

Vieram as dificuldades, com o pênalti cometido por Paulo Sérgio aos 34. Cleiton Xavier deslocou Victor e descontou, e o Figueira veio para cima. Marquinho era perigoso, chegou a ter chance de empatar. Foram cerca de 7 minutos de desconforto defensivo, mas a vitória parcial veio no intervalo, e foi importantíssima.

Porque Roth corrigiu a postura dos gaúchos, que deixaram o recuo natural de lado e assumiram as rédeas do jogo novamente, jogando no campo inimigo. O golo veio ao natural, em grande jogada de Tcheco. O meia, mesmo desequilibrado, limpou lance e jogou na cabeça de Marcel, o centroavante. 3 a 1, aos 7 minutos. Este foi o golo que matou o Figueirense e determinou a goleada histórica.

Tudo porque PC Gusmão reviveu seus "melhores" momentos, abrindo totalmente o time e deixando-o vulnerável atrás. Perea fez golaço aos 21, tomando tranco, tirando o zagueiro na base da bundada e completando. Marcel saiu, e Roth botou Reinaldo. O treinador demonstrou que estava mesmo em noite de rara felicidade: Reinaldo fez os outros, dos 7 a 1, históricos e impensáveis.

Perigos? Existem, e muitos. Todos tendo na base uma soberba latente. Krieger fala que o Grêmio não tem limites, o que não é verdade. Há posições ainda carentes de reservas qualificados. O banco hoje foi precário (sim, é difícil falar agora que Reinaldo entrou e fez 3, mas comentei com Fred Posselt na hora das escalações). Porém, o tricolor mostrou nesta noite que é sim um candidato à vaga na Libertadores. Domingo tem jogo contra o Palmeiras, num Olímpico que terá 50 mil pessoas nem que caia neve em Porto Alegre. Vencendo, aí sim, será uma demonstração de que a goleada de hoje não subiu à cabeça de todos na Azenha, e a briga pelo título ganharia mais um candidato, mas bem aos poucos, pois é com cautela que esta bela campanha está sendo construída.

Campeonato Brasileiro 2008 - 14ª rodada
24/julho/2008
FIGUEIRENSE 1 x GRÊMIO 7
Local: Orlando Scarpelli, Florianópolis (SC)
Árbitro: Paulo César de Oliveira (SP)
Público: 15.522
Renda: R$ 158.117,50
Golos: Perea 17 e 28 e Cleiton Xavier (pênalti) 36 do 1º; Marcel 7, Perea 21 e Reinaldo 24, 36 e 38 do 2º
Cartão amarelo: Magal, Thiego e Paulo Sérgio
FIGUEIRENSE: Wilson (3,5), Ânderson Luiz (4) (Wellington Amorim, 20 do 2º - 4), Bruno Aguiar (3), Asprilla (2) e Leandro Soares (5); Magal (4) (Leandro Carvalho, 10 do 2º - 4,5), Diogo (4) (Ramon, 10 do 2º - 4), Cleiton Xavier (4,5) e Marquinho (5,5); Rafael Coelho (4) e Tadeu (4). Treinador: Paulo César Gusmão (0,5)
GREMIO: Victor (7), Thiego (6) (Makelele, 31 do 2º - 6,5), Pereira (6) e Jean (6,5); Paulo Sérgio (6,5) (Bruno Teles, 31 do 2º - 5,5), Rafael Carioca (7,5), Willian Magrão (7), Tcheco (7,5) e Anderson Pico (6); Perea (9,5) e Marcel (6,5) (Reinaldo, 16 do 2º - 8,5). Treinador: Celso Roth (9,5)

Foto: Cristiano Andujar/Futura Press