Uma noite de confirmações

Melhor em campo, Walace comemora seu golaço em Quito
Que o Grêmio havia evoluído nas últimas semanas, todos sabíamos. A questão era confirmar este crescimento em campo no jogo mais esperado dos últimos 30 dias. A vitória por 3 a 2 sobre a LDU, na altitude de Quito e com gramado pesado, elevou o patamar da equipe: de time que se impunha apenas no Gauchão, mas que ainda em geral não convencia na Libertadores, o Tricolor repetiu o bom futebol apresentado no estadual, venceu com méritos e, ainda melhor, garantiu sua participação nos mata-matas com uma rodada de antecedência, em pleno grupo da morte.

A trajetória do Grêmio de Roger em 2016, até o momento, assemelha-se muito à do Inter de Aguirre no começo de 2015: um time que começou o ano com potencial, mas que sofria com atuações irregulares nos primeiros jogos da temporada. Pouco consistente defensivamente, perdeu feio na estreia da Libertadores, mas foi aos trancos e barrancos pontuando nos jogos seguintes. Ganhou um mês de parada na competição continental, período no qual o treinador revezou titulares e reservas no estadual e ganhou opções interessantes do time suplente, como Lincoln, Bobô e Pedro Rocha. Chegou a Quito muito mais bem estruturado (como o Inter em Santiago, diante da Universidad de Chile) e carimbou a vaga por antecipação jogando um futebol de nível bem melhor que o apresentado nos primeiros meses do ano. Tudo é muito parecido.

Ontem, a atuação tricolor mostrou um time bem mais maduro que aquele que sofria fora de casa um ou dois meses atrás. Não se assustou com o gol bem anulado da LDU logo de cara, postou-se bem defensivamente e, no ataque, tratou de valorizar a posse com toques sempre curtos e insinuantes, tendo a sorte de jogar no primeiro tempo para o lado onde o gramado permitia trocas de passes. Os gols de Douglas e Bobô foram muito semelhantes, surgidos de jogadas assim, sempre com Luan e Giuliano na linha de armação. Atrás deles, Walace sobrava com uma qualidade técnica ímpar na saída de bola e muita firmeza na marcação a Alemán.

O segundo tempo começou com um problema ainda não corrigido por Roger: fora de casa nesta Libertadores, o Grêmio, em todos os jogos, tomou gols no começo de um dos tempos do jogo. Se em Buenos Aires saiu perdendo logo de cara, em Toluca e Quito voltou do intervalo sofrendo um gol que complicava a partida. Ainda assim, teve frieza e sabedoria para se impor tecnicamente e chegar ao 3 a 1 com um golaço que premiou a partidaça de Walace. Gol que deu a gordura para suportar a pressão nos minutos finais, esperada pelo cansaço devido à altitude, e causada devido a um tento acidental de Cevallos.

O Grêmio resistiu o quanto pôde, e saiu com o merecido 3 a 2 que lhe dá a vaga, mas mesmo um empate praticamente lhe garantiria nas oitavas. As vantagens de ter vencido, porém, são muitas: além da óbvia confirmação matemática de classificação, ajuda a moldar um caráter vitorioso para um time que superou enormes dificuldades, como os 2,8 mil metros de altura e a ausência de nomes importantes, como Maicon, Marcelo Oliveira e Miller Bolaños. Além disso, permitirá a Roger até dosar forças contra o Toluca, já que haverá partida decisiva pelo estadual apenas 48 horas depois, na semana que vem.

Porém, é importante vencer os mexicanos: com 11 pontos, o Tricolor provavelmente será um dos melhores vice-líderes da fase de grupos, o que dificilmente evitará um confronto pesado já nas oitavas, mas pode permitir decidir mais enfrentamentos decididos na Arena, das quartas em diante. Qualquer vantagem numa Libertadores é sempre importante. É pensar longe demais? Sim, pode ser, mas quem passa por um grupo complicado como esse, e por antecipação, tende sempre a chegar forte nos mata-matas. E o Grêmio encaixou na hora exata, no fim da fase de grupos e próximo ao início das oitavas. Quem evolui neste momento da Libertadores costuma ir longe.

São Paulo a um empate das oitavas
A derrota do Strongest para o Trujillanos deixou o São Paulo numa situação que mesmo seus torcedores otimistas duvidavam: ficar a um empate de se classificar. Não será fácil superar as adversidades de jogar em La Paz, mas, assim como o Grêmio, o time de Edgardo Bauza parece estar se encaixando num momento-chave da Libertadores. A vitória por 2 a 1 sobre o River Plate no Morumbi com 51 mil torcedores e dois gols de Calleri, artilheiro da competição, eleva o Tricolor a um nível de respeito compatível com sua tradição, e superior ao do time vacilante deste começo de fase de grupos.

Boca e Corinthians também classificados
A vitória por 1 a 0 sobre o Racing em pleno Cilindro garante o Boca Juniors nas oitavas, e não é boa notícia para ninguém, já que os xeneizes são outros que vêm crescendo na hora certa. O Corinthians, por sua vez, passou sem sequer entrar em campo: viu o Cerro Porteño dar fiasco, levar 2 a 0 do eliminado Cobresal e se complicar na briga.

Freguês incômodo
Dirigindo o Atlético de Madrid, Diego Simeone havia vencido o Barcelona, até ontem, apenas uma vez em 16 jogos. Detalhe que a vitória havia sido justamente no duelo mais importante entre os dois clubes até então, nas quartas da Liga dos Campeões de 2014, resultado que classificou o Atlético às semifinais. Ontem, a história se repetiu: com uma atuação defensiva impecável e a marcação mais eficiente que o trio MSN já sofreu no último ano e meio, o time madrilenho fez 2 a 0 no Barça e garantiu sua vaga novamente sobre os catalães, chegando entre os quatro melhores da Europa mais uma vez, sob a batuta do francês Griezmann, que confirmou sua fase espetacular marcando dois gols no Vicente Calderón.

Foto: Lucas Uebel/Grêmio.

Comentários

Anônimo disse…
Detalhes do Racing x Boca (pra quem não viu): aos 14 SEGUNDOS de jogo, Videla fez jus ao sobrenome infame e quase matou o boquense Pérez; no segundo tempo, um vidro de PERFUME foi jogado na direção do goleiro Orion.

Saudades do Impedimento onde a gente podia CAPSLOCKAR à vontade (ns).
Franke disse…
Acho que o momento mais importante do Grêmio foram os cerca de 10 minutos entre levar o 2 a 1 e ampliar pro 3 a 1. Não fosse o gol de Sir Walace, o jogo provavelmente teria se tornado uma PESADILLA.
Chico disse…
E quem diria que no grupo da morte o Tricolor conseguiria se classificar com uma rodada de antecedência.

Tricolor quebra tabu e é o primeiro time brasileiro a vencer a LDU em Quito.

Wallace, o Pogba dos pampas.

Vitória de time copeiro.

E o Calleri calou o dodóilessandro.
Vine disse…
Achei que o Simeone tocasse o terror no Barcelona. Provavelmente fiquei com essa impressão pela eliminação em 2014 e o título espanhol.
Vicente Fonseca disse…
Franke, com certeza. Tu vê a força de um time justamente no modo como ele reage à adversidade. Aquele gol do Walace foi o lance mais importante (e bonito) do jogo de ontem.

Chico, na verdade o Sport já havia vencido a LDU em 2009 pelos mesmos 3 a 2. O Cruzeiro, se não me engano, também ganhou lá nos anos 70. Fora isso, acho que o Grêmio é o outro brasileiro a ter ganhado mesmo deles lá. Não é o primeiro, mas é raro mesmo.

Pois é, Vine, de fato temos essa impressão por conta de 2014. Mas tava circulando a estatística de que o Atlético era freguesaço do Barça recentemente, em termos de partidas vencidas. As importantes, porém...
Anônimo disse…
Cabe destacar que muito se deveu ao tempo de preparação antes do jogo. Inclusive achei uma matéria bacana sobre isso:

http://globoesporte.globo.com/rs/futebol/times/gremio/noticia/2016/04/analise-gremio-ataca-itens-pedidos-por-roger-e-vence-ldu-nos-treinos.html

Tiago
Vicente Fonseca disse…
Sem dúvida. Essa questão de ter viajado antes, dos chutes no canto direito do Domínguez, tudo isso faz diferença. Baita trabalho do Roger e toda comissão técnica.
Franke disse…
Vi o segundo tempo de ATL x BAR ontem e achei impressionante a incapacidade do Barcelona se sufocar o adversário. Pareceu um time curiosamente impotente. Uma coisa é o toque-toque quando estão em vantagem, outra é tendo que buscar resultado adverso. Eles devem ter conseguido fazer isso recentemente, mas não lembro.
Vicente Fonseca disse…
Acho que faltou frieza ao Barcelona ontem. Ontem e semana passada: afinal, é bom lembrar que no Camp Nou o time foi extremamente bem marcado pelo Atlético e só chegou à virada porque o adversário teve um jogador injustamente expulso. Faltou agudez, sim.

Engraçado: não acho esse time tão chato de ver jogar como a Espanha de 2008-12, por conta desse trio de ataque letal e vertical. Mas, com o MSN muito bem marcado, o Barça virou uma Espanha 2014 ontem, digamos assim.