O Flamengo já subiu de patamar com Guerrero. Só precisa não depender tanto dele

Marcelo Grohe falha na saída pelo segundo jogo seguido: Fla 1 a 0
Poucos ligavam para o fato de o Flamengo entrar em campo com metade dos pontos do Grêmio na tabela do Campeonato Brasileiro. A estatística que importava antes do jogo de ontem era a de que o Rubro-Negro, com Paolo Guerrero no ataque, tinha 100% de aproveitamento, com duas vitórias ao natural, fora de casa, diante de Internacional e Náutico. Não havia qualquer favoritismo gaúcho, ainda mais porque mais de 50 mil pessoas se fizeram presentes: somente a expectativa de um grande jogo, plenamente cumprida, e decidida pelo peruano - mais dentro do script ainda.

É fato que o elenco reduzido do Grêmio começa a sentir fisicamente o desgaste pela sequência forte de jogos, mas isso não invalida o crescimento do Flamengo com o bi-artilheiro da Copa América. A mudança não apenas técnica, mas anímica da equipe, é visível. Exposta devido à combatividade nula de Emerson Sheik, a defesa formada por Marcelo e Wallace foi ontem tão brilhante quanto Guerrero, ganhando todas as divididas por cima e a grande maioria por baixo. Mais uma vez, o cansaço dos gaúchos era evidente, e isso colaborou. Mas não se pode negar a boa atuação rubro-negra, a mais consistente da equipe de Cristóvão Borges em todo o Brasileirão.

Servindo de referência física, tática e técnica na frente, Guerrero tem o poder de coordenar todo o sistema ofensivo do Flamengo. Se antes o elenco se ressentia da falta de um meia centralizado, ontem Éverton fez uma de suas melhores partidas na temporada jogando nesta função. A dupla já havia funcionado bem em Porto Alegre, como o golaço que definiu a vitória sobre o Inter deixou claro. Pelos lados, Sheik e Marcelo Cirino dão qualidade técnica, servindo como opção de tabela ao peruano, e ainda possuem poder de fogo para definir. Nada disso é possível ou faz sentido, porém, sem Guerrero. Mesmo com então apenas um jogo pelo Flamengo, já havia ficado visível como o time estava sendo montado para ele na derrota vexatória para o Corinthians no Maracanã, onde sua ausência foi um verdadeiro desastre. A campanha sem ele é de rebaixado; com ele, ainda que muito cedo, de campeão. Poderá ser de G-4, quem sabe, se ele mantiver o nível.

Mas é claro que, antes de qualquer empolgação, é preciso salientar que há problemas. Alguns Cristóvão corrigiu durante o jogo: sem qualquer combatividade na saída de bola adversária, Emerson Sheik permitiu que Galhardo, Luan e Giuliano fizessem a festa em cima do lateral Jorge no primeiro tempo. A troca de posição entre Sheik e Cirino dificultou a vida do Grêmio de jogar pelos lados. Já sem o apagado Douglas, Giuliano jogou centralizado no segundo tempo, e caiu de produção. Ainda assim, em termos coletivos, o Grêmio nunca foi inferior ao Flamengo. É um time mais bem montado, mais bem acabado, de sentido coletivo muito superior. Foi superado na base da individualidade, da falta de boas opções no banco e de erros causados pelo cansaço de seus melhores jogadores.
Cadê o Emerson Sheik? Jorge é obrigado a sair para combater Galhardo, deixando Luan livre às suas costas. Este será marcado por Wallace, que também precisará se deslocar, deixando o meio da área livre. Na jogada, Luan recebe e toca para Galhardo invadir a área e chutar no travessão, às costas de Wallace. Pelo outro lado, notem que Marcelo Cirino está na linha de marcação correta, cumprindo sua função tática defensiva, ao contrário de Sheik
O Tricolor, mesmo assim, fez o pior de seus últimos jogos: desgastado, afunilou demais, errou passes demais, concluiu mal demais e criou menos do que pode e costuma. É um time organizado, que, embora venha oscilando, deve manter uma campanha segura: não foi dominado pelo Flamengo, exceto nos primeiros 10 minutos de jogo. Foi um jogo equilibrado, com o Fla melhor também porque mais animado. Animado por causa de seu centroavante, o melhor em atividade no nosso continente.

O cuidado, de agora em diante, é para que a dependência, em qualquer sentido que se analise, seja menor, para não prejudicar o time. Ausências em um campeonato tão longo, ainda mais para um jogador de seleção como Guerrero, serão frequentes. O desafio de Cristóvão não é achar um modo de jogar para o peruano, mas sim um modo seguro de atuar sem ele.

Comentários

Anônimo disse…
Pelo Grêmio, penso que o time se ressente da falta de opções no banco. Por apagado que estivesse, trocar Fernandinho por Douglas acrescentou quase nada, p.ex. Porém, tudo indica que o elenco vai ser esse mesmo, com no máximo um ou dois acréscimos. E por isso a boa sequência anterior foi fundamental, até porque o desgaste também vai pegar os outros times.

A minha dúvida agora é que time vai a Criciúma, e como o Roger vai lidar com as competições paralelas (copa do Brasil ou sul-americana).

Tiago
Chico disse…
Romildo podia ajudar um pouco o Roger e contratar um centroavante de verdade.
Vicente Fonseca disse…
Tenho quase certeza de que o time que vai a Criciúma será titular. Mesmo que não faça tanta diferença em termos de chances de um título, por causa da bizarrice da Sul-Americana, ser eliminado da Copa do Brasil por uma equipe inferior é um peso. O Inter se perdeu no ano passado quando foi eliminado pelo Ceará, lembremos.