De virada em virada, o Belgrano surpreende a Argentina



Un equipo que nunca va a bajar los brazos. Assim definiu a transmissão argentina o Belgrano, a principal surpresa do campeonato de 2015. O contexto naquele momento do jogo contra o Banfield era claro: fora de casa, a equipe de Córdoba perdia por 1 a 0, mas já havia criado ao menos cinco chances claras na etapa final. Estava próxima de um empate, ou mais: de uma virada. No certame todo tem sido assim. E foi assim mais uma vez.

Ricardo Zielisnki faz um trabalho de longo prazo no Gigante de Alberdi, algo que não conta com precedentes tão recentes no futebol brasileiro. Já são quase cinco anos por lá. Era ele o técnico no famoso duelo com o River Plate, que subiu a equipe celeste para a primeira divisão e rebaixou os millonarios para a segunda, fato que completou quatro anos há cerca de um mês. Daquela equipe seguem como titulares o goleiro Olave (uma lenda do clube cordobês), o zagueiro Pérez e o volante Farré.
O lance da virada em duas imagens: oito jogadores do Belgrano defendem a equipe. A bola é roubada....
...e o contra-ataque é armado. Em 11 segundos, já há cinco atletas pegando o Banfield de calça curta e servindo como opção no campo de ataque. O lance termina com pênalti, e mais uma virada consolidada
Depois de anos alternando campanhas na primeira divisão, mas sem jamais correr risco de cair, o Belgrano parece ter atingido a maturidade para dar o passo adiante em 2015. Passada mais de metade do campeonato, a campanha é excelente: 33 pontos em 17 jogos, um aproveitamento de 64,7%. Distância frouxa de seis pontos para o Tigre, o primeiro clube fora da zona de classificação para a Libertadores, e apenas três atrás do San Lorenzo, o líder, que ontem goleou o Arsenal de Sarandí por 3 a 0.

A campanha se destaca pelas viradas. De fato, essa é uma marca que justifica a frase da narração do jogo de ontem, e que, muito mais que uma coincidência, caracteriza o time de Zielinski. Foram cinco, quatro delas fora de casa. Em 17 partidas, a equipe de Córdoba saiu perdendo em nove delas, a maioria, mas conseguiu reverter a desvantagem em cinco, também a maioria. E olha que muita gente grande foi batida. A primeira vítima foi o Independiente, em Avellaneda; a seguir vieram Vélez e Sarmiento, antes do Banfield. Em casa, o Argentinos foi superado na semana passada, com um golaço de falta do zagueiro Pérez aos 49 da etapa final. O Quilmes também foi derrotado em Córdoba com um gol nos acréscimos - mas aí sem uma remontada.

Se dentro do Estádio Kempes o desempenho é de 66,7%, fora dele é de 62,5%. A campanha em casa é boa, mas fora é excepcional. A dominação exercida ontem em Lomas de Zamora no segundo tempo, em busca da virada, foi impressionante. Zielinski não teve medo de mudar a formação tática da equipe na etapa final e empurrar o Banfield contra seu campo. Algo que só uma equipe madura e de grande personalidade é capaz. O Belgrano pode não ser considerado um dos grandes argentinos em termos históricos, mas vem jogando como um deles, com a faca nos dentes e muita confiança, desde o início da temporada.

Zelarayán comemora o golaço: el Pirata sigue sumando - y remando
Mas não é apenas o sangue nos olhos que caracteriza o time celeste. A equipe é extremamente entrosada, bem treinada e técnica do meio pra frente. Lucas Zelarayán não foi cogitado no começo do ano pelo Grêmio à toa: é o principal jogador da equipe, e um dos melhores do campeonato. No 4-4-1-1 de Zielinski, ele faz o clássico enganche argentino, aproximando os volantes Farré e Prediger (de saída tão constante quanto surpreendente e qualificada de trás) do centroavante Óbolo e colocando os meias abertos para fazer a diagonal frequentemente. Além disso, é extremamente técnico na hora do arremate, como o gol de empate ontem, disponível no vídeo acima, deixa muito claro. A equipe acaba de contratar o volante Mario Bolatti, de passagem apagada pelo Internacional entre 2011 e 2012. Num esquema onde os dois centromédios têm liberdade para sair com frequência, ele pode se encaixar bem. Mas vai ser difícil colocar Farré e Prediger na reserva neste momento, pelo rendimento de ambos. O certo, porém, é que vai ganhando corpo também em termos de elenco.
O móvel 4-4-1-1 de Zielinski

Mas esta equipe surpreendente tem condições de disputar o título argentino? A resposta saberemos nas próximas semanas. O Belgrano terá pela frente uma duríssima sequência de jogos nas próximas quatro rodadas, enfrentando Boca (casa), Racing (fora), Tigre (casa) e Rosario Central (fora), todos ocupantes das sete primeiras posições do campeonato. Mantendo-se firme entre os primeiros nesta sequência, o restante da competição será mais suave, e aí a tendência é de chegar nas cabeças. Os dois primeiros garantem vaga direta à Libertadores, e os quatro subsequentes jogam play-offs que definirão os dois outros classificados. A equipe de Córdoba já terá uma experiência continental jogando a Sul-Americana neste segundo semestre. Isso pode dividir atenções com o campeonato, mas também dar a experiência continental que falta ao clube para a Libertadores do ano que vem, o grande objetivo em Alberdi.

Portanto, ojo con o Pirata. E é bom não sair comemorando o primeiro gol contra eles com tanta confiança assim. O recado não vale apenas para os argentinos, mas para toda a América do Sul.
Nada de cansaço: são 25 minutos do segundo tempo, mas quatro jogadores mordem a saída de bola do Banfield. O centroavante Óbolo desarma, o volante Prediger articula e o atacante Márquez arranca e bate com perigo para fora. O lance caracteriza o time de Zielinski: compactação, marcação cerrada, velocidade na transição e jogadores exercendo múltiplas funções em campo

Comentários

Marcos Bernaola disse…
Enorme analise ! Muito obrigado pelo seguimento do time rodada a rodada.. Faz 5 anos que o Belgrano vem melhorando suas experiencias (com campanhas melhores e piores) sempre mantendo os pontos fortes do seu estilo Zielinsky. Time compacto e curto, muita concentraçao e colaboraçao em todas as linhas, contraataque rapido e muita contundencia no gol adversario (isso aqui é o que as vezes determina se o time briga na cima ou nao). Esperemos nos manter no mais alto. Já conseguimos 2 vicecampeonatos neste regreso a Primera e agora podemos lutar pela vaga na Libertadores. O Bolatti vem só a reforzar, mesmo sendo um cara saído do clube (Foi um dos melhores no retorno a Primera no ano 2006) porque Prediger e Farré bem jogando muito nesse ano. Suertes! Genial publicación, como siempre Vicente hehe.
Vicente Fonseca disse…
Muito obrigado pelo elogio, meu caro. Gosto muito de acompanhar o Campeonato Argentino, e tem sido uma grande alegria ver o Belgrano em um nível tão alto como neste ano. Que se mantenha desta maneira!