Tanto cuidado para... isso?
Poucas vezes o Grêmio se preparou tanto para ganhar a Libertadores. Contratou reforços de peso, montou um dos melhores elencos da América do Sul, fez duas intertemporadas para jogos na altitude, abriu mão do estadual, já previa escalar juniores na estreia do Brasileirão... Nada mais poderia ser feito. Aliás, poderia: jogar o que dele se esperava.
Em Bogotá, o Grêmio adotou a estratégia mais arriscada possível: a de não arriscar absolutamente nada. Passou o jogo inteiro cozinhando o Santa Fé, mas do modo errado: sem posse de bola, com jogadores de setor ofensivo longe um do outro, dando chutões e não pegando nenhum rebote. Contava, para a classificação, com o resultado magro do jogo de ida, com a limitação técnica do adversário e com o tempo que corria. É muito pouco. Foi muito pouco.
A partida de hoje não foi uma exceção na irregular Libertadores gremista, tampouco foi a pior atuação do time na competição. Isso é o mais grave: com todo o investimento feito e preparação dedicada, era obrigação do Grêmio render muito, muito mais. Não só hoje, mas em toda a campanha. Ficar uma semana apenas treinando em Bogotá, se adaptando à altitude, treinando jogadas ensaiadas e jogar tão pouco é algo simplesmente inaceitável. Jogar se defendendo os 90 minutos diante de um adversário tecnicamente inferior é uma estratégia equivocada, mesmo que porventura a equipe tivesse suportado o 0 a 0. Mas não suportou, como normalmente acontece nesses casos.
Quase deu certo porque o próprio Santa Fé não jogou bem. Wilson Gutiérrez errou ao escalar três atacantes desde o início. Seu time não pressionou o Grêmio no primeiro tempo e só melhorou no segundo a partir da entrada do meia Molina, formando um equilibrado 4-4-2. O time colombiano viveu seu melhor momento no jogo entre os 15 e os 25 do segundo tempo. Quando o Tricolor já equilibrava o jogo, sofreu o gol. Roger demorou a mexer (era jogo para Kleber entrar e segurar a bola no lugar do esgotado Barcos, por exemplo). Foram erros demais. E a bola do jogo caiu nos pés de Eduardo Vargas, um jogador que é contratado por empréstimo num grande esforço para decidir nos momentos fatais. Seu chute, porém, caberia nos pés de qualquer centroavante de segunda linha, caindo em alguma avenida de Bogotá. Não é privilégio dele: Cris, o zagueiro que veio para dar experiência à zaga, foi expulso de forma juvenil duas vezes. A segunda resultou no gol qualificado na Arena, o gol que realmente eliminou o Grêmio da Libertadores. Grêmio que se preparou certo, mas não deu certo.
Muitos jogadores vieram no começo do ano, sendo normal o time demorar um pouco até encaixar. O problema é que o encaixe, se vier, já será tarde demais, ao menos em termos de Libertadores - e ela não é a única competição da temporada, é sempre bom lembrar. Não é necessário, nem salutar, realizar qualquer tipo de terra-arrasada: o elenco está entre os melhores do país e pode disputar o título brasileiro sob o comando de Luxemburgo, um técnico que sabe disputar competições por pontos corridos. O signo da continuidade tem se imposto no futebol brasileiro nos últimos anos, e recomeçar tudo do zero seria diminuir demais as chances de sucesso no segundo semestre. Agora é a hora de ver se o Grêmio, que se preparou tão bem para a Libertadores (embora tenha fracassado nela), se preparou também para o resto da temporada ou cometeu os mesmos erros de 2009 e 2011, quando desabou após cair da Copa.
De qualquer forma, muita coisa no trabalho precisa ser revista, repensada, a começar pelo posicionamento de Vargas e a busca por uma zaga mais segura. O Grêmio ainda não apresentou padrão de jogo com regularidade, alterna demais. E paga isso vendo, de Porto Alegre, melancolicamente, um duelo entre os médios Santa Fé e Real Garcilaso por uma vaga numa semifinal de Libertadores, lugar que era o mínimo que se esperava que este time caro e cheio de tantas expectativas chegasse.
Comentários
Concordo que os vários reforçoes que vieram em meio a competição precisariam de tempo para se encaixar, porém, a melhor atuação desse time foi justamente na estreia desses reforços. Do jogo com o Fluminense até agora, não se viu nenhuma melhora.
Tenho sérias dúvidas se a manutenção do Luxa é o melhor caminho...
Ah, e antes tivéssemos perdido sem aquele lance do Vargas no final. Aquele gol perdido só aumenta a dor pela derrota...
Quanto à campanha na Libertadores, acho que melhorar em relação ao jogo com o Fluminense é praticamente impossível, pois foi uma atuação realmente perfeita. O negócio era manter um nível alto, e isso o Grêmio nunca conseguiu. Mostrou em alguns jogos que tinha potencial altíssimo, mas fracassou em outros de forma infame. É um time tipicamente em formação, muito irregular. O triste não é jogar mal, é abdicar de jogar, como hoje à noite. Isso sim é inaceitável e ERRADO, em termos de postura num mata-mata, ainda mais contra um time inferior. Nivela-se o jogo por baixo, entra-se no jogo do adversário.
Eu também concordava que o Luxa não deveria sair. Mas, declarações como a de mais um empresário familiar (Barcos), no pós jogo, demonstram um vestiário em crise. Aí, talvez, se explica a seqüência de atuações tão fracas...
Veremos...
De qualquer forma, a pressão para sua saída vai ser intensa. O descontentamento é geral. Isso costuma pesar. O começo de Brasileiro do Grêmio será decisivo neste sentido.
Bombeiros, MP, OAS e o caralho a quatro devem estar felizes. Conseguiram acabar com o nosso fator local e, assim, eliminar o Tricolor.
Manter o luxemburro??? Tão brincando comigo. É só fiasco com essa merda. luxemburro é um Autuori com grife. Só tá enrolando e ninguém vê isso?
Quanto ao Luxemburgo, eu discordo de ti, pois acho que ele foi bem ano passado, mas entendo a indignação.
Uma alternativa que me parece possível seria alçar o Roger a técnico do time. Ele já conhece o elenco, parece ter o respeito do grupo e tem identificação com o clube. Mas não sei se vale o risco de queimá-lo junto à torcida, caso o trabalho não encaixe logo.
Enfim, agora é brasileiro, copa do brasil (que nem sabia que disputaríamos) e buscar LA copa em 2014.
Acho que ele não se queima, Kleiton. Outros ídolos (Renato, De León, no caso do Inter Fernandão e Falcão) já fizeram trabalhos médios ou ruins como treinadores no Grêmio e seguem de bem com a galera. Acho que a torcida separa bem a figura do ícone dentro de campo com o não tão bem sucedido fora dele, quando dá errado.
Não seria nenhuma surpresa se caísse, mas acho que ele será o treinador durante o Brasileiro.
É isso a origem de tudo o que mina o Grêmio. Uma briga política que evita a continuidade em tudo no clube. Duda Kroeff começou com o treinador de Odone em 2009, e o demitiu; Odone começou com o treinador de Duda em 2011, e o demitiu; Koff começa com o treinador de Odone em 2013...
Aí o time cai na Libertadores e o ano acaba. Recomeça tudo do zero para... buscar a vaga na Libertadores, claro. E cair nela de novo. E recomeçar. De novo.
É muito círculo vicioso pra um clube só. Falam de Celso Roth, mas é o Grêmio quem mais se auto-boicota, há anos. Talvez os urubus só comam a carne de quem tá morto mesmo, Sancho.
Mas o que mais me incomoda é a sensação de que ele talvez não esteja tão interessado assim em conquistar o título. Me parece que ficaria plenamente satisfeito apenas com mais uma vaga na Libertadores. E disso nós estamos cansados. Não dá mais pra ficar comemorando vaga.
Esse é o problema. Quem nos garante que Luxa não fará, em algumas situações, o time adotar a mesma postura covarde de ontem, com o pensamento de garantir uma terceira ou quarta colocação, sem querer correr os riscos necessários para disputar o título?
Acho que o grande problema do Luxemburgo até agora no Grêmio tem sido a postura fora de casa nos mata-matas. É aí que ele mais peca. No Brasileiro de 2012, o Grêmio jogava até melhor fora que no Olímpico, e acho que a grande campanha passou muito por aí. É também em virtude disso que acho que ele é a melhor opção para seguir treinando o Grêmio ao menos até o fim do ano.
No lugar de Luxemburgo, só Tite, Mano e, talvez, Muricy. O resto é piada.
Não consigo lamentar tanto assim o gol perdido do Vargas, pois ele bem ou mal me pareceu um dos melhores em campo do Grêmio. No primeiro tempo, as únicas chances foram dois chutes dele (só um com real perigo). De resto, lamento muito mais a falta de ação durante 90% do tempo que um erro pontual, que acontece até com um Baggio.
Dia desses vento um jogo do Grêmio eu notei que só havia dois um três jogadores que estavam em campo no ano passado. Eu acho ótimo que a direção busque reforços, mas para mim o Grêmio de 2013 não tem cara. O Grêmio de 2012 tinha no papel menos time, mas era um time. E não tem como querer ganhar Libertadores, um campeonato tão sanguíneo como todos sabemos que é, com nome de jogadores. O Grêmio foi artificial demais, algo que, para mim, tem sido a tônica desde 2002: montar times à força.
De resto, sou e sempre fui contra Luxemburgo. Sou totalmente a favor da demissão. Acho que ele é um grande treinador, mas antes ou também um grande marketeiro. Nós não precisamos de pessoas assim. Sou mais o Roger.
E em tempo: por mais que eu tenha ficado triste e decepcionado ontem, admirei e respeitei demais o atacante do Santa Fé que marcou o gol. Após jogar a bola nas redes, o cara correu e desabou perto da torcida comemorando. No retorno ao jogo, ele veio chorando. Time que tem jogador assim merece passar.
Também acho a maior injustiça colocar na conta do Vargas a eliminação, pois ele foi um dos melhores ontem e disparado o melhor no jogo aqui da Arena. Mas é duro investir caro num jogador do nível dele pra na hora agá o cara dar um bico de forma displicente, pro alto, sem nem tentar ajeitar a bola para finalizar. Erro de jogador de segunda linha, coisa que ele definitivamente não é.
Sobre a falta de cara do time: em 2012, ela veio mesmo no segundo semestre, com Elano e Zé Roberto. No primeiro, o meio tinha Léo Gago e Marco Antônio de titulares. Mas concordo: no ano passado, mesmo mais fraco no começo da temporada, o time era bem mais organizado que agora. De todo modo, acho sempre mais difícil tu montar sem bons jogadores do que sem mobilização ou "pegada". Mobilizar um cara é possível, lhe dar talento não.