Mucho huevo

Foi assim que o meia Zeballos definiu a atuação do Olímpia no Rio de Janeiro. Um time extremamente experiente, que possui figuras como Martín Silva, Orteman, Maxi Biancucchi e a raposa Gerardo Pelusso na casamata, dominou os minutos iniciais e fez sempre um enfrentamento duro com o Flamengo, mesmo quando perdia por 3 a 0. Em 12 minutos, os paraguaios mostraram mesmo que têm "aquilo roxo". E proporcionaram a Joel Santana e ao Rubro-Negro mais uma tragédia em Libertadores, desta vez de proporções não tão catástróficas, mas ainda assim de alto impacto.

Em Libertadores, é sempre obrigação respeitar o adversário, ainda mais se tiver a tradição que tem o Olímpia. Olhando time por time, a diferença técnica entre as equipes que entraram em campo hoje não justificaria nenhum tipo de "marra" dos cariocas: o Flamengo é um time médio, cheio de jogadores apenas razoáveis, mas com um ótimo atacante (Vagner Love) e um ex-fora de série a seu lado, que de vez em quando está a fim de jogar e desequilibra. Hoje, ele quis.

Mesmo assim, a equipe paraguaia marcava bem. Zeballos e Fabio Caballero faziam ótimo trabalho de contenção que impedia Thomás e Bottinelli de abastecerem os atacantes. Vagner Love, então, foi buscar o jogo, e assim surgiu o primeiro gol, na individualidade, que é a forma que o Flamengo tinha de furar a defesa paraguaia: Love fez jogada sensacional e deixou Bottinelli na cara de Martín Silva. Com categoria, o argentino encobriu o goleiro e abriu o placar.

O segundo tempo começaria ainda em aberto, mas o Flamengo cresceu com o gol e passou a dominar o jogo. Ronaldinho marcou o segundo, de pênalti, e acordou de vez, para azar do Olímpia. Fez passe excepcional para Luís Antônio marcar o terceiro, aos 17, numa enfiada que só os craques conseguem. A partida parecia definida: com um 3 a 0 imposto com autoridade, o Fla tinha ótimo desempenho e havia colocado o bom time do Olímpia contra a parede, como devem fazer os bons mandantes numa Libertadores.

Aí veio a pane. Zeballos, que entrara no lugar do volante Aranda, marcou um golaço de falta, uma pancada no ângulo de Paulo Victor. O Olímpia nunca desistiu do jogo. Mesmo quando levava 3 a 0, Pelusso abriu o time em busca do empate. A entrada de Zeballos foi só a primeira providência neste sentido. Marcando o primeiro, o time paraguaio se animou, e tinha gente para atacar. Foi encurralando o Flamengo, que assistiu a tudo, atônito.

Quando o bom centroavante Luis Caballero marcou o segundo, em jogada pessoal, aos 39 minutos, o cheiro de tragédia veio com força. A eliminação para o América/MEX, em 2008, era a lembrança imediata. Joel Santana na casamata era um mau agouro. Pois, aos 43, Maxi Biancucchi (ex-Flamengo) lançou Marín na área. O carequinha chutou cruzado e empatou o jogo.

Tem huevos mesmo este Olímpia. Candidato a se classificar num dos grupos mais difíceis da Libertadores. A expressão de perplexidade estava estampada no rosto de todos os jogadores flamenguistas. Ninguém, principalmente Joel Santana, parecia acreditar quando o chute de Marín encontrou as redes. Clima de velório mesmo.

O Flamengo tinha tudo para deslanchar hoje. Venceu bem o Fla-Flu no fim de semana e ia goleando o Olímpia, mas este empate com sabor de derrota freia tudo. A equipe ainda lidera, com 5 pontos, mas já jogou duas em casa e agora atuará duas vezes longe do Rio, contra Olímpia e Emelec. A distância para os equatorianos, lanterna, é só de dois pontinhos. Olímpia e Lanús têm 4. O resultado, de certa forma, compensou o ponto achado na Argentina, quando a equipe escapou de perder para o Lanús, que amassou o Mengão.

Taça Libertadores da América 2012 - Primeira Fase - Grupo 2 - 3ª rodada
15/março/2012
FLAMENGO 3 x OLÍMPIA 3
Local: Engenhão, Rio de Janeiro (RJ)
Árbitro: José Buitrago (COL)
Público: 30.755
Renda: R$ 695.114,00
Gols: Bottinelli 37 do 1º; Ronaldinho (pênalti) 13, Luís Antônio 19, Zeballos 31, Luis Caballero 39 e Marín 43 do 2º
Cartão amarelo: Galhardo, Bottinelli, Negueba, Silva, Romero, Aranda, Fabio Caballero, Marín e Orteman
FLAMENGO: Paulo Victor (6), Galhardo (4,5), González (4), David Braz (5) e Júnior César (5,5); Muralha (5), Luís Antônio (6), Bottinelli (6,5) e Thomás (5) (Negueba, 32 do 2º - sem nota); Ronaldinho (7) e Vagner Love (6,5). Técnico: Joel Santana (5)
OLÍMPIA: Silva (5,5), Najera (4,5), Romero (5,5), Arioza (5,5) e Meza (5); Aranda (4,5) (Zeballos, 18 do 2º - 7), Fabio Caballero (5,5), Marín (6,5) e Orteman (5) (Hoebcker, 28 do 2º - 6); Maxi Biancucchi (6) e Luis Caballero (6) (Candía, 45 do 2º - sem nota). Técnico: Gerardo Pelusso (6,5)


Comentários

Igor Natusch disse…
O mais bizarro é que, quando saiu o segundo gol, simplesmente não havia dúvida de que sairia o terceiro. A apatia flamenguista em campo era assustadora. Um time apavorado.
Vicente Fonseca disse…
Exatamente, Igor. Deu essa impressão muito claramente mesmo.