O santo mais humano do futebol brasileiro
Na contramão do que muitos falarão a partir de agora, não considero Marcos incontestável. Pelo contrário: toda a graça deste personagem singularíssimo do futebol brasileiro está no fato de ele ser, essencialmente, humano. Um homem que não tenta ser perfeito. Um grande goleiro, mas não perfeito, que faz milagres e toma frangos. Que explode de alegria e chora. Que fala de cabeça quente, que larga o jogo de mão quando ninguém acerta nada, que tenta fazer gol de cabeça na área adversária no meio do segundo tempo, tão palmeirense que é. Um homem sincero o suficiente para tomar cafezinho encostado na trave quando o jogo está muito fácil.
Sua trajetória também é de um humano. Um notável humano. Marcos só se firmou como titular do Palmeiras a partir de uma lesão de Velloso, no final de 1998. Tinha 25 anos. Ficou oito anos no clube até se tornar titular, tal qual Rogério Ceni, que "sofria" com Zetti no São Paulo. Ganhou o apelido de São Marcos na Libertadores de 1999, na qual, aliás, era o camisa 12 porque não começara o ano como titular. Eternizou-a como se fosse a 1. Pegou pênaltis milagrosos na decisão contra o Deportivo Cali, que deu o título ao Verdão. Meses depois, falhou na decisão do Mundial Interclubes, justamente no gol do título do Manchester United sobre o Palmeiras. Não foi crucificado, mas aplaudido pela torcida mesmo assim.
Porque Marcos sempre foi autêntico. Sua lealdade ao Palmeiras ressaltou-se em 2002, quando recusou proposta do Arsenal após o penta para ficar no Palestra Itália. Novamente, em seis meses foi do céu ao inferno: ganhou a Copa do Mundo como titular da seleção para voltar ao Brasil e ser rebaixado à Série B com o Palmeiras. Disputou a Segunda Divisão no ano seguinte, claro. Mas nunca mais manteve a regularidade: passados os seus 30 anos, lesionou-se demais. Houve temporadas em que mal fardou. Não foi um goleiro de carreira impecável, não esteve sempre no auge. Foi sempre humano: teve altos e baixos, alguns muito altos, outros muito baixos. Mas sempre foi autêntico. Um grande caráter.
Marcos é humano. Por isso tantos se identificam com ele, mesmo os que não torcem pelo Palmeiras. Sentirei falta de Marcos. O futebol brasileiro sentirá falta de Marcos. E, claro, ss palmeirenses sentirão muita falta de Marcos. Afinal, um pouco do Palmeiras morreu ontem.
Comentários
Grande texto!
Apesar dos altos e baixos, uma referência como arqueiro... Fechou o gol na final da copa.
Abraços...
Abração.