O santo mais humano do futebol brasileiro

O goleiro Marcos completará 39 anos em agosto. Fechou 20 de Palmeiras, mais da metade de sua própria vida. A aposentadoria anunciada ontem fecha não apenas um longo ciclo do eterno camisa 12, mas sempre titular no coração da torcida alviverde: ela representa o fim de uma era no Palmeiras, clube que precisa se renovar à força em diversos sentidos, e não apenas no plantel, como a saída do eterno arqueiro sugere.

Na contramão do que muitos falarão a partir de agora, não considero Marcos incontestável. Pelo contrário: toda a graça deste personagem singularíssimo do futebol brasileiro está no fato de ele ser, essencialmente, humano. Um homem que não tenta ser perfeito. Um grande goleiro, mas não perfeito, que faz milagres e toma frangos. Que explode de alegria e chora. Que fala de cabeça quente, que larga o jogo de mão quando ninguém acerta nada, que tenta fazer gol de cabeça na área adversária no meio do segundo tempo, tão palmeirense que é. Um homem sincero o suficiente para tomar cafezinho encostado na trave quando o jogo está muito fácil.

Sua trajetória também é de um humano. Um notável humano. Marcos só se firmou como titular do Palmeiras a partir de uma lesão de Velloso, no final de 1998. Tinha 25 anos. Ficou oito anos no clube até se tornar titular, tal qual Rogério Ceni, que "sofria" com Zetti no São Paulo. Ganhou o apelido de São Marcos na Libertadores de 1999, na qual, aliás, era o camisa 12 porque não começara o ano como titular. Eternizou-a como se fosse a 1. Pegou pênaltis milagrosos na decisão contra o Deportivo Cali, que deu o título ao Verdão. Meses depois, falhou na decisão do Mundial Interclubes, justamente no gol do título do Manchester United sobre o Palmeiras. Não foi crucificado, mas aplaudido pela torcida mesmo assim.

Porque Marcos sempre foi autêntico. Sua lealdade ao Palmeiras ressaltou-se em 2002, quando recusou proposta do Arsenal após o penta para ficar no Palestra Itália. Novamente, em seis meses foi do céu ao inferno: ganhou a Copa do Mundo como titular da seleção para voltar ao Brasil e ser rebaixado à Série B com o Palmeiras. Disputou a Segunda Divisão no ano seguinte, claro. Mas nunca mais manteve a regularidade: passados os seus 30 anos, lesionou-se demais. Houve temporadas em que mal fardou. Não foi um goleiro de carreira impecável, não esteve sempre no auge. Foi sempre humano: teve altos e baixos, alguns muito altos, outros muito baixos. Mas sempre foi autêntico. Um grande caráter.

Marcos é humano. Por isso tantos se identificam com ele, mesmo os que não torcem pelo Palmeiras. Sentirei falta de Marcos. O futebol brasileiro sentirá falta de Marcos. E, claro, ss palmeirenses sentirão muita falta de Marcos. Afinal, um pouco do Palmeiras morreu ontem.


Comentários

Lourenço disse…
Sou fã do Marcos. Era um grande goleiro mas, na linha do que tu disse, sempre o considerei o melhor goleiro frangueiro do Brasil. Ele tinha seus apagões e nos últimos muitos anos ficou entre lesões, falhas e algumas boas atuações. Mas o Marcos até 2002, suficiente para ganhar Libertadores, Mercosul e Copa do Mundo, é mais do que suficiente para dizer que se trata de um goleiro que não temos igual no futebol brasileiro de hoje. Na época do São Marcos, considerava Dida um pouco superior, mas os dois entravam na lista dos 5 melhores goleiros do mundo da época. E jogavam aqui no Brasil.
Vicente Fonseca disse…
O fato mais inacreditável da carreira dele pra mim foi ter tido aquela atuação patética diante do Vitória, em abril de 2003, menos de um ano depois de fechar o gol na Copa de 2002. Jogador de contrastes. Grande figura, grande goleiro.
Paul disse…
Belo texto professor.
Vicente Fonseca disse…
Gracias, meu caro. Os ares litorâneos inspiram. hehe
Marcus Staffen disse…
Vicente,

Grande texto!

Apesar dos altos e baixos, uma referência como arqueiro... Fechou o gol na final da copa.

Abraços...
Vicente Fonseca disse…
Valeu Marcus! Concordo contigo, teu tocaio matou a pau em 2002.

Abração.