Mário Fernandes foge à razão
Dois aspectos destacam-se imediatamente na situação que culmina com a aparente desistência de Mário Fernandes em apresentar-se à seleção brasileira. Uma decisão que, aliás, contradiz algo dito pelo atleta gremista há poucos dias: brincando, comentou com repórteres que não fugiria da seleção como fez antes de entrar nos profissionais do Grêmio. Não só fugiu, como seguiu um padrão muito semelhante ao de sua primeira tentativa de deserção - e esse é o primeiro ponto que julgo relevante destacar.
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Não é de hoje que Mário Fernandes dá sinais de desequilíbrio emocional e/ou psicológico. Trata-se, todos o sabem, de excelente jogador. Mas não são raros (nem recentes) os relatos de que o jovem atleta é uma pessoa, digamos, incapaz de controlar seus impulsos. Lembram do recado do Silas dizendo que o jogador "precisava tomar café da manhã" - um eufemismo para dizer que o jogador não respeitava os horários de repouso, às vezes chegando para treinar virado da noite anterior? Aliás, a primeira informação era de que Mário tinha perdido o voo para Belém por optar pela balada no domingo à noite, ao invés de deitar cedo e embarcar no horário. Coisa que, segundo gente que vive o dia-a-dia do Olímpico, é bem mais comum do que se imagina.
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A decisão de não ir a Belém surge em um impulso, surpreendendo a todos - inclusive seu empresário Jorge Machado, que passou a manhã inteira desta segunda-feira tentando agendar nova viagem para o jogador gremista. Pelo visto, o atleta de 21 anos perdeu o voo das 5h para Belém e, depois disso, simplesmente decidiu que não queria mais ir. Assim, sem mais nem menos. Desistir da seleção fecha muitas portas em todo o mercado da bola - de fato, é uma opção desastrosa para a carreira do jogador. Tamanha irresponsabilidade, combinada com outros exemplos do passado, mostra que o lateral gremista longe está de ser uma pessoa estável ou confiável.
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O outro aspecto que me causa surpresa é ver boa parcela da torcida gremista não apenas aprovando a atitude de Mário Fernandes, como atribuindo a ela um aspecto ideológico que, sinceramente, longe está de ter. Achar que a recusa em embarcar para Belém é algum tipo de desafio contra os desmandos da CBF e da comissão técnica da Seleção é deixar o gremismo sobrepor-se à razão. Lembremos que, quando da fuga do Grêmio, o rapaz foi simplesmente incapaz de explicar o que motivou seu gesto - ora dizia que não queria ficar no Grêmio, ora que tinha sido enganado pelo empresário, isso quando simplesmente alegava não saber o que tinha lhe passado pela cachola. Simplesmente não faz sentido pensar que, desta vez, ele tem boas razões, sejam quais forem.
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Os gremistas que comemoram a desistência de Mário acreditando que isso será positivo para o Grêmio deveriam, na minha humilde visão, repensar essa atitude. OK, o jogador permanece aqui, jogará contra o Cruzeiro e tudo mais. Mas a desculpa de que "quer se dedicar ao Grêmio" é exatamente isso: uma desculpa. A birra gremista com a seleção brasileira fica bem no folclore futebolístico, mas o analista tem a obrigação de ir um pouco além disso. É muito triste ver uma jovem promessa, alguém com uma carreira promissora à frente, jogar fora uma das chances de sua vida sem nenhuma explicação minimamente razoável. E apoiar essa sandice em nome de cores clubísticas não serve bom serviço a ninguém: nem ao atleta e muito menos ao clube. Mais do que aplausos, Mário Fernandes precisa de ajuda e de acompanhamento. Algo que, pelo visto, já chegará tarde demais. Uma pena.
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Comentários
Não sei se ele precisa de ajuda e acompanhamento apenas por não querer vestir uma camisa que hoje está manchada por vaidades e interesses economicos, que é a seleção do brasil. Se ele, ao menos, pudesse dar o real motivo pelo seu desinteresse, aí sim, poderíamos julgar se ele precisa ou não de psicologos, ser internado ou tomar um gardenal.
Saudações!
Tb não fala que é permitido e até razoável não ir e apostar num futuro menos brilhante.
Lindo, ficção da melhor qualidade, pois desnuda outros fatos mais complexos de admitir.
Apesar disso, dá pra entender o torcedor que achou legal a atitude dele (me refiro exclsuivamente a atitude, e não aos motivos que levaram ele a tomar a atitude).
Boa parte da torcida do Grêmio não gosta da Seleção Brasileiro (ver Everaldo em 1972-73, Renato em 1986, Paulo Nunes em 1997, e tantos outros episódios). Pode não ser verdadeiro, mas tem gente que acredita piamente que a convocação "estraga" o jogador.
Ainda, hoje em dia não faltam jogadores que "matariam até a própria mãe" por uma convocação e/ou transferência internacional. Ao ponto de ser animador ver um cara desdenhando da seleção dessa forma.
Milton: acho um ótimo ponto de vista. De fato, a reação das pessoas demonstra como, no fundo, a seleção brasileira está esvaziada há tempos de seu significado. Pena que o Mário parece ser uma pessoa sem consciência do impacto de seu gesto.
André: compreendo completamente a torcida não gostar de ver gremistas indo para a seleção e, por isso, achando uma boa o Mário ter decidido ficar em Porto Alegre. Minha crítica é aos que pensam que foi uma decisão ideológica da parte dele - o que, todos os indícios nos mostram, não é coerente com o comportamento pregresso do jogador. Em nome do próprio Grêmio, acho prudente que os dirigentes gremistas sejam mais críticos do que a torcida está sendo. Porque nada impede que amanhã ou depois ele resolva tomar outra atitude imprevisível do tipo, prejudicando o Grêmio, como aliás quase aconteceu alguns anos atrás.
Um jogador deixar de ir à Seleção dando como justificativa participar de algum jogo importante até vai, mas o Grêmio não disputa nada até o final do ano, nem isso atenua.
Não tenho medo de julgar o Mário sem saber o motivo, pois não houve qualquer justificativa plausível para a atitude, o próprio jogador não demonstrou interesse em explicar a situação ao público e à CBF.
Já acharia errado apoiar a atitude se fosse por "gremismo"; apoiar a atitude imotivada do Mário é patético.
Agora, os verdadeiros motivos, bom, talvez não seja possível saber. Sou médico psiquiatra e garanto que não há a mínima condição de fazer qualquer avaliação específica nessa linha à distância. O que se pode ver é que o guri é atrapalhado e precisa de ajuda. Ponto.
Os extremos não ajudam: nem o estardalhaço de que ele está jogando seu futuro no lixo, nem a conivência da direção do Grêmio (Pelaipe bradando que "ele não tem problema psicológico nenhum!", como se isso fosse uma desonra). Reconheçamos que tem alguma coisa errada, ofereçamos ajuda e é isso.
Espero sinceramente (como gremista e como psiquiatra) que haja alguém com tal sensibilidade ao redor do Mário.
O Grêmio precisa de alguém pra acompanhar ele. Não que ele tenha problemas de cabeça (o Mário, o nosso leitor, já disse ser precipitado diagnosticar qualquer coisa neste sentido à distância), mas é um guri irresponsável, sem foco, perdido, por mais que esteja no profissional há dois anos. Se não, podemos perder uma grande promessa por conta dessa conduta inexplicável.
É por isso que nem ele sabe se é ZAGUEIRO ou LATERAL ! \o/
Batata matou a charada!!!!
Doril é um irresponsável. Pode amadurecer, porque ainda é guri, mas não tem nenhuma noção. Seria interessante mostrarem a história do Arílson para ele, pare ver se aprende.