Um chute, muitas perdas

O Internacional não perdeu apenas a partida ontem à tarde. Perdeu também a invencibilidade neste Gauchão; perdeu uma série de 31 partidas sem derrota pelo estadual; perdeu a classificação para a final da Taça Fernando Carvalho; e pode, em última instância, estar começando a perder chance de chegar ao tricampeonato gaúcho, abrindo caminho para o maior rival retomar a hegemonia do Rio Grande.
Fernando Carvalho tem razão: o Novo Hamburgo jogou mesmo melhor. Desde o primeiro tempo, era visível que a equipe do Vale dos Sinos não temia o Beira-Rio. Jogou de igual para igual sempre, sem se retrair. A partida truncada do primeiro tempo se modificou no segundo a partir do gol de Bruno Silva, bonita jogada e forte conclusão. O Noia começara melhor a etapa final, e sofria um duro golpe.
Mas, maduro, seguiu no mesmo padrão de jogo. Colaborou o visível desentrosamento colorado, vítima do calendário apertado que já complicara a vida do Grêmio em 2009. O zagueiro Wagner Silva não mostrou segurança, atravessando bolas na frente da área e constantemente perdendo na corrida para os atacantes. Andrezinho, como único criador, esteve bem marcado e raramente conseguiu servir Leandro Damião e Kleber Pereira, este bastante discreto.
Aí veio o dedo de Gilmar Iser, que colocou seu time para a frente e modificou de vez o andamento do jogo. O empate do Novo Hamburgo veio num pênalti até discutível (para mim existente, mas não claro), mas era correto pelo que era a partida. O Inter, à esta altura, tinha apenas um atacante, Damião. Fossati pôs Walter e o time ameaçou uma pressão, mas nos últimos 15 minutos os ataques foram basicamente do anilado. Num deles, um chute improvável de Chicão acertou o ângulo de Muriel. Eram 47 minutos. Como em 2007, o fiasco da eliminação veio nos descontos.
Nada é motivo para desespero. Em 2006, o Inter perdeu o Gauchão para o rival em casa, uma hecatombe bem maior. Aprendeu com os erros e foi campeão do mundo. Pensar que a história vai se repetir é pensamento mágico, mas é possível tirar lições do fracasso. Entretanto, se o estadual de 2010 não está perdido, parece perto disso. Se o Grêmio derrotar o Novo Hamburgo domingo (o que não será fácil, e hoje já foi uma bela vacina para o tricolor), garante o turno. No returno, enfrentará adversários mais fracos (ou mais copeiros?), o que é tendência de pontuação maior que a do Inter, que estará em plena Libertadores e pegará times melhores. Tendência de possível Gre-Nal no Olímpico, portanto, e aí é tendência de triunfo azul. Tendência, frise-se. Tendências se revertem num chute de fora da área, por exemplo. Muriel que o diga.

Comentários

Unknown disse…
joga a luva, muriel.
André Kruse disse…
Se um zagueiro que desse esse mesmo carrinho fora da área a falta seria marcada sem nenhuma reclamçao. E ainda poderia ganhar um amarelo.

Contudo, o Fábio Costa costuma fazer lances parecidos com esse e sair impune. Não entendo essa liberalidade que permitem a alguns goleiros
Lourenço disse…
Eu acho que o Gauchão em si, para não dizer que vale muito pouco, não é a prioridade nem de Grêmio e, muito menos, de Inter.
Porém, o jogo de ontem jogou muito o título para o lado do Grêmio. Vejamos:
1) Por óbvio, o Grêmio tem grandes chances de ser campeão e já estar na final.
2) Na fase 2, o Inter pega o grupo que mostrou ser mais forte. O Grêmio, assim, tem mais chances de somar pontos e levar tudo para o Olímpico.
3) Querendo evitar isso, o Inter pode acabar sendo tentado a usar mais vezes os titulares, mas agora concomitantemente com a Libertadores. Pode desgastar o time para a Liber, pode perder algum jogador, ou pode simplesmente ter que buscar a TFK no Olímpico para, ainda, decidir em dois grenais.
Em suma, pela distância dos grupos, esse era teoricamente o turno do Inter, no Beira-Rio. O próximo é o do Grêmio, no Olímpico. Ficou difícil.
Lourenço disse…
Achei que não foi pênalti, mas o Muriel, mais uma vez, faz uma saída espalhafatosa, o lance fica feio e o juiz tende a achar que foi pênalti.
Parece o Márcio Borboleta, que jogava em 2004 no Grêmio.
Vicente Fonseca disse…
Lourenço, é como o Grêmio-09. A chance de ganhar o Gauchão era vencer o 1º turno. No segundo, seria muito mais complicado, como de fato foi. Isto sem falar que as decisões do Gauchão, caso o Inter chegue lá, concorrerão em termos de datas com o final da primeira fase e início das oitavas da Libertadores.

André, o argumento que encontro para justificar o pênalti foi justamente este: fosse fora da área, seria falta, até para amarelo. O Muriel dá quase uma tesoura no adversário. Pegar a bola vira mero detalhe diante da violência e do espalhafato desse lance.
Milton Ribeiro disse…
O Noia jogou mais. Mereceu vencer.

Acho que não foi pênalti, mas isso foi um detalhe.

Concordo com o Vicente: é improvável uma vitória colorada no segundo turno. Só que a chave da Libertadores for uma teta, o que não é.

Noveletto é um poltrão.
natusch disse…
Estava eu num boteco da Augusta, tomando cerveja e comendo batata frita com a Pati Benvenuti (sempre uma mui agradável companhia) quando vejo na TV do estabelecimento um jogador desconhecido acertar um chutaço maravilhoso de fora da área e comemorar de maneira bizarra, uma festa estilo gazela saltitante ou qualquer coisa do tipo. De repente, percebo que os desconsolados adversários usam vermelho... Um deles parece o Andrezinho... E cai a ficha. Convenhamos, chegar em SP com o Kassab cassado e, pouco depois, descobrir que o Inter tropeçou em casa contra o Noia... É boa notícia demais para menos de 24hrs =P
natusch disse…
Falando mais sério agora, concordo com a análise de vocês: o turno do Inter era esse. A segunda fase, por todos os fatores já apontados, tende a ser muito mais espinhosa para o colorado, e é bem possível que nem chegue na final, de novo. Agora, eu não vi o jogo, mas pelo que vi dos melhores lances o Inter parecia bem descosturado em campo, heinhô Batista? Alguém que assistiu confirma?

E lembrando: desde o jogo contra o Avenida o Inter de Fossati não faz uma boa atuação. OK, pode ser coisa circunstancial, mas a defesa-peneira do Grêmio em princípio também era para ser...
Vicente Fonseca disse…
Confirma, Natusch. Tudo bem, os desfalques pesaram, mas este sistema que Fossati tem implementado, de três zagueiros e dois volantes, está sendo açoitado pela imprensa, e com certa razão. Entretanto, o uruguaio não abrirá mão de um trio defensivo. Aposto, inclusive, quando voltar D'Alessandro, num 3-6-1, com Alecsandro sozinho na frente, o argentino e Giuliano atrás.
natusch disse…
Ah: e o ser pênalti ou não, no caso, depende do juiz. Se o árbitro é daqueles que dá falta até em toque no ombro do adversário, apitar esse pênalti é obrigação de coerência. Se é tipo um juiz latino, que deixa correr mais solto, pode perfeitamente deixar passar. O que não dá é para ser Heber Roberto Lopes fora da área e Leandro Vuaden dentro dela...
Nenhuma novidade.
Pastor Fred já sabia.
O Senhor Deus avisou.
E os fariseus se afogarão em sua arrogância no segundo turno, como o porta-voz do Criador já havia dito aqui --> http://cartanamanga.blogspot.com/2010/01/relembrando-2009.html

Espero que, a partir de agora, vocês acreditem nas palavras celestiais do Todo-Poderoso.

Em breve, o sermão do dia, irmãos. Aguardem!
natusch disse…
Pois é, Vicente, foi mais ou menos o que imaginei. Julgar disposição tática por melhores momentos de Internet é complicado, mas pareceu que o Fossati botou um time todo desamarrado, com milhões de defensivos e o Andrezinho sozinho na armação. Eu assistia os lances e pensava: "OK, mas QUEM tá armando jogadas nesse time?..."

E não se iludam com ideias ingênuas do tipo "gauchão é uma coisa, Liber é outra". Se o Inter inventar de não vencer o Emelec na terça, todas as manchetes gritarão CRISE em letras garrafais e a pressão em cima do Fossati será gigantesca. Gauchão é chato por isso: se ganha o título, grande coisa - se perde, porém, é um cataclisma...
André Kruse disse…
Pra mim essa fórmula potencializa os problemas do calendário. Um grenal supercedo, duas fases decisivas, sendo uma delas disputada com pouco mais de 1 mes de trabalho, jogo único, e por aí vai.
Vicente Fonseca disse…
Com certeza. Esta discussão já se alongou por aqui ano passado, e seguirá enquanto houver este regulamento esdrúxulo. O fracasso de público da Taça Fernando Carvalho, mesmo que o nível técnico do campeonato tenha até melhorado um pouco em relações a anos anteriores (não por causa da média de gols), atesta isso.

Pra mim, os regulamentos de 2005 e 2006 (três hexagonais, depois dois quadrangulares e a final) ainda foram os melhores dos últimos anos.
Primeiro ponto é que o Inter achou q seria uma baba. Botou um time mto estranho em campo. Improvisaram o "espetacular", jogando com 3 zagueiros e 2 volantes de contenção, um articulador e dois atacantes de pouca movimentação. Parece a receita ideal para perder um jogo.

Os argumentos de que tem um jogo terça não são suficientes para explicar a ausência de alguns reservas do time titular nesse time improvisado que foi pra partida de ontem. Essa derrota vai pra conta do Fossati.

E eu queria um Grenal. Só assim para desmascarar o nosso meio-campo que é uma alegria pros adversários. Se bem q acredito que iremos perder a meia cancha pro time do NH...

Ronaldinho Gaúcho não jogou demais nesse domingo, mas foi decisivo para a vitória do Milan.

E por fim, Igor, chegar em SP e ver a derrota do Inter e a cassação do Kassab realmente não deve ter preço. Agora só falta dizer que fez sol aí mesmo!!!
Vicente Fonseca disse…
Tudo bem, o Gauchão pode ser engana-bobo. Mas eu entendi bem ou tu preferia perder um Gre-Nal que ganhar o turno, Samir? Acho que é mais fácil montar um time com mais estabilidade sem derrotas em clássicos que o contrário...
É mais fácil montar o time com estabilidade, Vicente, sem dúvida.

Agora, será que o Silas tb acha que o meio-campo tá aberto? Tenho minhas dúvidas, e tenho certeza que após um grenal, isso se o inter soubesse se aproveitar disso, ele teria certeza de que o Rochemback não pode ser nosso segundo volante. Não nessas condições de nunca estar no lugar certo.
Vicente Fonseca disse…
Espero que ache, Samir, e que precise corrigir. Eu sei que tu não pensa daquele jeito, foi só uma provocação às vésperas da volta do Carta na Mesa. É muito mais fácil tu formar um time, fazer os jogadores executarem as funções que o técnico pede (ex.: Rochemback voltar pra marcar e sujar um pouco o calção, como deve fazer um volante) contra adversários menos complicados.

Clássicos repetidos podem ser tão prejudiciais nesta época do ano quanto jogos fáceis contra times pequenos: perdendo é terra-arrasada; ganhando, pode dar a impressão que o time está muito bem, quando pode não estar.
Prestes disse…
Não acho q o Wagner Silva tenha ido mal individualmente, Vicente.

O Fossati me bota um volante na zaga e uma defesa completamente desentrosada fazendo linha burra!

Tava na cara que o gol do NH ia sair daquele jeito.
Vicente Fonseca disse…
Não gostei da atuação dele, mas é evidente que não se pode crucificá-lo nestas circunstâncias. Tendo em vista o jogo (ou seja, calendário à parte), a escalação confusa do Fossati e suas substituições mal feitas (especialmente TH por KP) foram os principais problemas.
Prestes disse…
O NH jogou bem mesmo nos últimos 15minutos, depois que o Fossati desfigurou o time.

Mas mostrou muito pouco o time do Gilmar Iser. Pouco chegou a ameaçar um Inter muito capenga. Acho que não será Caxias de 2000.

Mas o diferencial desse time do Noia em relação aos outros do Interior é que tem vários jogadores acostumados a jogar contra clubes grandes.

Se jogarem essa bolinha de ontem são atropelados pelo Grêmio, mas se conseguirem aproveitar bem essa semana de treino e jogarem com inteligência podem complicar.
Vicente Fonseca disse…
É time que não tem medo de cara feia. Jogadores como Cláudio Luiz e Márcio Hahn jogarão o Brasileirão em 2009, por exemplo. Têm experiência. Levou o duelo em certo equilíbrio com o Inter, mas, convenhamos, jogar bem contra a Dupla nos 15 minutos finais, quando os times do interior tendem a estar esgotados, é grande mérito.

Mas também não creio em novo Caxias de 2000. Desta vez há bem menos baladação em relação ao Grêmio e bem mais atenção em relação ao desafiante. O Novo Hamburgo já atingiu sua façanha e está "em festa", com direito a Gilmar Iser em programas e TV e tudo mais. Se não bater oba-oba no Olímpico (o que duvido, até pelo Paulo Paixão e seu poder de mobilização), é Grêmio campeão mesmo. O raio não cairá duas vezes no mesmo lugar.
Volta do Carta na Mesa onde certamente me farei presente!! Ah, e leva a camisa que sobrou do bolão né... hehehe
Vicente Fonseca disse…
Kashima Antlers, pode deixar!
Prestes disse…
Esse Cláudio Luiz é até bom zagueiro. Chamava atenção naquele time horrendo do Náutico.

O que não é grande coisa, huuhsdasuhdasuhuauhauh
Rapper Fossati disse…
http://globoesporte.globo.com/Esportes/foto/0,,36665715-DP,00.jpg

Yo, Fellas!
natusch disse…
E por fim, Igor, chegar em SP e ver a derrota do Inter e a cassação do Kassab realmente não deve ter preço. Agora só falta dizer que fez sol aí mesmo!!!

Pois te digo que não só parou de chover, como tem sol e está QUENTE PARA DEDÉU aqui!...

E acho difícil o Grêmio tropeçar no Noia, embora também ache que a partida não será nada fácil. Prevejo o Noia abrindo o placar e o Grêmio virando com gols de Borges e Ferdinando - que correrá para a torcida gritando "ME APLAUDE! ME APLAUDE, PORRA!!!" =P
Vicente Fonseca disse…
Cláudio Luiz foi aquele que brigou com o Maxi López no Náutico x Grêmio da única vitória tricolor fora de casa no Brasileiro de 2009. Rebatedor, só isso.
Prestes disse…
Porra, o Kassab dá PISCINA de graça pra gurizada o verão.

É um INGRATO esse Igor!

uhuhasduhsduhuhuhduhash
Pati Benvenuti disse…
Haha, na verdade a situação da Augusta ontem foi mesmo engraçada. Natusch e eu estávamos quebrando a cabeça pra pensar COMO iríamos assistir o grenal em são paulo. Cogitávamos ir até Osasco numa lanchonete de beira de estada que, dizem, faz um xis de verdade e decente e poderia transmitir o jogo... Em poucos minutos, os gols do novo hamburgo... "Não pode ser", a gente repetia...