Douglas, um avanço

O jogo de ontem pode ter sido um marco na vida do Grêmio em 2010. Não pelo resultado de 5 a 1, pela equipe ter finalmente saído na frente ou pelos três gols de Borges. Mas porque a ideia de time que Silas colocou ontem foi a melhor apresentada – e, sem dúvida, a mais perto do ideal possível, dadas as circunstâncias.

Tudo passa pelo meio-campo, mais precisamente pelo ingresso de Douglas. Jogou pouco mais de 65 minutos ontem, ainda está abaixo dos demais fisicamente, mas já mostrou, mesmo assim, uma prévia de suas melhores qualidades dos tempos de Corinthians. Um meia realmente completo: tem drible curto, é criativo, conclui bem (acertou uma virada de sem-pulo que obrigou o goleiro Spada a defesa monumental no primeiro tempo) e ainda fez duas assistências em bolas paradas, algo do que o time andava carente desde a saída de Tcheco. Um jogador diferenciado e, portanto, titularíssimo. Será o centro técnico do time.

O meio-campo do Grêmio precisa de dois volantes e mais Maylson, aberto pela direita. Realmente o guri vem pedindo passagem. Atua com desenvoltura e dinâmica na frente, e combate como um volante quando o time não tem a bola. Jogador moderno, e faz bem ao time também por seu pulmão juvenil. Tendo estes dois, mais Willian Magrão (quando estiver em condições), é só escolher um dos outros volantes que Silas dispõe no plantel, sem precisar necessariamente contratar. Em princípio poderia ser Adílson e, quem sabe, até Fábio Rochemback, que ontem foi bem, sem inventar muito nos passes e marcando com firmeza.

O Grêmio do mundo das ideias, platônico, deveria ser um espelho daquele Corinthians de 2009, com três atacantes, sendo que os dois das pontas ainda comporiam a meia-cancha. O fato é que Jonas, que não sabe jogar longe da área, como pressupõe este esquema, faz quase um gol por jogo e vem atuando com muita confiança. Como Borges é imexível e vem fazendo a diferença como grande centroavante que é, Hugo e Leandro transformam-se em ótimas opções no banco de reservas. Ambos podem substituir tanto os meias como os atacantes. Quando o time estiver precisando de agressividade, por exemplo, Maylson pode dar lugar a Hugo. Num dia em que Jonas estiver bem marcado e se movimentando pouco, entra Leandro. Ou vice-versa.

Claro que o desconto precisa ser dado: a Universidade é muito fraca, e não à toa é o pior time do seu grupo e o mais fácil que o Grêmio pegou até agora. Entretanto, é um adversário que dá uma dimensão melhor do que será a Taça Fábio Koff para o tricolor, pois regula em pontuação com seus adversários. Para quarta-feira, o melhor que pode acontecer para o Grêmio não é apenas se classificar antecipadamente, fazendo 2 ou mais gols de diferença sobre o Araguaia: é repetir esta ideia de time que, mesmo com a fraqueza alheia, deu muito certo.

Ah, claro, falta um zagueiro que solucione de vez os problemas atrás. Maurício e Rafael Marques não são este homem, apenas bons coadjuvantes de um sistema defensivo, no máximo.

Inter 2 x 1 Avenida

O jogo do Internacional de ontem tem suas semelhanças com o do Grêmio de quarta-feira, contra o São Luiz. No calorão porto-alegrense, que superou os 40º C novamente ontem à tarde, havia apenas duas diferenças: o adversário colorado era bem mais fraco que o gremista e não havia o sol escaldante, que é o que faz realmente a diferença num dia quente de futebol.

Por isso, nem dá para levar em conta a preguiça do time, que abriu 2 a 0 com tranqüilidade e até levou certo sufoco do Avenida no segundo tempo. O 2 a 1 ficou de bom tamanho. O Inter está classificado, e Fossati ganha uma opção e dois problemas. A novidade boa é Edu, que entrou e fez gol. Jogador que perdeu espaço com lesões e físico inferior ao dos colegas ano passado, pode acrescentar ao time. Aliás, o técnico colorado surpreendeu ao retirar o lesionado Índio para o seu ingresso ainda no primeiro tempo. Mexeu taticamente no time e mostrou ousadia, ainda que o jogo favorecesse isso.

Robinho

Todos esses grandes jogadores que voltaram ao Brasil em 2009 começaram com gols: Ronaldo, contra o Palmeiras, Adriano, contra o Atlético-PR, e agora, em 2010, Robinho. Gol de letra, de alta técnica, como ele não andava fazendo há tempos. O Santos deste ano poderá sair melhor do que eu supunha inicialmente. Se a gurizada não cair na gandaia e Dorival Júnior seguir desempenhando seu trabalho sério e criterioso, o Peixe pode voltar a disputar coisas na ponta de cima, como há dois anos não faz. Mas, mesmo com a vitória no clássico contra o São Paulo, ainda quero ver mais deste time para me convencer plenamente de que é possível.

Foto: Douglas fez boa estreia e deve solucionar os problemas de criação do Grêmio (José Doval).