O debut da reconquista

Achei de extremo bom tom a emissora homenagear aquela conquista, pois trata-se de um título por vezes renegado. A conquista do tetra não somente encerrou um jejum que parecia interminável de 24 anos sem títulos mundiais por parte da seleção canarinho. Foi por ali que o Brasil descobriu que só voltaria a vencer uma Copa do Mundo se jogasse um futebol sério, se deixasse o ofensivismo de lado. De 1974 a 1994, a seleção demorou 20 anos para descobrir que o futebol havia mudado. Ali, aprendeu a respeitar os adversários. Colocou a responsabilidade tática em primeiro lugar, para que pudesse aparecer, com segurança, o brilho e a "irresponsabilidade" (no ótimo sentido) que o jogador brasileiro possui.
É claro que, não fosse por Romário, aquele time jamais ganharia a Copa do Mundo. Mas o fato é que o time tinha ele. O 1 a 0 sobre os Estados Unidos, nas oitavas-de-final, o Baixinho resolveu praticamente sozinho. Assumiu a responsabilidade, partiu para cima, e fez o time jogar. A jogada do gol de Bebeto foi toda dele. No 1 a 1 contra a Suécia, na primeira fase, salvou o time de uma derrota num biquinho maravilhoso. Mas, em outras partidas, Romário se destacou também por causa do coletivo. Ou não houve qualidade na trivela de Dunga que deixou na cara do gol no primeiro tento contra Camarões? Ou não houve qualidade nos lançamentos de Aldair e Márcio Santos que resultaram nos primeiros dois gols contra a Holanda, nas quartas? Ou no cruzamento milimétrico de Jorginho no gol da vitória sobre a Suécia, nas semifinais? Ou na defesa milagrosa de Taffarel no pênalti batido por Massaro na decisão?
Aquela seleção era muito boa, excelente coletivamente, e não enxergar isso é pura má vontade. Seria individualmente excelente se tivesse um articulador à altura do resto do time. Raí poderia sê-lo, se repetisse o que fez no São Paulo e o que fazia no PSG, mas decepcionou. Mazinho, volante adiantado e dublê de lateral, entrou em seu lugar para dar consistência a um meio que se fragilizou diante do primeiro bom adversário (a Suécia), dando liberdade para os laterais avançarem. Zinho também, foi apenas um coadjuvante longe daquele craque que se viu a carreira inteira. Mas era um time de grande goleiro, um dos melhores da história; quatro laterais de alto nível, coisa que hoje penamos para conseguir; dois zagueiros reservas maravilhosos, que entraram e sofreram apenas 3 gols em 7 jogos. Mauro Silva, um volante excepcional que até hoje nunca vi parecido vestindo a amarelinha. Ao lado dele Dunga, líder nato, volante que desarmava e começava as jogadas de ataque com lançamentos precisos. E uma dupla de ataque que fala por si só: Bebeto e Romário.
Portanto, é uma data a se comemorar. Foi uma seleção que deu grande alegria ao País num momento difícil de sua história (presidente defenestrado, mais um novo plano econômico, Ayrton Senna morto meses antes). Um time que, além disso, mudou a forma de jogar de praticamente todos os clubes brasileiros. O 4-4-2 com dois volantes e dois meias é, até hoje, o modo como a maioria dos grandes clubes nacionais atua. Quem disse que aquela seleção não revolucionou nosso futebol? Pena que o comandante tenha sido demitido justamente na semana de comemorações do debut daquela ensolarada e abafada tarde do Rose Bowl, e que o protagonista de tudo tenha sido preso por não pagar pensão alimentícia. A data teria ainda mais brilho.
Foto: Romário e Baresi, dois mitos do futebol. Mediocridade?
Comentários
Cruzeiro contratou Gilberto, ex-grêmio. Acho que deve jogar no meio, posição que Adílson já o colocou em 2003.
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Hehe.
"Todos os Corações do Mundo", melhor filme de todos os tempos.
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Lá pelas tanta são entrevistados jogadores de variadas seleções, todos respeitando o brasil, dizendo que a seleção tinha aprendido a se defender.
O jogo ao meio dia do verão em los angeles prejudicou o espetaculo
nunca achei para vender
Ele nunca foi comercializado, então só existem cópias caseiras. Nesse site, eles convertem em DVD (qualidade de VHS) o que foi gravado de TV a cabo. Não gosto de indicar nada, então me limito a dizer que, pelo menos comigo, tudo deu bem certo e foram bem sérios.
Tava tão nervoso que do jogo só lembro do pavor quando o Mazinho perdeu o primeiro pênalti, do Pelé pulando com o Galvão, do gordinho da comissão técnica rolando no campo quando acabou e do início de um dos maiores porres da minha adolescência.
Hoje eu sofro pela Seleção por outros motivos, tsc,tsc...
"Todos os Corações do Mundo", melhor filme de todos os tempos. (4)
A cena do Romário tranquilão na entrada do túnel, com o Baggio todo cagado no plano de fundo é emblemática. Eu assisti num desses cinemas alternativos*, e depois aluguei em VHS, numa cópia oficial. Ele foi lançado, sim.
Nesses sebos que comercializam fitas e dvd's usados dá pra conseguir.
O da Copa da 1998 também é excelente, apesar de não ter final feliz. Mas esse eu só vi na TV a cabo.
Eu não sei porquê a Fifa não comercializa em DVD novamente.
Eu tenho um outro da Fifa sobre os "10 mais das Copas" piratão que também é demais.
Acho que vou fazer uma cópia para colocar no Bolão. :)
*Cinema alternativo = esse cinemas cult, tipo Guion ou Sala Norberto Lubisco. Não aqueles do tipo "Atlas", com duas sessões pelo preço de uma.