Vitória sobre o Palmeiras mostra um Corinthians no auge de sua eficiência (ou será que dá para ir além?)

Uma hora o Corinthians vai tropeçar. Isso é o que todos dizem desde a 5ª rodada do Campeonato Brasileiro, quando o Timão fez 5 a 2 no Vasco em pleno São Januário, despontou como líder e passou a chamar a atenção do resto do país. A derrota é aguardada até hoje por todos os rivais: o time de Fábio Carille, passadas 13 rodadas, segue invicto. Na temporada, já são 26 jogos sem derrotas. A última foi em março, para a Ferroviária, no Paulistão.

Nunca uma invencibilidade durou tanto na era dos pontos corridos. Nunca uma equipe pontuou tanto. O campeonato está decidido ou o Corinthians é um cavalo paraguaio? Impossível responder, por um motivo muito simples: nunca um time abriu tanta vantagem tão cedo. Tudo bem, Flamengo e Grêmio se enfrentam hoje e podem diminuir a distância para 9 ou 10 pontos. Mas, acabada a quarta-feira, o Timão tem frente de 12 pontos para o Santos, atual vice-líder. É a mesma distância aberta pelo próprio Corinthians contra o Atlético Mineiro ao final da temporada 2015, ano no qual o time de Tite era dado como campeão alguns meses antes de a competição terminar.

Por isso é tão difícil fazer qualquer estimativa: primeiro, porque não é tarefa do jornalismo fazer futurologia. Segundo, porque a vantagem é enorme, mas ainda é cedo demais. Ao final do dia de hoje, serão no mínimo 11 pontos, mas ainda faltam 25 jogos para o final. Equipes que sobraram em campeonatos recentes, abriram esta diferença faltando 10 partidas ou menos, quando já era difícil demais de buscar. Agora, ainda há muito chão pela frente. O cenário é inédito no futebol brasileiro.

A questão é que a diferença só cresce, por um motivo simples: os adversários oscilam como é normal do Brasileirão desde sempre, mas o Corinthians não vacila nunca. À exceção da estreia, quando empatou em casa com a Chapecoense, obteve um empate aceitável fora de casa contra o Coritiba e, de resto, venceu todas. Já bateu rivais diretos de tabela, como o Santos, e ganhou como visitante de Grêmio e Palmeiras - os dois jogos onde mais mostrou sua faceta principal: a eficiência, tanto na defesa como no ataque.

Os 2 a 0 de ontem sobre o Alviverde foram talvez o auge da eficiência corintiana (falo "talvez" porque o Corinthians sempre vai além do que pensamos ser o seu limite). Dezoito dias atrás, o time gaúcho, extremamente organizado e criativo, ameaçou de verdade a vitória corintiana em Porto Alegre. Ontem, foi bem diferente: desorganizado e sem mecânica de jogo, o time de Cuca mostrou o que realmente tem sido em 2017 - um amontoado de bons jogadores, basicamente. O Palmeiras chutou 18 vezes a gol, o Corinthians apenas três. Em número de chances de gol, porém, a equipe da casa ficou devendo muito: a maioria das conclusões foi prensada, de longe, sem levar real perigo a Cássio. As corintianas, embora mínimas, foram muito mais letais.

O Corinthians não tem o melhor elenco do país, um mantra de quem quer ganhar o Brasileirão. Nem perto disso, por sinal. Mas, como sempre, às vezes olhamos demais para o banco de reservas e esquecemos o que se vê dentro de campo na hora de projetar uma campanha. Fábio Carille faz um trabalho fantástico. Não é que ele tira o máximo de seus jogadores: ele vai além disso. Ángel Romero, um limitado e esforçado atacante de lado, ontem se descobriu um assistente de primeira linhagem: achou Guilherme Arana de maneira mágica nos dois lances que definiram o jogo, mostrando uma visão de jogo que ele certamente não tem, mas que a organização perfeita da equipe lhe permite. Ele sabe por onde Arana vai se infiltrar, no momento mais que exato. E aí acerta os passes decisivos que acertou.

Até quando essa campanha avassaladora vai ser desempenhada sem tropeços? Até alguém descobrir a fórmula de anular os efeitos da eficiência corintiana. Não é tarefa fácil: o Timão não é um time propositivo, em que ao se anular peças específicas se aniquila uma mecânica de jogo. É uma equipe reativa e baseada no coletivo, mais difícil de desencaixar. Talvez equipes tecnicamente superiores possam superá-lo com uma grande atuação, mas não será simples: o Grêmio, dono do melhor futebol do país nos últimos meses, jogou em casa, não fez partida ruim, e ainda assim perdeu. Dentre os favoritos, restam apenas Flamengo e Atlético Mineiro como possibilidades neste primeiro turno.

Foto: Corinthians/Divulgação.

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