Em Mendoza, Grêmio passa por um teste de fogo que mostrou o outro lado da Libertadores

Faltaram ao Grêmio condições adequadas para impor o seu melhor futebol no Estadio Malvinas Argentinas. O gramado escorregadio, o tempo chuvoso e as entradas duras do Godoy Cruz dificultaram a vida do time gaúcho em Mendoza. Mas o Tricolor historicamente sabe que nem só de melhor qualidade se faz um campeão de Libertadores. Jogou melhor sempre que pôde, aguentou o tranco dos argentinos quando necessário e trouxe da Cordilheira dos Andes uma ótima vitória por 1 a 0, que encaminha sua vaga para as quartas de final da competição.

Guardadas todas as enormes e obrigatórias proporções, o jogo de ontem lembrou em certos aspectos a histórica partida contra o Estudiantes, em 1983. Claro, não estávamos diante da Guerra das Malvinas, quando a Libertadores fazia vistas mais grossas à pancadaria, e o clima contra os gaúchos ontem era bem mais ameno. Mas em um aspecto os dois jogos se parecem: em um campo com umidade e algum barro (apesar da ótima drenagem), o Grêmio, bem superior ao adversário, teve de aguentar a pancadaria dos rivais, que não economizaram nas botinadas. Vale lembrar que era o jogo mais importante da história do Godoy Cruz, e assim foi tratado pelo clube e toda a imprensa de Mendoza. Isso ajudou a acirrar os ânimos desde antes de a bola rolar.

Sabia-se que o Tomba era time de chegar duro, mas certamente o gol relâmpago de Ramiro enervou ainda mais os mandantes. Com o gramado ainda não tão molhado e escorregadio, o Grêmio tonteou os rivais e conseguiu impor seu toque de bola superior nos primeiros 25 minutos, perdendo a chance inclusive de definir a partida ali. A movimentação inteligente de Luan, os avanços de Pedro Rocha e a qualidade das ações de Ramiro e Barrios infernizavam a defesa do time mendocino, que, então, começou a abusar das entradas desleais para tentar equilibrar as ações.

E, de certa forma, o time da casa conseguiu sucesso na empreitada. As constantes faltas picotavam o jogo, o que prejudicou o Grêmio, que queria bola rolando. Isso, aliado à chuva incessante, que molhava cada vez mais o gramado, dificultou ao time gaúcho impor sua maior capacidade técnica. No entanto, longe esteve de representar algum perigo real ao resultado construído aos 43 segundos de partida: sem conseguir criar, o Godoy Cruz dependia muito dos avanços de Garro pela esquerda. Melhor jogador da equipe, ele não viveu noite inspirada, mesmo que Edílson tenha cometido um ou outro vacilo na marcação.

No segundo tempo, a estratégia gremista mudou por conta de todas essas circunstâncias. Se tocar a bola para envolver o Godoy Cruz parecia difícil, dá-la aos argentinos, que não sabiam bem o que fazer com a posse dela, era uma tentativa válida. O time da casa, de fato, sofria demais para levar perigo, mas o Grêmio também não teve sucesso nos contra-ataques. Renato Portaluppi, ao tirar Pedro Rocha, sacou do time sua peça mais perigosa, fora de hora. Ainda assim, com raras exceções, os gaúchos tiveram inteligência e bravura para segurar a vantagem conquistada. Terminaram o jogo surpreendentemente com mais posse de bola que os argentinos (56% a 44%), que cruzaram 65 vezes na área de Marcelo Grohe (47 delas erradas). Números que traduzem bem o andamento da noite.

O empate com gols já seria vantajoso, mas ganhar a partida era importante pelo simbolismo. Ao vencer, o Grêmio não só fica pertíssimo da vaga como também marca a superação de um desafio típico de Libertadores, que exigiu mais do que futebol - muita raça e camiseta manchada de barro. Foi uma vitória de quem sabe lidar com as dificuldades dos mata-matas. Mesmo sem o futebol brilhante de outras ocasiões, mostrou o quanto este time está de fato preparado para tudo, e por isso é um dos maiores candidatos a conquistar o continente em 2017.

Foto: Lucas Uebel/Grêmio.

Comentários

Unknown disse…
Grêmio passou por esse teste com sobras. Time está consolidado.
Chico disse…
Um Tricolor maduro enfrentou com muita tranquilidade os desafios da partida em Mendonza e encaminhou a classificação.

Ramirex, postulante a goleador? Impressionante está sempre na segunda trave para concluir a jogada, alem de correr o campo todo.

Onde estão os oportunistas de plantão (Zini) pra cornetear o Grohe? Nos salvou duas vezes.

Geromel e Kannemann = muralha tricolor.

Após derrota, técnico do Godoy Cruz foi mandado embora.