Título merecido (e invicto) do Flamengo é fundamental para dar força ao trabalho de Zé Ricardo

O Flamengo não ganhou nem a Taça Guanabara, nem a Taça Rio. Por justiça, portanto, não deveria disputar a final do Campeonato Carioca. Será mesmo? O regulamento do estadual do Rio, tão bizarro, desta vez serviu para colocar na decisão não apenas aquele que é incontestavelmente o melhor time do estado, mas também o dono da melhor campanha. O Fla não ganhou nenhum turno, mas também não perdeu nenhum jogo em sua caminhada rumo ao 34º título estadual. De quebra, venceu os dois jogos da final. O merecimento é evidente.

O cenário inicial não parecia dos melhores. Apesar da vantagem de 1 a 0 obtida na semana passada, o Flamengo começou acuado. Abel Braga, vencedor de todas as três finais de Carioca que já havia disputado como treinador, disse que seu time foi planejado para fazer 2 a 0 e nem precisar dos pênaltis. Saiu ganhando cedo, com um gol de cabeça de Henrique Dourado - um lance bobo, ensaiado, repetido algumas vezes no primeiro tempo, quase sempre com vantagem do Flu.

Mas a pressão foi só até abrir o placar. O Tricolor logo assumiu sua condição de não-favorito e deu a bola ao Flamengo no restante do tempo, esperando um contra-ataque de Richarlison ou Wellington. A boa recomposição do time de Zé Ricardo frustrou os planos. No entanto, apesar da maior posse de bola, o Flamengo criou pouco na etapa inicial. A estratégia do Flu foi bem pensada, e funcionava. E mais: o Rubro-Negro começou o segundo tempo novamente assustado. Com boas articulações de Sornoza e alternativas pelos lados, o Flu estava bem mais perto do gol do título que seu rival.

No entanto, após os 15 minutos, a pressão cessou. As entradas de Rodinei e Gabriel nos lugares de Trauco e Berrío melhoraram o Flamengo, que reequilibrou a disputa do meio-campo. Boas mexidas de Zé Ricardo, que não levou em conta a grife dos substituídos a fim de ajeitar seu time. Mas o equilíbrio não significava domínio: a partir dos 30 minutos, o jogo passou a entrar na fase do "quem fizer é campeão", o que condicionava os dois times a arriscarem muito pouco, como que esperando os pênaltis. O gol de empate, de Guerrero, aos 39, veio após um chute despretensioso de Willian Arão, que desviou em Henrique e causou um escanteio. A bola parada, que castigou o Fla no primeiro tempo, encaminhou seu título no segundo.


Com o empate e a necessidade de se jogar para cima, o Fluminense abriu espaços generosos, tornando o jogo maluco nos 10 minutos finais. A despreocupação defensiva, no entanto, custou caro: numa arrancada magistral, Márcio Araújo quase virou o jogo aos 43; em outras duas, Rodinei definiu o clássico. Aos 47, forçou a expulsão de Diego Cavalieri; aos 50, fez o gol da vitória, com o equatoriano Orejuela de goleiro, quando todos os nove jogadores de linha do Flu estavam na área de Alex Muralha tentando marcar um gol de cabeça em cobrança de escanteio. Um lateral direito que entra para a história do Campeonato Carioca como o predestinado Cocada, que também entrou no meio da decisão para dar o título de 1988 ao Vasco.

O título é importante para o Flamengo, claro, por abrir para três a diferença de estaduais para o Fluminense. Mas o principal interessado na conquista era Zé Ricardo: apesar do ótimo trabalho em 2016, o jovem treinador já se via cobrado por parte da torcida por não ter ganhado o Brasileiro, nem os turnos do Carioca, e fazer campanha irregular na Libertadores. Uma injustiça por todo o conjunto da obra, mas que se entende pelo tamanho da pressão que é a de dirigir um clube com uma torcida deste tamanho. A conquista de hoje, portanto, lhe dá importantes alicerces para prosseguir sua excelente passagem pelo comando do Fla. Que, agora, vem ainda mais forte para buscar os grandes títulos que tem para disputar em 2017.

Foto: Gilvan de Souza/Flamengo.

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