Dois favoritos, 50 mil pessoas e um jogaço: o Brasileirão começou da melhor maneira possível

Nem tudo que vem do futebol da Europa é bom o Brasil copiar, mas uma coisa os gringos têm que a gente precisava aprender: criar uma expectativa maior pela abertura do campeonato nacional. Aqui, a iniciativa fica prejudicada por conta do clima de decisão que as finais dos estaduais, normalmente ocorridas uma semana antes do principal certame do país, carregam. Em 2017, porém, a CBF acertou em cheio ao marcar uma série de clássicos nacionais para a primeira rodada do Brasileirão. Aliado ao acerto da Conmebol em alongar a Libertadores (um possível mata-mata agora em maio obrigaria ambos a botarem reservas no jogo de ontem), criou-se um tempero irresistível para o início do torneio.

Fazer de Flamengo x Atlético Mineiro o primeiro jogo da competição foi uma iniciativa melhor ainda. Além de ser talvez o duelo interestadual de maior rivalidade do país, o jogo de ontem trazia dois dos melhores times do campeonato. E o melhor: não apenas dois candidatos ao título, mas também campeões estaduais, e no palco mais tradicional do futebol brasileiro. O resultado: um Maracanã cheio, com mais de 50 mil pessoas, o que há muitos anos não acontecia na abertura do Brasileirão. Um começo de luxo, como nossa maior competição sempre mereceu, mas que há muito tempo não via.

A troca de faixas antes do apito inicial foi a única gentileza da linda tarde carioca. Antes mesmo de a bola rolar, os discursos de Zé Ricardo e Roger Machado já indicavam um duelo duro, de duas equipes sabedoras de que esta partida, embora marcada para a primeira rodada, já carregava ares decisivos. Ao terem a noção de que estão na mesma briga, Flamengo e Atlético protagonizaram uma partida intensa, de troca de predomínios ao longo dos 90 minutos. E nada de jogo truncado: equipes sempre buscando o gol a partir de um ótimo nível técnico de lado a lado.

O resultado também diz bem o que foi o jogo. Levemente superior na primeira etapa, o Flamengo mostrou-se mais seguro que o Galo. É verdade que fez um gol quase que fortuito - Matheus Sávio tentou o cruzamento para Guerrero, e não chute. No entanto, a equipe da casa ainda teve duas possibilidades de ampliar a vantagem através do colombiano Berrío, e não conseguiu. Pouco objetivo, o Atlético ameaçou menos do que o necessário. A falta de um jogador mais criativo no meio prejudicou: havia três volantes (Adílson, Rafael Carioca e Elias) e três atacantes (Robinho, Fred e Otero). Como os pontas recuavam pouco para armar jogo e Elias se soltava pouco de trás, preocupado com as subidas de Everton e Willian Arão, o time mineiro ficou preso atrás.

Mas as coisas mudaram bastante no segundo tempo. A ótima entrada de Cazares trouxe mais inventividade ao Galo, que voltou com tudo em busca do empate. Conseguiu o gol relativamente cedo, numa ótima subida de Elias para o ataque, e pôs fogo na partida. O jogo foi tão aberto na etapa final que simplesmente três gols foram evitados em cima da linha: antes do empate mineiro, Rafael Vaz salvou o Flamengo duas vezes. O mais impressionante, porém, foi Gabriel, caído, evitar um gol de Guerrero, que também estava em cima da linha, mas de pé. A maior vibração da galera rubro-negra, além do gol, foi a entrada do jovem Vinícius Júnior, que teve pouco tempo para tentar mudar a história do jogo. O resultado ficou no 1 a 1, mais interessante para o Galo, por ter ocorrido fora de casa.

O outro confronto do sábado também merece destaque. Corinthians e Chapecoense não têm a qualidade de Flamengo e Atlético, nem o enfrentamento dos dois é um clássico nacional. Mas ambos são campeões estaduais e levaram um ótimo público a Itaquera - 32 mil torcedores. O empate em 1 a 1 é ótimo para os catarinenses, que demonstraram que podem, sim, fazer um papel bem digno esse ano, apesar da remontagem forçada devido à tragédia do ano passado. Para hoje, o cardápio inclui jogos como Fluminense x Santos, Cruzeiro x São Paulo, Palmeiras x Vasco e Grêmio x Botafogo. Como é bem ver o Campeonato Brasileiro de volta, e como é melhor ainda abri-lo com tantos jogos deste quilate.

Foto: Bruno Cantini/Atlético Mineiro.

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