Instabilidade do São Paulo não foi páreo para a consistência do Cruzeiro, mesmo no Morumbi lotado

O duelo mais chamativo da quarta fase da Copa do Brasil ocorreu ontem à noite. Não à toa, 44 mil pessoas compareceram ao Morumbi para acompanhar o confronto entre dois dos melhores ataques do país neste começo de ano: o ofensivo São Paulo de Rogério Ceni encarando o invicto Cruzeiro de Mano Menezes. Acabou prevalecendo a consistência dos mineiros, para decepção da imensa maioria paulista.

A partida de ontem acabou mostrando claramente que o Cruzeiro é um time bem mais consolidado. Mais ainda: é um dos melhores do país neste começo de temporada. Mano faz seu segundo bom trabalho na Toca da Raposa: em 2015, recuperou uma equipe em franca decadência após o bicampeonato brasileiro, mas interrompeu sua trajetória por um proposta irrecusável da China. No ano passado, pegou o time em situação parecida e o levou, mais na empolgação que na qualidade, às semifinais da Copa do Brasil. Agora, com mais tempo para trabalhar, tem tudo para fazer um 2017 de sucesso. A motivação é tanta que chegou a fazer promessa que não deixará Belo Horizonte seja a proposta que eventualmente receber.

A capacidade do técnico e as boas contratações vêm dando resultado. Thiago Neves, por exemplo: após desencantar com um gol no clássico contra o Atlético, vem colecionando boas atuações. Não foi o caso de ontem, quando esteve sumido quase a noite toda. Mas isso é um detalhe: afinal, os dois gols cruzeirenses, ambos na bola parada, surgiram de cobranças venenosas executadas por ele próximas à área. Jogadores decisivos e qualificados, era isso o que mais faltava ao Cruzeiro organizado, mas limitado, de 2016. Agora, encaixando o meia a nomes como Arrascaeta, em ascensão, e outros de confiança de Mano, como Rafinha (meia de boa passagem com ele pelo Grêmio em 2006), monta-se uma espinha dorsal que funciona muito bem.

Inconsistente como quase sempre em 2017, o São Paulo penou a noite inteira. É verdade que o primeiro tempo foi equilibrado, mas isso só servia ao Cruzeiro, que soube segurar o jogo com maturidade, impedindo o Tricolor de adentrar sua área, o que trouxe ansiedade ao ambiente do Morumbi. No segundo tempo, contou com a infelicidade do gol contra de Pratto para sair em vantagem e soube administrá-la (e ampliá-la) com enorme consciência, mantendo o time da casa quase sempre longe de sua área. Uma atuação de um time pronto contra outro em formação e inseguro, que vem de uma temporada ruim e ainda precisa de tempo para engrenar. Se acertar a defesa sempre foi um problema neste ano, ver o ataque funcionar contra equipes mais fortes passa a ser uma pontinha de preocupação também.

Exigir demais do São Paulo é, portanto, ainda injusto. Mas isso só acontece porque, além de enorme, o clube é dirigido por um treinador com postura frequentemente arrogante nas coletivas. Para Rogério Ceni, seu time quase nunca joga mal: quando perde categoricamente, como ontem, sabemos que ele trará números do jogo desconectados com a realidade. De que adianta seu time ter trocado 600 passes contra 250 do adversário se quase todos foram para o lado, infrutíferos, buscando espaços que nunca se abriam? Para que subestimar a inteligência de todos afirmando que foi um jogo parelho decidido somente no "detalhe" da bola parada? O jogo não podia ser parelho, precisava ser "do São Paulo". E a bola parada não vai sozinha para o gol: ela foi executada com enorme competência pelo adversário e não foi detida por erros crassos de seu time, apesar dos treinos prévios ao jogo.

Foto: Marcello Zambrana/Cruzeiro.

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