Já na Copa, Brasil vai bem além do brilho individual para superar a forte marcação paraguaia

Já virou repetitivo enumerar uma série de elogios à seleção brasileira após cada apresentação sua nas eliminatórias para a Copa do Mundo. Classificado com quatro rodadas de antecipação para o Mundial da Rússia, um recorde em nosso continente, a equipe de Tite abriu ontem impressionantes nove pontos de vantagem sobre a agora vice-líder Colômbia na tabela. E o mais incrível: somente os oito jogos (e oito vitórias) da Era Tite já seriam suficientes para colocar a equipe na liderança da competição - os nove pontos em seis jogos dos tempos de Dunga não fariam falta neste caso.

Mais impressionante que os números, só mesmo as atuações. E ontem a peleia não foi nada fácil: sabedor de suas várias limitações, o Paraguai de Chiqui Arce veio fechado à Arena Corinthians. Com o ex-lateral de Grêmio e Palmeiras no comando, os guaranis nunca tiveram mais posse de bola que o adversário - justamente o contrário de Tite no Brasil. Ontem, a posse brasileira ficou em esperados 68%. Os pentacampeões tiveram a pelota o jogo todo, quase sempre no campo de ataque, mas penetrar na área que é bom, nada.

Se nos toques curtos a marcação paraguaia conseguia sucesso por estar encaixada, a saída para abrir o caminho da vitória foi pelas individualidades. Coutinho, numa arrancada em alta velocidade, abriu espaço, tabelou com Paulinho em um espaço minúsculo e bateu de primeira para fazer 1 a 0. E a desvantagem não fez o Paraguai se abrir, ao contrário: a ideia de Arce parecia ser a de manter uma distância mínima de gols no placar para, num contra-ataque, tentar um empate milagroso. Porém, mesmo com o centroavante Santander em campo, seu time não ameaçou.

O segundo tempo foi todo de Neymar. Com arrancadas imparáveis pela ponta esquerda, ele desmontou o esquema paraguaio e irritou os adversários. Muito caçado em campo (sofreu nada menos que sete faltas), caiu só quando levou botinadas mesmo. De resto, muita vontade de entrar na área e verticalidade nas arrancadas. Fez um gol legal, outro bem anulado, iniciou a jogada do terceiro e chegou a perder pênalti - cavado por ele próprio, claro. Foi o craque da noite, mais uma vez.

Sobre o golaço de Marcelo, vale destacar a pintura que foi a jogada coletiva do Brasil. Inicia com Neymar, que inicia a tabela com Marcelo e Coutinho, a qual segue com Paulinho, que dá um toque de primeira, lindo, simples, curto e perfeito, para Marcelo ingressar na área e encobrir o goleiro Anthony Silva com enorme categoria. Um lance que envolveu jogadores de defesa, meio e ataque da equipe de Tite de forma absolutamente perfeita. É incrível que este time estivesse sem treinar junto há mais de quatro meses.

Primeiro país classificado para a Copa do Mundo de 2018, o Brasil enterrou, com Tite, um fantasma que foi aceso diante do próprio Paraguai, um ano atrás, no Defensores del Chaco. Naquele jogo, a equipe então treinada por Dunga perdia por 2 a 0, chegando a passar parte da noite na aterrorizante sétima colocação das eliminatórias. Buscou um empate aleatório nos minutos finais, mas terminou o jogo em sexto, fora da zona de classificação, situação que perdurou por cinco meses - com uma eliminação precoce na Copa América Centenário de brinde, vale lembrar. Hoje, é a única equipe, além da anfitriã Rússia, já garantida no Mundial, deixando a bronca para todos os demais conterrâneos, que estão espremidos numa diferença pequena de pontuação.

O desafio agora é não deixar o ritmo cair. Claro que a exigência de ir à Copa já foi cumprida, mas ainda há quatro jogos para manter o nível. Isso é especialmente importante: hoje, o Brasil talvez seja o maior candidato ao título mundial de 2018, pelo que vem jogando. Se tirar o pé do acelerador, poderá regredir e ver concorrentes fortes chegarem melhor ao torneio de daqui 15 meses.

Fotos: Lucas Figueiredo/CBF.

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