Dupla Gre-Nal vai mal, mas o Gauchão segue desigual com o domínio do eixo Capital-Serra

A rodada decisiva da fase classificatória do Campeonato Gaúcho resumiu bem o que foi esta etapa da competição: resultados surpreendentes, com tropeços da sonolenta Dupla Gre-Nal - o que dificilmente seria diferente diante de uma necessidade de desempenho tão baixa, já que dois terços dos participantes seguem adiante. No fim das contas, o Grêmio termina a primeira fase em 4º lugar, com medíocres 51,5% de aproveitamento, e o Inter em 7º, na "segunda página" da classificação, com irrisórios 42,4%. O desempenho conjunto dos dois clubes não era tão ruim em uma fase inicial desde 2005.

A má campanha dos gigantes da capital, a ótima primeira fase de Novo Hamburgo, Cruzeiro e Caxias e as enormes indefinições da última rodada tendem a nos levar a crer que o campeonato foi ótimo até agora. Principalmente surpreendente e equilibrado, parelho. Uma realidade que, no entanto, já é desfeita no primeiro olhar cuidadoso que fazemos a respeito da classificação da primeira fase.

Primeiro, olhemos para os times que caíram: Ypiranga e Passo Fundo vêm da Região Norte do Estado, a qual deve sair do mapa da elite em 2018, a menos que o União Frederiquense melhore subitamente de desempenho na Segundona e consiga subir. A seguir, viremos o olhar para os dois clubes do "limbo", os que não caíram, mas também não se classificaram: Brasil, de Pelotas, e São Paulo, de Rio Grande. Os dois representantes da Zona Sul.

Ao final da fase classificatória, temos um cenário que ainda não havia ocorrido desde que o Gauchão voltou a adotar fórmula de turno único e oito classificados: somente clubes da Capital, Serra e Região Metropolitana de Porto Alegre estão nos mata-matas. Desde 2014, quando o regulamento mudou para o atual, isso jamais havia ocorrido: naquele ano, o Brasil era o "intruso"; na temporada seguinte, o Xavante ganhou a companhia de Ypiranga e Lajeadense; em 2016, o mesmo Brasil esteve junto novamente do Ypiranga e do rival São Paulo.

Nada disso é coincidência: o eixo Capital-Serra é disparadamente o mais rico do Rio Grande do Sul. Assim, antes de saudarmos uma suposta "democracia" no Campeonato Gaúcho, é preciso problematizar um pouco mais e irmos além da liderança do Novo Hamburgo, do desempenho abaixo do esperado de Grêmio e Internacional e de suas derrotas na última rodada. Primeiro, porque o estadual começará de fato agora, e a tendência de os dois grandes se imporem aumenta nos momentos decisivos; segundo, e principalmente, porque a concentração de finalistas das regiões mais abastadas do Estado há tempos não era tão grande. No fim das contas, o nosso estadual segue sendo desparelho: só ganhou uma boa maquiada para não parecer tão desigual assim.

Foto: Adilson Germann/Novo Hamburgo.

Comentários

Anônimo disse…
Fora que o regulamento não dá qualquer vantagem para quem fez melhor campanha. Novo Hamburgo (10 pontos a mais) e Cruzeiro (6) podem cair com um 0x0 fora e 1x1 em casa, p.ex.
Anônimo disse…
*adendo: dirão que faz o 2º jogo em casa, mas se o time leva 2x0 ou três de diferença na ida a tal vantagem significa praticamente nada.
Vicente Fonseca disse…
Essa do saldo qualificado é sacanagem. Acho básico pra qualquer campeonato neste molde funcionar com o Brasileirão de 1996: soma-se os resultados do mata-mata de forma simples, e se der empate no total dos dois jogos o time de melhor campanha segue adiante. É a melhor forma de valorizar a etapa classificatória. Jogar a segunda em casa é uma vantagem muito relativa: classifica só de 50% a 55% dos times, conforme já demonstramos em postagens mais antigas por aqui.
Franke disse…
Essa segunda fase podia ser só um mata (e não duas partidas). Para equilibrar (um pouco), Grêmio e Inter podiam ser obrigados a jogar sempre no interior. Inclusive a final, se for o caso. Se a ideia é valorizar o interior, manda os jogos pra lá. Arena e Beira-Rio já têm jogos suficientes ao longo do ano.