Uma tristeza sem tamanho

O luto permanece. Mas, passado o choque inicial, algumas poucas coisas podem ser ditas a respeito da tragédia de ontem.

1) Meu sentimento de profunda tristeza com o que aconteceu é duplo, triplo, múltiplo, pois além de toda a situação humana que envolve um momento tão triste como esse, vi profissionais conhecidos irem embora de uma hora para outra. E principalmente um deles: o Laion Espíndula, excelente profissional que cobria a Chapecoense para o Globo Esporte. Um companheiro de profissão, de pesquisas em jornalismo esportivo. Um cara com quem infelizmente nem convivi tanto assim em termos diários, mas cuja convivência foi sempre maravilhosa, e que considero um amigo não apenas por ter várias pessoas próximas conhecidas em comum, mas pela maneira agradável, simpática e simples de ser em todas as vezes em que nos falamos. Uma perda tão grave que foi capaz de potencializar essa tristeza absurda de uma forma ainda mais terrível. A notícia de sua partida foi pra arrasar ainda mais o meu dia e de todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo.

2) É de arrasar qualquer um pensar que toda a história construída pela Chapecoense nos últimos anos possa ter terminado de uma forma tão macabra. Pensar que aquela defesa do Danilo no fim do jogo com o San Lorenzo fosse entrar para a história como o último dos seus milagres. Eu ainda não cheguei a parar para pensar com calma em toda essa trajetória e traçá-la do início ao fim. Não sou tão forte assim pra aguentar no osso realizar esse tipo de exercício.

3) Ainda assim, dois pontos me deixaram muito feliz ontem. O primeiro, e principal deles, ver que a quase totalidade das pessoas ainda consegue se identificar em um momento trágico como esse. Ontem foi o dia mais triste da história do futebol brasileiro, mas também um dos que mais me deu esperança de como esse mundo ainda tem jeito. O clubismo foi deixado de lado, a mesquinhez foi deixada de lado e, com raras exceções, o espírito de porco também. As pessoas entenderam a dimensão desta tragédia. Os clubes também. O jornalismo também. Embora chocados, quase todos entendemos e respeitamos. Não fizemos piadinhas infames, repudiamos as poucas que os sem-noção inventaram de soltar. Eu não sou mais tão otimista quanto em outros tempos, pois o momento do nosso país não permite isso, mas se algumas poucas pessoas puderem mudar nem que seja por um tempo o modo como lidam com suas vidas, deixando de se preocupar com bobagens e materialismos, e valorizando o que realmente importa, colocando o amor em suas atitudes muito acima de ódios e rancores, já ficarei mais do que satisfeito. Que todos possamos ter aprendido um pouco com toda essa dor imensa que nos abateu e nos abaterá enquanto o que ocorreu ontem ecoar em nossas cabeças, é só o que peço e quero para mim e para aqueles que comigo convivem.

4) O segundo ponto positivo foi ver as enormes demonstrações de solidariedade que o mundo do futebol, especificamente, prestou à Chapecoense. Não apenas as merecidas homenagens, mas as atitudes práticas que tornam esse esporte tão grande: o óbvio adiamento de todos os jogos nacionais por uma semana; a iniciativa dos clubes brasileiros de emprestar jogadores gratuitamente para a Chape e pedir à CBF que ela fique imune ao rebaixamento por três anos; o auxílio financeiro que alguns gigantes europeus têm se disposto a dar para a reconstrução do clube catarinense; e, principalmente, a grandeza sem tamanho do Atlético Nacional, de pedir à Conmebol que declare a Chapecoense campeã da Copa Sul-Americana sem a necessidade de disputa da final. Esta foi a atitude mais nobre que já vi no esporte em toda minha vida. O futebol sempre foi muito mais do que um jogo, e ontem tivemos a mais linda prova disso: uma solidariedade fantástica num momento de profunda tristeza do mundo inteiro.

Desculpem alguns possíveis erros. Esse texto foi escrito sem muita preocupação com tamanho, revisão ou qualquer coisa do tipo, pois não estou ainda com cabeça para isso, embora não registrar esse momento e todo o sentimento que carrego seja inadmissível para um espaço que há mais de dez anos trata de futebol. Quando tivermos digerido ao menos uma pequena parte de tudo isso, aí sim, voltaremos ao ritmo normal.

Comentários

Lique disse…
é uma lástima sem tamanho. mas o pior de tudo é pensar que esse fim trágico pode ter sido causado pela ganância de uns poucos, um crime monumental.
Pati Benvenuti disse…
Só o fato de eu ter tantos amigos e conhecidos de alguma forma relacionados ao jornalismo esportivo foi suficiente pra acabar comigo, mesmo.

Que troço terrível, até agora, sempre será.