Um Inter que foge da lógica precisará contar com o imponderável para não cair

Apagado, Vitinho deixou o campo sentindo e pode ser desfalque
Ontem, muito se saudou antes do jogo contra a Ponte Preta o fato de Celso Roth ter escalado uma equipe menos inventada e mais racional, com William na lateral e Sasha aberto pelo meio. Mas não se enganem: isso só ocorreu porque Ceará se lesionou. Não fosse a lesão do experiente lateral, provavelmente o treinador daria continuidade à formação que vinha atuando desde o Gre-Nal. Após o último treino da partida, mesmo com atuações abaixo das necessidades de um time para se manter na Série A, Roth deu entrevista coletiva elogiando o nível de atuações de seu time. Não surpreende: falta humildade e autocrítica à gestão de futebol do Internacional, desde seu presidente até o técnico.

O problema é bem antigo, e tem origem, curiosamente, no atual treinador do adversário principal do Inter na luta contra o rebaixamento. No período de Argel Fucks, todos se satisfaziam com vitórias normalmente magras, esquecendo de olhar as atuações fracas da equipe vermelha naqueles enganosos bons resultados. A vice-liderança do returno de 2015 mascarou deficiências de um time que dependia demais dos chutes potentes de Vitinho para ter alguma chance de marcar gols. A formação de um grupo mais qualificado foi negligenciada diante disso, do aleatório título estadual e do começo fora da curva neste próprio Brasileirão - que é o que ainda tem sustentado o time na briga, pois, não fossem os absurdos 19 pontos nas oito primeiras rodadas, o Inter já estaria na Série B - nas demais 27, o time fez só 20 pontinhos, só mais que o já rebaixado Santa Cruz.

Ontem, era obrigação vencer. Não pela maior camisa do Colorado, pelo Beira-Rio cheio ou qualquer coisa simbólica, mas pelo lado prático. Internacional e Vitória disputam palmo a palmo a permanência na primeira divisão, e todos que acompanham esta briga sabem que a tendência era de uma alternância entre ambos na 17ª colocação até a rodada que vem. Da 34ª à 36ª partida, quem jogasse em casa teria a obrigação de vencer para deixar o concorrente momentaneamente para trás. Portanto, não se enganem com as campanhas quase empatadas de ambos: o Inter perdeu terreno ontem, o que pode ter sido fatal, pois sua tabela é bem mais complicada que a dos baianos nos três jogos que restam.

Muito se fala que Roth pegou o Inter na 13ª colocação e o deixou na zona de rebaixamento. Contra fatos não há argumentos, mas a análise precisa ir além disso: seu aproveitamento, de 37,9%, é praticamente idêntico ao da campanha toda (37,1%). Ou seja, sua contratação não fez efeito algum no sentido de mudar a trajetória de um time que já vinha fazendo campanha medíocre no Campeonato Brasileiro. O que Fernando Carvalho buscava no seu treinador de confiança era que ele tirasse do time um pouco mais do que ele pode dar. Algo em torno de 50% de rendimento, que levaria o Inter a ter hoje 44 pontos, longe do Z-4. Roth repetiu, portanto, o que o Internacional já vinha fazendo. E repetiu, também, seus desempenhos mais recentes pelo Brasileiro, com Vasco e Coritiba (com ambos teve aproveitamento inferior a 40%).

A Ponte não tinha mais nada o que fazer no campeonato, e ainda assim poderia até ter vencido. Saiu perdendo cedo, como o Santa Cruz 20 dias atrás. Porém, bastou a empolgação colorada baixar que já equilibrou o jogo. Na volta do intervalo, com Rhayner e Wellington Paulista em campo, Eduardo Baptista deu um nó simples em Roth, que não soube desatá-lo. William Pottker, surpreendentemente aberto pela direita, impedia os avanços (e levava vantagem sobre) de Geferson. A mexida inibiu as subidas agudas de Valdívia, agora obrigado a marcar, e Roth simplesmente não soube sair disso. Sofreu o empate e mexeu de forma simplória, sem alterar ooesquema tático. Viu seu time praticamente não criar mais nada e afundou num empate desastroso.

A racionalidade, a lógica e a coerência passaram muito longe do futebol do Internacional em 2016. Uma semana atrás, Carvalho chegou a comparar algumas iniciativas de Celso Roth às de Pep Guardiola - em especial, a colocação de William como meio-campista, mudança que não venceu um jogo sequer enquanto foi adotada. Já o treinador, que tanto desprezou o meia Luis Seijas, ontem o colocou como solução mágica durante o jogo - isso sem falar em Nico López, há quase dois meses parado, sem qualquer ritmo competitivo. Roth tentou ambos no desespero, como forma de agradar a torcida, mas também como último recurso para tentar reverter uma situação que já era muito difícil. São erros e contradições demais para não serem punidos.

Incluir Seijas no time titular, por sinal, é basicamente a única coisa que o novo treinador pode agregar ao time. Lisca não conseguirá, em apenas três jogos, fazer um time fraco jogar o que nunca jogou no ano todo. Acrescentar o venezuelano à engrenagem de criação, aproximando-o de Vitinho, Valdívia e Sasha, é o que pode trazer um pouco mais de qualidade - e só isso pode salvar o Inter, pois coletivamente a equipe é muito mal concebida. Restam três jogos (Corinthians, Cruzeiro e Fluminense), dois deles fora de casa, e o Colorado não ganha há seis meses longe do Beira-Rio. Já o Vitória joga duas vezes em seus domínios (o virtualmente rebaixado Figueirense e o provavelmente já campeão Palmeiras), e visita o já tranquilo Coritiba fora. A tabela dos gaúchos é bem mais difícil, e por isso era fundamental terminar a rodada de ontem à frente. Agora, será preciso contar com resultados fora da lógica para evitar a queda.

Foto: Ricardo Duarte/Internacional.

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