Um Grêmio com cara de finalista

Em noite de gala, Douglas se prepara para fazer 2 a 0
O torcedor do Grêmio que quiser puxar pela memória a última atuação da equipe do tamanho da de hoje fora de casa num mata-mata terá de voltar bastante no tempo. Houve partidas muito boas, é verdade: em 2010, uma ótima vitória de 3 a 2 sobre o Fluminense; em 2002, uma virada sobre o River Plate no Monumental de Núñez. Mas uma atuação superior, de imposição técnica, uma vitória ao natural sobre um grande clube em uma decisão em estádio lotado faz 15 anos: foi no histórico 17 de junho de 2001, quando a equipe de Tite bateu o Corinthians, ganhando a Copa do Brasil daquele ano. Coincidência ou não, o último grande título do Tricolor Gaúcho.

Não se trata de uma comparação com aquele jogo, é apenas uma constatação. Mas qualquer comparação com grandes atuações históricas do clube cabem perfeitamente hoje, sem medo de exageros, pois o Grêmio foi enorme no Mineirão. Teve personalidade para não sentir o ambiente hostil, de 53 mil motivadas vozes cantando contra. Quase sofreu um gol de largada numa bobagem de Edílson, é verdade, mas foi um lance praticamente isolado dentro de uma atuação extremamente segura quase que o tempo todo.

A excelente noite gremista também se deu, claro, em função da atuação fraca do adversário. O Cruzeiro foi bem marcado pelo Grêmio, mas pouco fez para desvencilhar desta marcação. Foi um time lento, espaçado e previsível com a bola, e desorganizado e apático sem ela. Por outro lado, os jogadores gaúchos constantemente recebiam a posse com liberdade - inclusive, e principalmente, no campo de ataque. O toque de bola do time visitante raramente foi brecado pelos mineiros, a ponto de no golaço Luan nada menos que 24 passes tenham sido efetuados, todos da intermediária ofensiva em diante, girando de um lado para o outro, durante exatos 60 segundos. Uma pintura.

Eram apenas 19 minutos quando o Grêmio abriu vantagem, e o cenário já lhe era amplamente favorável. O Cruzeiro não conseguiu exercer a pressão inicial habitual de um mandante, era acossado em seu campo de defesa desde os 15 e saía perdendo, esfriando o Mineirão. A naturalidade com que os gaúchos controlaram o primeiro tempo foi assustadora, mostrando um desnível entre os times inesperado para todos que previam um duelo equilibrado. Se houve um pecado, foi o de não ir para o intervalo com vantagem maior que o 1 a 0.

Na etapa final, sem o toque de bola qualificado de Maicon, o Grêmio começou mais recu as chances foram raras: uma falta cometida por Kannemann à frente da área que Edimar bateu com perigo e um contra-ataque em quatro contra dois, que Sobis bateu mal e Geromel aparou a conclusão. Os únicos dois lances em que o empate esteve relativamente perto de acontecer, mas a tentativa de pressão durou pouco, já que logo a seguir Douglas ampliou a vantagem e encaminhou de vez a vitória e a classificação. O time reativo deu lugar novamente a uma equipe de controle total do jogo, e teve chances inclusive de sair de Belo Horizonte com uma goleada.

Encaminhar a vaga na final, porém, não é oficializar. O Grêmio traz para a Arena uma vantagem imensa, mas corre um único risco: o de sentar na vantagem e fazer da partida de volta uma festa, e não uma decisão, como ela deve ser, apesar do 2 a 0 construído fora de Porto Alegre. A classificação diante do Atlético-PR, com vitória fora e derrota em casa, é um bom exemplo para servir de alerta. Mas o nível apresentado hoje foi claro: a equipe gaúcha está pronta não apenas para decidir, mas para inclusive vencer a Copa do Brasil e encerrar o longo jejum de grandes títulos que vive. Vem fazendo gols em todos os jogos fora de casa, superou um mau momento para tirar o Atlético-PR, eliminou o quase-campeão brasileiro Palmeiras com personalidade. Faltava, ainda, uma partida de excelência como a de hoje. E a última atuação deste nível, conforme já lembramos, coincidiu com uma conquista deste mesmo tamanho.

Em tempo:
- Depois de escalar Douglas como meia recuado em seus primeiros jogos, Renato voltou a adiantar o camisa 10 gremista. Dono do jogo, fez um belo gol com o pé direito e comandou tecnicamente a equipe ao lado de Luan - que, com Portaluppi, vem tendo posicionamento mais parecido com o da seleção olímpica que nos tempos de Roger Machado, alternando entre o miolo da área e a criação no meio.

- Depois de anular Gabriel Jesus e Vitinho, Kannemann foi perfeito no enfrentamento com outro ótimo atacante, Ramon Ábila. O zagueiro argentino é a melhor contratação da temporada tricolor.
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Copa do Brasil 2016 - Semifinal - Jogo de ida
26/outubro/2016
CRUZEIRO 0 x GRÊMIO 2
Local: Mineirão, Belo Horizonte (MG)
Árbitro: Péricles Bassols Pegado Cortez (PE)
Público: 53.452
Renda: R$ 1.606.821,00
Gols: Luan 19 do 1º; Douglas 16 do 2º
Cartão amarelo: Kannemann
CRUZEIRO: Rafael (5,5), Lucas (4) (Alisson, intervalo - 5), Léo (5), Bruno Rodrigo (4,5) e Edimar (4,5); Denílson (4,5) (Alex, 25 do 2º - 5), Romero (5), Robinho (4) e Arrascaeta (5); Rafael Sobis (4) (Willian, 21 do 2º - 4,5) e Ábila (4,5). Técnico: Mano Menezes
GRÊMIO: Marcelo Grohe (6), Edílson (6), Geromel (6,5), Kannemann (7) e Marcelo Oliveira (5,5); Walace (6,5), Maicon (6,5) (Jaílson, intervalo - 6), Ramiro (6,5), Douglas (8) e Pedro Rocha (5,5) (Everton, 24 do 2º - 5,5); Luan (7,5) (Kaio, 41 do 2º - sem nota). Técnico: Alexandre Mendes

Foto: Lucas Uebel/Grêmio.

Comentários

Marcelo disse…
Bela análise, Vicente, mas tu não foi meio econômico nas notas? 2x0 fora de casa, Cruzeiro quase não ameaçou o gol do Grêmio, 6,5 pro Geromel e 7 pro Kannemann?
Abraços!
Vicente Fonseca disse…
Obrigado, Marcelo!

Sou sempre bastante exigente nas notas, seguindo o padrão da Placar dos velhos tempos. Deixo notas mais altas pra casos realmente marcantes. Dei 6,5 pro Geromel porque, apesar de ter ido muito bem, não foi tão exigido como em partidas anteriores. Pro Kannemann, talvez desse 7,5, não fosse aquela falta desnecessária na entrada da área no começo do segundo tempo. Mas nota 7, por este padrão, é uma atuação muito boa. Luan (7,5) é ainda um pouco além, e Douglas, com 8, é o cara da partida.

Abraços!
Chico disse…
O Tricolor foi muito copero ontem. Dominou o jogo o tempo inteiro, tocou a bola, deixou o cúzeiro nervoso em campo e ainda catimbou em cada parada de bola.

Douglas e Luan acabaram com a partida.

Vamos com tudo para a partida de volta.

Olha o Tricolor chegando na Copa.