É justo comemorar, mas é preciso melhorar também

Danilo Fernandes, o herói da noite, pega pênalti decisivo
Buzinaços, gritos de desafogo, comemorações. O torcedor colorado extravasou ontem à noite. Não é para menos: a vitória sobre o Coritiba teve todos os ingredientes épicos que qualquer torcida mais gosta: goleiro com nariz quebrado pegando pênalti, jogador sangrando após dividida e voltando na base da raça, pênalti e gol no fim do jogo e vitória suada, arrancada mais na base da camisa e da vontade que na qualidade, em casa, com estádio lotado e animado, e diante de um concorrente direto. Como o Internacional vai cair diante de tanta força na hora decisiva?

Antes de fazer as ponderações mais que necessárias, é preciso que ressalte o fato de que, a essa altura do campeonato, o que mais o Inter precisa é isso tudo mesmo: vencer, do jeito que der, jogando bem ou não. Boas atuações são absolutamente dispensáveis agora, desde que o resultado venha. Contra Figueirense e Coritiba, dois duelos decisivos em casa, a equipe de Celso Roth conseguiu, e sem sofrer gols, o que não ocorria há mais de um turno dentro do Brasileirão. Os seis pontos nestes dois jogos eram absolutamente fundamentais para que a situação passasse de desesperadora a difícil.

Porque sim, ela ainda é difícil, por mais que a maré de otimismo tome conta agora. E aí chega a hora de analisar o desempenho do Inter. Mas boas atuações não eram dispensáveis? Sim, claro, e continuarão sendo até dezembro. Mas a qualidade do futebol apresentado traz indícios do que o time pode render pela frente. E se tabela colorada prevê Botafogo, Grêmio, Palmeiras, Corinthians e Fluminense fora de casa, além do vice-líder Flamengo no Beira-Rio (todos lutando por título ou Libertadores, portanto), será preciso,além da vontade, jogar mais do que nestes dois jogos. Bem mais.

A boa notícia é que há evoluções, especialmente no que tange a resultados. Vencer traz confiança e alívio, e o Inter há tempos vai mal também porque é um time pressionado e tenso. Contra o Coritiba, mais uma vez, o desempenho foi absolutamente preocupante: em boa parte do jogo, o time gaúcho se viu dominado dentro do Beira-Rio por um adversário mais organizado e consciente do que queria no jogo. Antes mesmo do pênalti desperdiçado por Juan, o Coxa tinha criado a melhor chance da partida, numa cabeçada de Iago à queima-roupa defendida milagrosamente de mão trocada por Danilo Fernandes.

Pelo lado colorado, a melhor chance havia sido um chute de fora da área de Alex na trave de Wilson. Não foi por acaso: durante toda a noite, o time de Roth criou pouco, apelou para ligações diretas, teve dificuldades em sair jogando e teve de finalizar de longe para ameaçar a meta do Coxa, que, mesmo sem três de seus principais jogadores (Alan Santos, Kléber e Kazim), poderia muito bem ter vencido a partida dentro do Beira-Rio.

Aí está a importância de algo que tanta falta fazia ao Internacional: qualidade individual. Vitinho, por exemplo, foi muito mal, mas bateu o pênalti com precisão. Decidiu também contra o Figueirense, e em vários jogos do ano passado e do primeiro semestre. Não pode não estar no time para que jogue Aylon, bem como Seijas não pode ser reserva para que Anselmo atue. Porque se na qualidade coletiva este Inter não se segura na primeira divisão, talvez na individual consiga. Ainda assim, vai precisar crescer nas rodadas finais para encarar as pedreiras que vêm pela frente de forma a conseguir os tão sonhados 45 pontos. Até porque, vale lembrar, Cruzeiro e Figueirense ainda jogam nesta rodada, e em casa, podendo envolver os gaúchos à zona de rebaixamento já neste sábado.

Cautela, já diria um certo treinador, faz muito bem nos momentos de euforia.

A Seleção voa
Era contra a Bolívia? Era. Mas contra Peru, Venezuela e outros tantos times fracos, o Brasil de Dunga penava para fazer gols, e eventualmente até perdia. A goleada de 5 a 0 aplicada em Natal pela Seleção comandada por Tite só por isso já deveria ser saudada. Mas a qualidade apresentada permite, sim, que todos elogiem e se animem com o que tem se visto. O Brasil é outro: em um mês com o novo treinador, já subiu enormemente de patamar. A dúvida nem é mais sobre se irá ou não à Copa da Rússia, mas se chegará nela mantendo este nível. Se conseguir, se tornará uma das favoritas, como quase sempre.

A entrada de Giuliano como uma espécie de Elias dos tempos de Tite no Corinthians melhorou o Brasil em relação ao que Paulinho apresentou contra Equador e Colômbia, mas vale lembrar que diante dos bolivianos a exigência defensiva é menor, o que permite este tipo de alteração mais ousada. Agora, diante da Venezuela, surge um novo desafio: ir a campo sem Neymar, principal jogador da equipe e da partida de ontem. Mas, pelo que se tem visto, não deve ser traumática a ausência do camisa 10, por mais que Willian, seu provável substituto, não esteja em bom momento. A fraqueza do adversário e as ótimas partidas que o Brasil tem feito sugerem uma vitória ao natural em Mérida terça que vem.

Mais um causo sudaca
Procurado por não pagar pensão alimentícia, Enner Valencia escapou três vezes da polícia enquanto esteve em solo equatoriano nos últimos dias. A última foi espetacular: simulou lesão nos minutos finais da partida contra o Chile, fugiu de carro-maca e entrou rapidamente na ambulância para não ser preso. E, embora não pagar pensão seja uma atitude realmente condenável, não há problema algum em dar umas boas risadas deste episódio insólito, afinal, tudo acabou bem: o jogador apresentou as garantias bancárias necessárias para quitar a dívida e escapou do xadrez. E, claro, o seu Equador bateu os chilenos por 3 a 0 e voltou à zona de classificação para a Copa do Mundo. O vídeo é de dar gargalhadas.



Foto: Internacional/Divulgação.

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