Apesar dos erros e da falta de títulos, os acertos de Roger pelo Grêmio foram mais marcantes

Roger durou os mesmos 472 dias que Luxemburgo pelo Grêmio
O Grêmio se despede de Roger Machado do mesmo tamanho que quando o contratou: segue em sua imensa fila. Obteve algumas boas campanhas, conquistou uma histórica goleada em clássico, mas não conseguiu nenhum título nestes 15 meses com ele na casamata. Mas a recíproca não é verdadeira: Roger deixa o comando do Tricolor por conta própria, após ter pedido para sair de forma tão irrevogável quanto surpreendente ao presidente do clube. E com um cartaz muito maior do que quando chegou.

É que o desempenho conta neste caso, e ele foi muitas vezes brilhante. Se o 2016 gremista é cheio de altos e baixos, o 2015 foi ótimo, e quando ninguém esperava. Com praticamente o mesmo time que sofria para jogar futebol nas mãos de Luiz Felipe Scolari, Roger obteve uma classificação folgada à Libertadores. Mas mais do que uma grande campanha, o que chamou a atenção foi o futebol apresentado pelo Grêmio ao longo do ano passado. Um jogo dinâmico, moderno, de marcação adiantada, posse de bola, criação abundante de chances de gol, passes curtos e rápidos. Deu tão certo que o estilo passou a ser ensinado nas categorias de base do clube. O time principal moldando a prata da casa.

A transformação repentina do nível do time e de sua forma de atuar chamou a atenção do país. De candidato à segunda metade da tabela, o Grêmio em pouco tempo se tornou um dos times mais interessantes de se assistir do futebol nacional. E Roger, cobiçado por clubes de outros estados - o São Paulo, ao perder Juan Carlos Osorio para a seleção mexicana, e o Corinthians, ao ver Tite ir para a brasileira, foram dois que sondaram o nome do técnico gremista. Hoje, logo após o anúncio de sua saída de Porto Alegre, torcedores corintianos já iniciavam campanha para que ele assuma o comando da equipe no lugar do contestado Cristóvão Borges.

Os acertos chamam a atenção pela transformação sofrida de forma repentina pelo Grêmio, um time que adquiriu um padrão de jogo conhecido de todo o país. Mas é claro que ninguém saiu de um clube sem títulos se não tiver cometido erros. Roger cometeu vários: por exemplo, indicou jogadores de sua confiança que não têm estatura técnica para jogar num clube deste tamanho, como William Schuster e Fred; ou então, em vários momentos, retirou do time peças que começavam a se afirmar sem aparente coerência, como Pedro Rocha no Brasileirão do ano passado e Lincoln no Gauchão deste ano.

Na derrota por 3 a 0 para a Ponte Preta, vários outros problemas crônicos se repetiram. Em primeiro lugar, dois dos três gols sofridos foram de cabeça, uma fraqueza que Roger simplesmente não teve competência de resolver. Em segundo, o problema de variação tática: seu time jogou muito bem no 4-2-3-1, mas não sabe atuar de outra forma. E o definitivo, que tem arruinado os últimos 20 dias do Grêmio, é o mesmo que ajudou a demitir Felipão: o erro no posicionamento de Luan. Foi Roger que redescobriu o camisa 7 como centroavante, após Scolari tê-lo desperdiçado meses e meses como meia. Nos últimos tempos, para acomodar Miller Bolaños no time, ele deslocou seu melhor jogador para a função que não é lhe natural. Ainda assim, Luan foi o único gremista que se salvou em Campinas.

Não será fácil encontrar um bom substituto para Roger. Há nove anos sem começar e terminar a temporada com um mesmo treinador, o Grêmio tem o desafio de encontrar um nome que seja capaz de manter o padrão de jogo consolidado pelo seu agora ex-técnico, para amenizar o impacto da perda e não jogar fora um bom trabalho de quase dois anos. Não há tantos nomes parecidos com ele no mercado, tampouco qualificados desta maneira. Se Roger sai maior do Grêmio, o Grêmio terá de se desdobrar para não ver seu time diminuído sem Roger.

Foto: Rodrigo Rodrigues/Grêmio.

Comentários

Anônimo disse…
Os erros não explicam como um treinador sai na 25ª rodada com o time em sexto lugar no brasileiro. Algum confronto interno devia haver, e chegou ao ponto do insustentável. Jogaram 2016 no lixo e provavelmente 2017 também, pois quem quer que venha vai ter respaldo aonde com uma direção que nem sabe se vira o ano?

Já fiquei bravo muitas vezes com esse clube, mas essa tirou até a gana de me irritar. E o Roger logo vai estar em outro clube, com bem mais condições do que a fritura que fizeram aqui.
Franke disse…
Poucas vezes fiquei tão decepcionado com o Grêmio. É para tirar umas férias do time.
Lique disse…
acho que renato é, de novo, a opção natural. se não for ele, não vejo ninguém desempregado que pode dar o que o grêmio precisa. muricy seria bom, se não tivesse a saúde aos pedaços (vai trabalhar ainda?)

rogério zimmerman seria a bola da vez, mas não é o momento de largar o BR-RS nesse momento histórico.
Fosse eu dirigente, apostaria minhas fichas num estrangeiro, já que virou moda (Bauza, Aguirre, Osorio).

Libertadores mostrou bons exemplos, como Munúa no Nacional ou Coudet no Rosario. O primeiro, que eu lembre, saiu do Bolso. Não sei se ainda tá desempregado.

Mas como tem uma eleição ali adiante e os dirigentes vão pensar em um nome que agrade a maioria, Renato vira a escolha natural. Mesmo 2 anos parado e provando várias vezes que não é técnico e nem se atualiza sobre o futebol da atualidade.
Vicente Fonseca disse…
Vocês estão partindo do princípio de que o Grêmio é quem demitiu o Roger, mas a versão oficial é justamente o contrário: ele teria pedido para sair na derrota para o Curitiba, a direção não aceitou, e aí não conseguiu segurar o novo pedido de demissão em Campinas. Em princípio, por conta disso, não consigo culpar os dirigentes pela saída do Roger.

Mas claro, se foi deles a iniciativa, acho um erro lamentável e imediatista.