Tarde de frustração

Grêmio de Jaílson deixou escapar vitória no fim do jogo: 1 a 1
Dos três tropeços do Grêmio dentro de casa neste Campeonato Brasileiro, nenhum foi mais frustrante que o de hoje à tarde. Contra Vitória e Santa Cruz, naqueles irrecuperáveis cinco pontos perdidos, a palavra mais correta é decepção. Hoje, não: o time de Roger Machado fez uma boa partida, dominou o Atlético-MG em quase toda a tarde, tinha a vitória nas mãos e cedeu o empate num lance isolado, no fim da partida. Um exemplo do que costumamos chamar de "água no chope".

Marcelo Oliveira escalou mal o Galo. Se a ideia era preservar Robinho fisicamente, muito melhor seria tentar preencher a função de criação com Hyuri, ou então trazer Maicosuel da ponta esquerda, onde produziu pouco, para o meio. Com três volantes e três atacantes, o time mineiro jogou descompactado a tarde toda, sendo dividido praticamente em dois. Não sofreu mais gols porque ao menos defensivamente esteve bem, fechando espaços com competência.

Já Roger tinha o chamado problema bom: como acomodar Jaílson, Maicon e Walace no mesmo time? Se o capitão gremista não faz o corredor que Ramiro fez na vitória de quarta-feira em Curitiba, a saída foi voltar para o esquema antigo. Porém, fazendo as vezes de Giuliano, Jaílson rendeu bem menos que em partidas anteriores. Outro problema foi que Luan esteve mais longe do gol do que deveria. Voltou demais para armar jogo e deixou de entrar na área, com tão bem sabe.

Ainda assim, o domínio gremista foi amplo. Com trocas de passes envolventes e de extrema paciência, o time gaúcho raramente rifou a bola e trabalhou as jogadas de forma insistente. Assim, foi criando chances. No primeiro tempo, o Atlético-MG, sem qualquer articulação, tinha nos lançamentos longos para Pratto e Fred a única jogada aguda. Porém, Wallace Reis e Kannemann foram soberanos no controle à dupla de centroavantes.

No intervalo, o treinador do Galo acrescentou qualidade colocando Douglas Santos em campo, para a saída de Lucas Cândido. A proposta, porém, seguiu a mesma. E o Grêmio prosseguia melhor, mais perto do gol, até que fez, com Luan, em chute que desviou na zaga. Só então é que Marcelo Oliveira lançou mão de Robinho, no lugar óbvio de Fred, uma nulidade em cancha. O camisa 7 deixou o time mineiro mais movediço, o que ajudou a criar uma mecânica ofensiva mínima. Ainda assim, o jogo era bem mais do Tricolor, que novamente perdeu um caminhão de gols, ótimas chances de ampliar a vantagem. Acabou castigado no fim, de forma cruel. Foram 24 chutes do Grêmio contra apenas 3 do Atlético-MG, um número definitivo sobre o que foi a partida.

O empate, claro, é péssimo. Com 36 pontos, o Grêmio está a sete do líder Palmeiras. O jogo atrasado atrapalha a análise, mas fica nítido que a distância começa a ficar grande: vencendo o Botafogo na semana que vem, ainda assim o time de Roger ficará a quatro pontos da liderança, e atrás do Flamengo, que venceu a Chapecoense e foi a 40. A favor está o fato de que três dos cinco rivais na luta pelo título já não enfrentam mais a equipe gaúcha, o que sugere uma tabela um pouco mais amena.

Ainda assim, é sabido que o Grêmio não é líder justamente por conta dos jogos contra os pequenos. Contra os cinco primeiros, os gaúchos têm um aproveitamento de 58,3%; contra os cinco últimos, de 53,3%. Mas mais do que isso, o problema está na campanha fora de casa. Fazer quatro pontos contra Corinthians e Atlético-MG e três contra o Flamengo está na cartilha. Em casa, o aproveitamento é de 78,8%. Fora, porém, é de 33,3%. Bater Botafogo e Coritiba em sequência longe de Porto Alegre é essencial para que o time volte à disputa da ponta. Palmeiras e Flamengo, os dois primeiros, ganharam (e bem) hoje, ambos como visitantes.

Para o Galo, ponto a ser comemorado. A equipe perde contato com o líder Palmeiras, mas consegue um resultado que quase ninguém tem obtido na competição. Pela atuação fraca que teve, o resultado caiu do céu.
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Campeonato Brasileiro 2016 - 22ª rodada
28/agosto/2016
GRÊMIO 1 x ATLÉTICO-MG 1
Local: Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Cláudio Lima e Silva (SE)
Público: 32.963
Renda: R$ 1.111.535,00
Gols: Luan 7 e Robinho 41 do 2º
Cartão amarelo: Wallace Reis, Walace, Miller Bolaños, Kannemann, Lucas Cândido, Leonardo Silva, Fred e Rafael Carioca
GRÊMIO: Marcelo Grohe (5,5), Edílson (5,5), Wallace Reis (6,5), Kannemann (6,5) e Marcelo Oliveira (5,5); Walace (6,5), Maicon (6,5), Jaílson (5,5) (Guilherme, 42 do 2º - sem nota) e Douglas (6) (Ramiro, 36 do 2º - sem nota); Luan (6,5) e Miller Bolaños (5,5) (Henrique Almeida, 32 do 2º - 5). Técnico: Roger Machado
ATLÉTICO-MG: Uilson (6), Carlos César (5), Leonardo Silva (6), Ronaldo Conceição (5,5) e Fábio Santos (5,5) (Otero, 29 do 2º - 5,5); Rafael Carioca (6), Leandro Donizete (5,5) e Lucas Cândido (4,5) (Douglas Santos, intervalo - 6); Pratto (5,5), Fred (4) (Robinho, 15 do 2º - 6,5) e Maicosuel (5,5). Técnico: Marcelo Oliveira

Foto: Lucas Uebel/Grêmio.

Comentários

Anônimo disse…
Achas que o Roger errou nas alterações? Vi gente criticando a entrada do Ramiro, pois o time ficou com 4 volantes de origem por um tempo, mas não me pareceu que eles tenham jogado estritamente como volantes. O Walace, por exemplo, armou e chutou a gol desde o primeiro tempo.

Não me pareceu que o Grêmio tenha "chamado" o Atlético, mas antes que faltou fazer o segundo e definir o jogo. E contra um time perigoso, dar uma ou duas chances às vezes é o bastante, como aconteceu.
Vicente Fonseca disse…
Acho que ele errou, sim, mas não por conta dessa história de quatro volantes. O Walace realmente avançou, por exemplo. A questão é que a saída do Douglas deixou o time sem um jogador criativo perto dos atacantes. Acho que havia duas alterações melhores: colocar o Lincoln e substituir um meia por outro ou o Pedro Rocha/Guilherme, recuando Luan para a armação.

Falar que o Roger retrancou o time e chamou o Atlético-MG é simplismo: o Grêmio seguiu melhor em campo mesmo com os quatro teóricos volantes em campo. Não foi por conta dessa alteração que tomou o gol.
Chico disse…
E assim o Tricolor vai entregando mais um campeonato.
Franke disse…
Agora é aquele clássico e exuberante momento em que o Grêmio podia emendar umas três, quatro vitórias marotas, discretas, sem emoção, sem "boas atuações", em jogos chatos e truncados, horríveis de se ver.