Internacional, há uma década



Já virou praxe colorados celebrarem o 16 de agosto como uma data das mais festivas da história do clube. Há dez anos é assim: neste mesmo dia, mas em 2006, o Internacional empatou com o São Paulo em 2 a 2, resultado que, combinado à vitória de 2 a 1 no Morumbi sete dias antes, deu ao clube sua primeira Libertadores.

O primeiro título internacional oficial da história colorada quebrou uma série de tabus: ali foi encerrado um enorme jejum de 14 anos sem que o clube gaúcho tivesse conquistado nenhuma taça além das fronteiras do Rio Grande do Sul, período no qual o rival Grêmio só não ganhou o Mundial Interclubes. Na comparação com o tradicional adversário, foi também o fim de uma flauta histórica tricolor: lá se iam 23 anos em que o Grêmio era o único time do estado a ter títulos internacionais no currículo. Foi uma noite de glória, mas também de desafogo, portanto.

A campanha foi brilhante. Em 14 jogos, o Inter só perdeu uma vez, na altitude de Quito, para a LDU, por 2 a 1. Fora de casa, o time de Abel Braga ganhou três partidas, empatou outras três e só perdeu esta, no Equador. Se o aproveitamento de 57,1% como visitante foi alto, como mandante superou: 81,0%, com cinco vitórias e dois empates em sete partidas. Ao todo, o Inter ganhou oito vezes, empatou cinco e só perdeu uma, com 69,0% de rendimento médio. Goleou dois rivais: Nacional (3 a 0) e Maracaibo (4 a 0), ambos na fase de grupos. Foram 24 gols a favor e só dez contra.

A dramática final, claro, é o jogo mais emocionante e lembrado da campanha, mas houve diversos episódios memoráveis na trajetória, iniciada com um gol do lateral Ceará em Maracaibo: as duas viradas sobre os mexicanos do Pumas, em especial a de Porto Alegre, quando o time perdia por 2 a 0 e virou para 3 a 2; o golaço espetacular de Rentería em outra virada esplêndida, contra o Nacional, em Montevidéu; as duas vitórias sobre LDU e Libertad, resultados que permaneciam indefinidos mesmo durante o segundo tempo dos dois jogos de volta; e, claro, a histórica atuação de Rafael Sobis na vitória categórica sobre o São Paulo, no Morumbi, no jogo de ida da decisão.

O mito Fernandão, claro, foi o nome maior da decisão. Com 5 gols, ele foi um dos 14 artilheiros da competição. Um deles, o primeiro da finalíssima, aproveitando falha de Rogério Ceni na pequena área. O capitão também participou do segundo, dando assistência para Tinga marcar, e foi decisivo também em São Paulo, no lance do segundo gol de Sobis. Não estará presente na festa de hoje à noite pelos mais tristes motivos. Ou melhor, estará, com sua merecidíssima estátua em frente ao Beira-Rio, ao lado da rua batizada com o seu nome.

O momento é complicado, claro. Não existe clima positivo algum no Inter atualmente, mas estas ocasiões servem justamente para lembrar onde está a grandeza do clube, esquecida há bastante tempo, o que tem se refletido nos péssimos resultados de campo. Até porque domingo há o mesmo São Paulo de dez anos atrás pela frente, em uma tarde que promete ser bem menos empolgante, mas cuja necessidade de vitória é tremenda, ainda que por motivos pouco nobres. Voltar ao passado, nem que seja por uma noite, pode ser bastante saudável para se encarar a dura realidade com um pouco mais de otimismo. O histórico 16 de agosto de 2006 merece todas as melhores homenagens e eternas lembranças.

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