Raros campeões de Libertadores a mereceram tanto quanto o Atlético Nacional de 2016

Atlético Nacional bateu recordes em sua campanha vitoriosa
Entre tantos dados extraordinários da trajetória do Atlético Nacional nesta Libertadores, dois chamam atenção de forma especial. O primeiro é o impressionante desempenho do atacante Miguel Borja, contratado no intervalo da Copa América junto ao modesto Cortuluá: foram quatro jogos e cinco gols, dois em cada jogo da semifinal e um na decisão. Os números são absolutamente idênticos aos de Pelé no mítico Santos bicampeão em 1963. Claro, óbvio, que não dá para comparar um jogador com outro, ninguém é louco a este ponto. Nem mesmo comparar os dois times é algo que seja sinal de plena sanidade mental.

Mas o outro dado extremamente chamativo é a prova máxima de que o campeão da América de 2016 é um time especialíssimo: nunca, na história da Libertadores, uma equipe conquistou mais pontos que o Atlético Nacional deste ano. Bom, alguns times foram campeões fazendo entre 6 e 12 jogos entre os anos 70 e 80. O Racing de 1967, se fossem três pontos por vitória, teria feito 46 pontos naquela edição, mas em 20 jogos - um aproveitamento de 76,7%, ainda assim inferior aos 78,6% do Nacional deste ano. Como eram dois, fez 32.

Portanto, seja por qual prisma decidamos olhar, a campanha do time de Medellín em 2016 está entre as maiores de todos os tempos do torneio. Foram dez vitórias, o maior índice em 40 anos, ao lado do Estudiantes de 2009 e do Boca de 2003 (o River de 2015, por exemplo, ganhou só cinco jogos). Foi disparado time que mais ganhou partidas neste ano, o que menos perdeu (só uma), o melhor ataque (25 gols), a melhor defesa (0,43 gol sofrido por jogo, apenas 6 em 14 partidas) e a melhor campanha da primeira fase. Não há índice que não seja dominado pelo Atlético Nacional nesta temporada.

Pensado a partir do trabalho de Juan Carlos Osorio, o time verdolaga ganhou mais equilíbrio nas mãos de Reinaldo Rueda. Do antigo técnico, herdou o dinamismo, a intensidade e o gosto por agredir o adversário; do novo, estabeleceu um padrão de jogo consolidado, menos "camaleão" que o tornou praticamente imbatível. O Atlético Nacional perdeu nos últimos dois anos nomes como Cardona e Cárdenas, expoentes do time vice-campeão da Sul-Americana de 2014, mas apostou na manutenção da base. Bocanegra, Henríquez, Armani, Díaz, Mejía e Berrío estão há tempo no clube. No meio, o volante Guerra assumiu em 2016 um protagonismo que antes pertencia a nomes como os próprios Cardona e Mejía na coordenação do setor. Fez uma Libertadores de craque, como o habilidosíssimo Macnely Torres e o jovem Marlos Moreno. Nenhum dos três foi destaque ontem, mas o desempenho de todos ao longo do torneio foi impressionante.

O predestinado Guerra comemora o gol do título do Nacional
Somente o Rosario Central conseguiu derrotar o Atlético Nacional nesta Libertadores - ainda assim, em um jogo no qual os colombianos sofreram um gol cedo, reagiram e poderiam ter saído do Gigante de Arroyito com um empate. Foi precisamente o confronto com os argentinos, nas quartas de final, a grande prova de fogo. Ali, ao reverter no finzinho uma desvantagem que chegou a ser de dois gols no agregado, veio o sinal de que a equipe estava pronta para, 27 anos depois, voltar ao topo da América do Sul. Os dois jogaços foram o obstáculo mais complicado de uma campanha na qual o time quase sempre sobrou: passou como quis (cinco vitórias e um empate) pela etapa de grupos, eliminou o Huracán sem sustos nas oitavas, passou voando pelo São Paulo nas semifinais e derrotou o surpreendente Independiente del Valle na decisão.

O fato de enfrentar um adversário de menos tradição no duelo derradeiro em nada diminui a conquista. Pelo contrário: os equatorianos, à exceção do Rosario Central, foram os que mais resistência impuseram ao Atlético Nacional nesta Libertadores. Assustados, saíram perdendo cedo, em uma falha injusta e injustificável do zagueirão Mina, novo reforço do River Plate e outro dos destaques da equipe na competição. Aos poucos, foram crescendo no jogo. Chegaram a dominar a primeira metade da etapa final, tiveram um pênalti sonegado por Néstor Pitana, e logo passaram a ser controlados novamente.

O erro grave de Pitana mancha sua atuação, é uma injustiça com o Independiente del Valle, mas não tira o brilho da conquista do Nacional. Superar na decisão o único time na história que eliminou Boca Juniors e River Plate na mesma Libertadores, e ainda por cima fora de casa nas duas façanhas, é um feito enorme, imenso. Raras vezes uma conquista foi tão merecida. A América está em ótimas mãos.

Fotos: Atlético Nacional/Divulgação.

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