No Gre-Nal matutino, pesaram a eficiência e a maior maturidade do Grêmio

Douglas aproveita falha de Muriel e dá vitória ao Grêmio: 1 a 0
Embora não tenha dominado os 90 minutos de jogo e tenha tido menos conclusões e chances claras de gol, o Grêmio levou a melhor no Gre-Nal 410. Venceu porque é mais maduro, mais arrumado. Venceu porque tem mais qualidade técnica e principalmente coletiva que o Internacional, e provou isso utilizando-nas nas oportunidades que criou. Venceu, enfim, porque foi mais eficiente. Recuou demais no segundo tempo, é verdade, mas foi superior em quase todos os aspectos no primeiro.

Se o time de Roger Machado raramente muda de formação, o de Argel Fucks entrou modificado. Fazia tempo que o Inter não entrava em campo com três volantes. O objetivo era congestionar o meio e dificultar o toque de bola que é a marca gremista. Mas não deu certo: com personalidade, o time visitante encontrava espaços na base justamente destas trocas de passe qualificadas. Com marcação adiantada, o Grêmio forçava o erro colorado na saída e frequentemente pegava a defesa desprevenida. O gol de Douglas surgiu de um contragolpe muito bem armado e numa falha de Muriel (mais uma dele em clássicos), mas antes dele o time azul já chegara pelo menos duas vezes com perigo. Everton, em grande fase e com vitórias pessoais constantes mais uma vez, era o mais acionado.

O grande problema da estratégia de Argel é que ela deixava seu time ainda mais travado do que ele normalmente já é. Se com dois meias o Inter já sofre para criar chances, com apenas Seijas ficava sem a bola e se limitava a tentar neutralizar o Grêmio e rezar para conseguir um cruzamento na área ou um escanteio, principal deficiência gremista. A entrada de Gustavo Ferrareis no lugar do amarelado Fernando Bob mudou o clássico: menos pela qualidade do menino (que até entrou bem), mais pelo fato de ele ter deixado o Inter um time mais solto. A equipe vermelha, enfim, saiu de uma pressão que o Grêmio exercia na base da superioridade técnica e tática de seu time.

O primeiro pecado gremista no final da manhã deste lindo domingo porto-alegrense foi justamente não ter matado o jogo quando teve a chance, entre o seu gol e a entrada de Ferrareis em campo. O segundo ocorreu na volta do intervalo: era óbvio que o Internacional voltaria pressionando com tudo a que tinha direito. A maioria das chegadas perigosas veio na bola aérea, pois Argel sabe que este é o maior problema tricolor, mas mesmo por baixo o Inter criou, já que o Grêmio oferecia espaço demais e simplesmente não conseguia trabalhar a bola com a qualidade do primeiro tempo, o que, se realizado, tenderia a diminuir a pressão.

Everton levou vantagem diante de William no primeiro tempo
O jogo só se reequilibrou porque, a partir dos 20 minutos, o Colorado cansou. Isso também era uma obviedade: a cada minuto que passava, as chances de sair o gol rubro diminuíam, pois o time da casa esticou demais a corda e arriscou tudo num gol cedo. Aliando isso ao calor do meio-dia de um domingo mais de verão que de inverno apesar da época do ano, tivemos uma diminuição natural da pressão na segunda metade da etapa final. Ainda assim, o time vermelho teve algumas ótimas chances de marcar e poderia ter empatado - Paulão, em linda jogada sobre Walace, e Vitinho, passando fácil diante da indecisão de três gremistas, tiveram as oportunidades mais claras do empate.

A coletiva de Argel após o clássico foi uma das mais lúcidas dele desde que chegou ao Beira-Rio. Admitiu os problemas técnicos de seu time, e que ele precisa sempre dar o máximo para disputar jogos deste quilate em nível de alta competitividade. O que não se pode concordar é com a ideia de que, mais uma vez, o Inter voltou bem melhor para o segundo tempo, e que essa melhora é que deve modelar as atuações do time. Nada disso: tanto diante do Botafogo como hoje, o Colorado só pressionou o adversário na etapa final porque fez um primeiro tempo ruim, nos quais, em ambos, mereceu ir para o intervalo em desvantagem. O crescimento do Internacional nos 45 finais tem sido sempre consequência natural de quem sai em desvantagem e joga em casa. Por isso é que nem o jogo de domingo passado, nem o de hoje, tiveram resultados injustos.

A verdade é que o Inter de Argel é um time essencialmente reativo, e se atrapalha todo quando precisa correr atrás do placar. Nos dois últimos jogos em casa, perdeu seis pontos exatamente desta maneira. E eles, somados aos últimos oito pontos perdidos em três jogos longe do Beira-Rio, deixam o time longe da liderança e possivelmente fora do G-4 ao final da rodada. Em uma colocação, diga-se, mais condizente com o real potencial do elenco formado este ano pelo Colorado.

No caso do Grêmio, o erro de recuar cedo demais, visto diante do Atlético-PR, voltou a se repetir. O time de Roger não jogou em boa parte do segundo tempo, quando sabemos há mais um de ano que é justamente assim, valorizando a bola no campo de ataque e envolvendo os adversários a partir disso, que ele melhor se defende. Mas a vitória dá confiança. Aliada ao triunfo diante do Santos, recoloca o Tricolor na briga pela ponta e o deixa numa situação privilegiada na competição: nas seis rodadas finais deste primeiro turno, o Grêmio enfrentará os cinco piores times do Brasileirão até agora e o São Paulo, que prioriza a Libertadores. Com jogos apenas aos finais de semana por um mês, é a hora de recuperar os vários lesionados, dar o arranque, buscar o Palmeiras e tentar fechar esta primeira metade do campeonato até mesmo na liderança. Ganhar um Gre-Nal fora de casa, convenhamos, é um combustível e tanto para dar esta arrancada.

Campeonato Brasileiro 2016 - 13ª rodada
InternacionalINTERNACIONAL (0): Muriel; William, Paulão, Ernando e Artur; Fernando Bob (Gustavo Ferrareis), Rodrigo Dourado, Fabinho e Seijas (Valdívia); Vitinho e Eduardo Sasha (Anderson). Técnico: Argel Fucks
GrêmioGRÊMIO (1): Marcelo Grohe; Edílson, Rafael Thyere, Fred e Marcelo Oliveira; Walace, Jaílson (Ramiro), Giuliano e Douglas (Miller Bolaños); Everton (Pedro Rocha) e Luan. Técnico: Roger Machado
Local: Estádio Beira-Rio, Porto Alegre (RS); Data: domingo, 03/07/2016, 11h; Árbitro: Dewson Freitas Silva (PA); Público: 40.686; Renda: R$ 1.726.850,00; Gol: Douglas 19 do 1º; Cartão amarelo: Fernando Bob, Artur, Vitinho, Anderson, Luan, Rafael Thyere, Marcelo Grohe, Ramiro e Edílson; Nota do jogo: 6; Melhor em campo: Everton

Fotos: Lucas Uebel/Grêmio.

Comentários

Chico disse…
E o Tricolor patrolou o tratorzinho de argel

Douglas e Edílson: mitos

muriel e alisson: família de frangueiros a serviço do Tricolor
Chico disse…
Edílson:"Fundiu o trator deles".
O primeiro tempo do Grêmio, até a entrada do Ferrareis, foi muito bom. Partiu pra cima, buscou o gol e conseguiu. Entrou o colorado, e o jogo se equilibrou.

E no segundo tempo, os problemas de sempre que perduram desde o início do ano: recuo cedo demais pra buscar o contra-ataque, mas que nunca dá em nada, mais bola aérea defensiva pavorosa. O segundo problema dá pra justificar pelo fato de que jogamos com reservas, mas o primeiro é necessário questionar. Se Roger quer se aproveitar do adversário partindo pra cima, que treine isso. Porque desde o jogo contra o Toluca, no méxico. tá claro que o time não tá conseguindo armar a arapuca do contra-ataque.

No mais, o restante do primeiro turno tá perfeito pra pontuar. É hora de o time mostrar se quer ser campeão mesmo ou buscar só a vaga pra Libertadores.
Vicente Fonseca disse…
Acho que as derrotas nas bolas aéreas defensivas foram o terceiro principal problema do Grêmio ontem. O primeiro foi o recuo demasiadamente cedo; o segundo, permitir que o Inter fizesse tantos cruzamentos para a área, seja em escanteios ou faltas laterais desnecessárias.

Talvez o jogo em que os contra-ataques melhor tenham funcionado foi o diante do Atlético-MG. No ano passado foi a mesma coisa. O Galo é um time que dá mais espaço mesmo. O Inter, nem tanto.

Mas o resultado foi justo. Ganhou o melhor e, principalmente, o mais eficiente. O negócio é dar seguimento a isso nas próximas rodadas e evitar perder pontos bobos.
Chico disse…
Muriel: "Os gremistas são arriados, mas eu vou deixar passar".