Tite na Seleção: uma escolha atrasada que resolve apenas parte do problema
Tite se despede como técnico mais vitorioso da história do Timão |
Seja como for, esteja Tite revendo posições ou não, o fato é que ele é a última cartada da cartolagem que vem diminuindo o futebol brasileiro ano após ano. É um caso raro: a Seleção Brasileira, normalmente o objeto de desejo de qualquer treinador no mundo, precisa mais do seu novo técnico que ele propriamente dela. Claro, treinar o Brasil ainda é levar a carreira a um patamar superior, seja em que situação ela estiver. Mas Tite tinha tudo no Corinthians, especialmente a admiração e o respeito de uma imensa torcida que, com certeza, continuará a idolatrá-lo. Del Nero será obrigado a ceder em caso de exigências - a vinda de nomes de sua confiança, como Cléber Xavier e Edu Gaspar, é o primeiro sinal disso.
A escolha de Tite é um acerto óbvio, mas vem com dois anos de atraso. Nada surpreendente para uma confederação que faz mudanças necessárias em passos de tartaruga - como a diminuição dos estaduais, que terão 18 datas em 2017, em vez das 19 deste ano. Foi preciso que o Brasil desse fiasco em duas Copas América e perdesse nove preciosos pontos nas eliminatórias para que todos se dessem conta de que era ele, e não Dunga, o nome correto para levar a Seleção a uma tão necessária renovação. Talvez eles já soubessem disso, mas não tinham interesse que essa renovação acontecesse. Coloco "talvez" por uma questão de educação, claro.
Trazendo o melhor treinador brasileiro para comandar a Seleção, muito dificilmente ela não melhorará. Tite sabe lidar com escassez e com fartura; sabe montar equipes competitivas de diferentes maneiras; é um treinador alinhado com o que de mais moderno o futebol atual pensa e propõe. Por tudo isso, e por sua excelente gestão de grupo, ele deve levar o Brasil, como equipe, a um novo patamar até a Copa de 2018 - sim, pois com ele comandando as chances de a Seleção não ir ao Mundial da Rússia beiram o zero. Friso o "como equipe" porque colocá-lo no cargo só muda a ponta final de todo um processo de trabalho que, sabemos bem, precisa ser totalmente virado do avesso, o que não é o caso agora, uma escolha muito mais desesperada que pensada. Mas claro, é melhor ter um técnico com cabeça arejada no comando do Brasil que outro que seja conivente com o atraso.
Vale lembrar também que a ida de Tite para o Rio de Janeiro poderá alterar decisivamente os rumos do Campeonato Brasileiro. Com ele, o Corinthians vinha fazendo o milagre de manter um aproveitamento alto mesmo sem metade do time campeão no ano passado. Agora, o caminho para Palmeiras, Grêmio e Internacional na luta pelo título poderá ficar um pouco menos espinhoso. Aliás, Mano Menezes voltou da China na semana passada. Como o Corinthians oscila entre ele e Tite desde 2008, já surge um favorito para substituir Adenor Leonardo Bachi no Parque São Jorge. Ou não?
Foto: Daniel Augusto Jr./Corinthians.
Comentários
Não consigo concordar com a redução dos estaduais. Me dói a cada vez.