A classificação do São Paulo marca mais um grande trabalho de Edgardo Bauza

Jogadores comemoram em BH: o clima no São Paulo é outro
Edgardo Bauza é um fenômeno do futebol sul-americano. Seus trabalhos são impressionantes, especialmente quando o assunto é mata-mata continental. O São Paulo de 2016 guarda semelhanças inequívocas com a LDU de 2008 e o San Lorenzo de 2014. Todos foram times não exatamente cotados entre os favoritos para ganhar a Libertadores, mas cresceram na hora certa. Não vencem fora de casa, mas sempre deixam seu golzinho, e não sofrem tentos em seus domínios.

Esta parece uma receita simples, básica, mas extremamente difícil de ser posta em prática. Principalmente quando pegamos os perfis dos times dirigidos pelo Patón. Aquela LDU, aquele San Lorenzo e o atual São Paulo têm estilos de jogo totalmente opostos: a velocidade dos equatorianos é muito diferente do jogo mais físico e seguro dos argentinos, o qual contrasta com o toque de bola característico dos brasileiros. Bauza sabe montar equipes de filosofias diferentes, o que prova que sabe se adaptar à cultura do local onde trabalha e o material humano que tem mãos, mas faz questão de manter apenas três coisas em comum: a tranquilidade, a personalidade e o copeirismo necessários para se encarar um mata-mata na América do Sul.

Ontem, parecia que não ia dar. Diante de um Atlético Mineiro tecnicamente superior, fora de casa, o Tricolor levou 2 a 0 cedo. Em 11 minutos a vantagem conquistada a fórceps no Morumbi se esvaía e virava desvantagem no caldeirão do Horto. Em vez de se apavorar, o São Paulo reagiu rápido. Como na semana passada, aproveitou uma de suas principais forças (comuns a times de Bauza) e uma das principais fraquezas do Galo - a bola aérea - para descontar com Maicon e esfriar o Independência.

O gol desestabilizou o Atlético, acostumado a patrolar em Belo Horizonte neste tipo de situação. No primeiro tempo, o time de Diego Aguirre teve apenas mais duas chegadas realmente perigosas (a melhor delas, um cabeceio de Pratto na trave do inseguro Dênis). A necessidade de marcar o gol contrastava com a tragédia que seria sofrer o empate, e com o receio de se expor a um time matreiro, que tinha condições de chegar ao 2 a 2 se tivesse algum espaço. Ficando nesta sinuca, e sofrendo de afobação, o conjunto mineiro acabou errando demais.

No segundo tempo, isso ficou claro a partir dos constantes erros de passe do Galo, quase sempre lançamentos e tentativas forçadas demais. O São Paulo se fechou muito bem, o que dificultava demais qualquer chegada mais perigosa. A marcação começava lá na frente, com os normalmente pouco participativos Calleri e Ganso. Sim, Bauza os fez participar deste processo cansativo e pouco glamouroso. Times de ambiente positivo, solidário, funcionam deste modo. Mais um mérito do comandante argentino.

Não é um milagre levar este bom time do São Paulo às semifinais da Libertadores, claro. Mas vale lembrar que, dos cinco brasileiros que disputaram a edição deste ano, o Tricolor Paulista era o menos cotado, e o que começou pior, perdendo em casa para o Strongest. Sobreviveu a este fracasso, à péssima campanha no Paulistão, às enormes turbulências políticas e à pressão de sua torcida para chegar entre os quatro melhores. Bauza não é o único responsável por esta virada, mas é evidente que sem ele nada disso seria possível.

Já Aguirre...
Os dias do uruguaio em Minas Gerais parecem estar contados. Diego Aguirre nunca foi unanimidade no Atlético, e agora começa a sê-lo, só que pelo lado da rejeição. A campanha em 2016 é irregular: o time já perdeu oito vezes, número relativamente alto. Foi mal na Sul-Minas e perdeu o estadual para o pouco cotado América. Estava seguro pela boa campanha na Libertadores, que agora resultou em eliminação. Pouca coisa o segura, a menos que a diretoria tenha convicção em suas ideias.

Quem será o rival?
Em tese, o adversário são-paulino na semifinal sairá do duelo de favoritos Atlético Nacional x Rosario Central, que jogam hoje, às 22h45, em Medellín. Os argentinos estão em vantagem de 1 a 0. No entanto, caso o Central passe junto com o Boca para as semifinais, o Tricolor enfrentará Independiente del Valle ou Pumas na disputa por uma vaga na decisão. Os xeneizes recebem às 20h15 o Nacional uruguaio, podendo empatar sem gols após o 1 a 1 da semana passada.

Sempre tem a primeira vez
Irregular desde o início do ano, o Flamengo sucumbiu ao problema de saúde de Muricy Ramalho. Sem o comandante, levou 2 a 1 em casa do Fortaleza e caiu pela primeira vez na história antes das oitavas de final da Copa do Brasil. A campanha foi ridícula: diante dos cearenses e do modesto Confiança, dois times que disputarão a Série C, uma vitória e três derrotas. Enfrentar o Grêmio, em Porto Alegre, não é exatamente o melhor dos compromissos para dar sequência em um momento como este.

O tri e penta do Sevilla
Campeão pela quinta vez da Liga Europa nos últimos 11 anos, o Sevilla é tricampeão do torneio. Foi massacrado pelo Liverpool no primeiro tempo, mas foi para o intervalo perdendo por um enganosamente magro 1 a 0. No segundo, voltou com tudo: empatou aos 20 segundos, virou e ampliou para 3 a 1. A primeira temporada de Jürgen Klopp em Anfield Road termina sem títulos.

Foto: São Paulo/Divulgação.

Comentários

Lourenço disse…
Podem dizer que é implicância com o preparador físico, mas achei que o Atlético cansou no meio do segundo tempo
Vicente Fonseca disse…
Também notei, Lourenço. A questão pode passar pela preparação física, mas também pela fortíssima pressão exercida no começo do jogo, que costuma cobrar um preço nos minutos finais.
Ricardo V Machado disse…
Excelente análise! Grande abraço!
Vicente Fonseca disse…
Muito obrigado, Ricardo! Grande abraço.