Passou encilhado

Melhor em campo, Giuliano se prepara para dar o gol a Bolaños
Eliminar o Juventude não era uma tarefa fácil, após a derrota por 2 a 0 em Caxias do Sul. Mas é inegável: nenhum dos Gauchões recentes esteve tão à feição para o Grêmio conquistar do que o de 2016. Dono da melhor campanha com folga na primeira fase, do melhor time e do mais robusto grupo de jogadores do estado (apesar de deficiências pontuais, as quais custaram caro nesta semifinal), o Tricolor tinha em mãos a maior chance de encerrar esse jejum regional de seis anos, que já começa a incomodar quase tanto quanto o de 15 temporadas sem taças maiores. Eliminado, verá Juventude e Inter decidirem o campeonato, amargando seu maior hiato de títulos estaduais em 42 anos.

Esta queda, porém, foi diferente de várias das mais recentes, por um motivo: em vez da tristeza, fúria ou consternação, houve o aplauso do torcedor que encarou o temporal, foi à Arena e apoiou a equipe desde o apito inicial. Foi questão de postura do time: ao contrário de quedas como a diante do Fluminense, onde faltou confiança, tranquilidade e huevos na hora de se impor, o Grêmio esteve em cima do Juventude a tarde toda. Muito cedo já fazia 1 a 0, golaço de Walace. Poderia ter saído para o intervalo já igualado no somatório dos dois jogos. Fez o segundo, tomou o trágico gol qualificado na saída de bola por uma tremenda falta de sorte, e não se abateu: seguiu em cima, fez o terceiro cedo e dava pinta de que chegaria à reversão. Mas aí faltou perna, bem mais que futebol.

Roger Machado também não mexeu bem. Douglas, visivelmente cansado, poderia ter dado lugar a Lincoln, não a Henrique Almeida, jogador que não produziu o suficiente para estar à frente de Everton ou Pedro Rocha numa situação como a de ontem. Henrique teve a bola do jogo, e perdeu. Mas os problemas gremistas passam muito mais pela falta de um outro zagueiro qualificado que não Geromel - não por ontem, mas pelo jogo de Caxias. Outro problema claro foi o posicionamento de Luan, que jogou preso na ponta, longe da área, fora do seu habitat natural. Ele rende muito mais perto do centroavante, ou sendo ele próprio o camisa 9. A escalação de Miller Bolaños (jogador que sai mais da área que Bobô) contra o Rosario Central pode fazê-lo voltar ao alto rendimento do ano passado, se houver troca de posição constante entre ambos, como na goleada sobre a LDU.

O Grêmio sentiu a eliminação. Ao contrário de 2013, por exemplo, quando só falava em Libertadores e parecia cumprir um martírio jogando pelo torneio local, desta vez ficou claro que todos queriam muito superar o Juventude. Não deu, e isso certamente causa um cansaço físico e psicológico nos atletas. Mas garante a compreensão de quem estava nas arquibancadas, e certamente ajuda a criar um clima não tão negativo para o jogo de quarta - embora a pressão pela conquista da América, claro, agora esteja muito maior. O Grêmio precisa de um título, e este era o cavalo encilhado, o ponto de partida para trabalhar com mais tranquilidade no restante da temporada. Ganhar o apoio dos torcedores nesta hora decisiva é importante, claro, mas ter conquistado o Gauchão deste ano, na atual situação de longo jejum, era ainda mais.

Onde está o erro?
O erro que impediu o Grêmio de chegar à final do Campeonato Gaúcho não esteve na escalação de time misto quinta-feira. Isto era obrigatório, dada a proximidade entre o duelo no Jaconi e o disputado dois dias antes, diante do Toluca. O problema é de planejamento de contratações: mesmo com o bom futebol apresentado nos últimos dois meses, é sabido que o Grêmio não tem zagueiros confiáveis, à exceção de Geromel. Bressan é um bom reserva, Fred talvez nem isso - embora seja titular. Falta alguém de mais porte técnico ao lado do camisa 3. Erazo, senhores, faz falta. Foi pelo alto em Caxias (e pela sorte hoje) que o Juventude chegou à decisão.

Os melhores fora
À exceção do Rio de Janeiro, onde o dono da melhor campanha geral (Vasco) decidirá o campeonato, todos os demais estaduais tiveram seus líderes e principais favoritos eliminados na semifinal. O Corinthians caiu sábado e, além do Grêmio, o Cruzeiro foi alijado da disputa ontem em Minas Gerais, de um modo mais decepcionante ainda: sequer venceu o América. O 0 a 0 leva o Coelho a decidir com o Atlético o estadual. Também em Pernambuco fato semelhante ocorreu: o Náutico, melhor time do torneio até então, perdeu duas vezes para o Santa Cruz e verá seus dois principais rivais se enfrentarem na final.

Vingança do Peixe
A grande história do domingo de futebol no Brasil esteve na Vila Belmiro. Nada melhor para um santista que ver o time eliminar o Palmeiras nos pênaltis, com erro de cobrança de Fernando Prass. Foi a desforra após a derrota dura na final da Copa do Brasil do ano passado. Não antes sem drama: o Santos vencia por 2 a 0 até 42 da etapa complementar, e cedeu o empate. Parecia derrotado por antecipação nos pênaltis, mas venceu e agora pegará o Audax para tentar espantar o fantasma de 2014, quando perdeu o estadual para o então azarão Ituano.

Tudo no zero
Domingo decepcionante também para o adversário gremista na quarta-feira. Ao empatar em 0 a 0 fora de casa com o Newell's Old Boys, o Rosario Central ficou cinco pontos longe da liderança da Zona 1 do Campeonato Argentino. Coudet, como se esperava, não poupou nenhum titular no Coloso del Parque Faltando três rodadas para o final, o Central está praticamente fora da disputa pelo título. Nos outros clássicos do dia, tudo no zero também para Boca x River e Racing x Independiente.

Foto: Lucas Uebel/Grêmio.

Comentários

O jogo contra o Toluca valia nada. Tinham que ter posto: reservas contra o Toluca; titulares em Caxias; e misto ontem. Claro que o fim poderia ser igual, mas o time estaria bem menos cansado para quarta-feira.
Vicente Fonseca disse…
Acho que o jogo com o Toluca tinha importância por definir o destino nos mata-matas da Libertadores. E esse destino não é fácil, mas poderia ter sido mais difícil que encarar Central, Huracán e Atlético Nacional até a semifinal.

De todo modo, acho que os dois jogos da semifinal deveriam ter sido com time misto, mas mais mesclado. Como um lateral, um zagueiro, um volante, um meia e um atacante titular em cada partida. Não se perderia a espinha dorsal, nem se desgastaria tanto. E acredito que, assim, o resultado de Caxias poderia ter sido menos ruim do que foi.
Ganhamos do Toluca, e o prêmio foi cair na chave de Central e A. Nacional. Se essa era a chave fácil, mais um motivo para botar reservas. Qualquer resultado era bucha...