A sobrevivência já é um enorme lucro

Grêmio sofreu com a marcação cerrada do Central a noite toda
Dos 10 times que já entraram em campo pelas oitavas de final da Copa Libertadores, o Grêmio é o que está em situação mais complicada. É o único que perdeu em casa, e que, portanto, precisa vencer longe de seus domínios, em Rosário, contra um adversário forte. Ainda assim, o resultado da partida de ontem, na Arena, foi o que de menos ruim aconteceu. Tal fato, aparentemente paradoxal, dá bem a dimensão do que foi a péssima noite para a equipe de Roger Machado.

Quem acompanha o Carta na Manga desde o ano passado sabe bem que o Rosario Central é um ótimo time. Ontem, Porto Alegre viu isso de perto. Ainda assim, foi uma noite de exceção entro da trajetória da equipe de Eduardo Coudet, que fez uma partida de alto nível como poucas ontem na Arena, por mais que normalmente jogue bem. Claro, tudo ficou facilitado pelo gol marcado cedo, num cenário absolutamente previsível: a fragilidade da zaga gremista sem Pedro Geromel e o oportunismo de Marco Rubén. O lance ocorrido logo aos 13 minutos, mais que decidir a partida, era uma tendência, altamente previsível.

Antes de sofrer o gol, o Grêmio já tinha dificuldades. Como muito bem sabe fazer, o Central adiantou todo o seu time e marcou muito em cima desde o apito inicial. Herrera e Rubén abriam para marcar Fred e Bressan na saída de bola, o que obrigava a saída com chutão de Marcelo Grohe. Ainda assim, a partida começou equilibrada. Mesmo jogando de forma reativa em sua própria casa (River uruguaio, Palmeiras, Nacional e quase todos os times argentinos se obrigam a jogar assim diante dos canallas, seja onde for), o Tricolor quase saiu na frente com Miller Bolaños, que só não fez 1 a 0 porque Sosa saiu do gol e lhe tirou o ângulo para bater, mesmo já driblado dentro da área.

Mas o gol de Rubén mudou o curso do jogo. Em vez de fazer o gol cedo, como conseguira em 10 dos últimos 14 jogos disputados, o Grêmio o levava. Isso se somou à ansiedade do estádio, tornando o time apressado. E, claro, bateu forte o pavor de mais uma eliminação iminente, o que vem atrapalhando a equipe há anos. Diante de um Central muito bem treinado, que marcava adiantado e tinha sempre maioria em qualquer quadrante do gramado, o cenário foi muito diferente do que os 35 mil gremistas que se deslocaram ao Humaitá imaginavam: em vez de seu time pressionando, viram seu time ser acuado, dominado. O Grêmio praticamente não jogou ontem. Isso é culpa de sua má jornada técnica, claro, mas ela ocorreu principalmente por méritos de seu ótimo adversário.

A saída de Rubén no intervalo aliviou a carga para a dupla de zaga, mas não mudou o cenário do jogo. Ainda muito adiantado, mesmo em vantagem, o Central não correu praticamente riscos. Herrera ganhou todas de Fred, mesmo sendo menos forte; Lo Celso, Fernández e principalmente Cervi envolviam o meio gremista com triangulações rápidas. Pinola, Musto, Salazar, Montoya e todo o resto do time marcava firme, com disposição invejável, até o último apito do árbitro peruano Victor Carrillo. A vitória argentina foi técnica, física e tática. Foi a vitória incontestável de Coudet sobre Roger, no duelo entre os dois técnicos mais promissores surgidos na Argentina e no Brasil em 2015.

O 1 a 0, portanto, saiu até barato. E, por pior que tenha sido a partida do Grêmio, não define o confronto: claro, o Tricolor vai precisar jogar muito mais (ou jogar, já que não conseguiu) do que ontem, mas qualquer vitória serve em Rosário. O Central tem esse defeito: muitas vezes domina seu rival por completo, mas não faz placar condizente com o que jogou. Não se fechará no Gigante de Arroyito: seguirá em cima do time gaúcho, que precisará de mais efetividade e, principalmente, tranquilidade. Tudo o que faltou ontem, quando foi dominado por um adversário extremamente bem estruturado em campo.

Indefinições
Com três 0 a 0 em cinco partidas até aqui, as oitavas da Libertadores são uma indefinição só. Ontem, Atlético Mineiro e Corinthians obtiveram o mesmo resultado, mas com desempenhos bem diferentes. O Galo deixou boa impressão diante do Racing, em Avellaneda, enquanto o Timão foi mal em Montevidéu, escapando até mesmo de perder. Nenhum dos resultados é ruim, pois as decisões serão no Brasil. Porém, os dois são perigosos - não fazer gol fora de casa tem um ônus relativamente sério, mesmo quando o placar é 0 a 0.

Abrindo caminho
O golaço de Saúl Ñíguez deixa o Atlético de Madrid a um passo de decidir a Liga dos Campeões da Europa mais uma vez. O 1 a 0 sobre o Bayern München foi construído cedo e sustentado até o fim no Vicente Calderón, e é um excelente resultado, pois a equipe de Diego Simeone sabe se defender, e qualquer gol seu na Allianz Arena pode ser decisivo para os rumos do confronto.

Nacionais
A maior surpresa da noite brasileira foi a eliminação do Goiás para o Ríver, nos pênaltis, logo na primeira fase da Copa do Brasil. De resto, nada que cause espanto. Pela final da Copa do Nordeste, o Santa Cruz abriu vantagem: 2 a 1 sobre o Campinense. Nada definido, porém, pois o jogo de volta é domingo, em Campina Grande.

Foto: Lucas Uebel/Grêmio.

Comentários

Vine disse…
Apesar dos teus avisos sobre a qualidade do Central, fiquei impressionado com o nível técnico e a organização tática do time. Não tinha jeito de fazer jogadas naquele meio campo. Jogando contra um time cuja torcida transmite ansiedade por falta de títulos e que dá valor desnecessário ao campeonato estadual, foi visível a tranquilidade com a qual eles se defenderam do Grêmio.
Chico disse…
É brabo o cara ver uma coisa da qual já alertava há muito tempo e só direção do Tricolor não vê.

Esperar o que de uma defesa de 3 divisão.

O pior é que ainda é possível a classificação.

Será que os 5 golos que o Romildo prometeu ficaram para Rosário?
Vicente Fonseca disse…
Pois eu vi o Rosario Central várias vezes de um ano pra cá e ainda assim me impressionei, Vine. Fizeram uma das melhores partidas que vi desde então, marcando e jogando muito. Sou suspeito pra falar deste time, pois é exatamente o modo como mais gosto de ver uma equipe jogar futebol.

E concordo, Chico, ainda é possível a classificação, mas com esta dupla de zaga ficava difícil não prever ao menos um gol do Central. A diferença de 2015 para 2016 é basicamente esta: o elenco atual é até melhor, principalmente no ataque, mas perder Erazo e não repor à altura foi uma falta realmente grave, que precisa ser corrigida para o segundo semestre como primeira prioridade.