Honrando o nível de Perfumo

Em noite de homenagens a Perfumo, o Racing venceu e encostou
Nenhum dos jogos que pude acompanhar até aqui em 2016 supera o que vi há pouco. O confronto entre Racing e Lanús de fato prometia: em campo, o melhor argentino da Libertadores e o melhor time do Campeonato Argentino até agora. A vitória da Academia foi justa, e os golaços de Romero, Almirón e Milito foram verdadeiros símbolos do futebol bem jogado que brindou El Cilindro nesta noite de sexta e de saudade do ídolo Roberto Perfumo, falecido nesta quinta-feira.

Embalado após golear o Unión por 6 a 3, o Racing veio praticamente completo a campo. Foi apoiado por um bom público, com o objetivo de vencer o líder da Zona 2 do campeonato e se aproximar na disputa pela ponta. Programado para atacar, exerceu uma pressão inicial com muita intensidade e marcação adiantada. Mas o osso era duro de roer.

Bem posicionado em sua defesa, o Lanús suportou a pressão inicial do Racing e, passado o pior, começou a jogar, que é o que sabe fazer de melhor. Através do toque de bola qualificado de Martínez, Aguirre, Mouche, Acosta e Sand, empurrou com categoria o time da casa para seu campo de defesa e passou a mandar no jogo. O que faltava, porém, era uma maior precisão nas conclusões. Fosse mais efetivo, poderia ter aberto o placar em Avellaneda.

Precisão que sobrou a Romero, no apagar das luzes: recebeu de Diego Milito após roubada de bola ofensiva, parou, mirou e bateu no cantinho. Conclusão surpreendente de tão óbvia, e extremamente bem feita pelo jogador que começou 2016 sendo a verdadeira referência técnica do time de Facundo Sava.

No segundo tempo é que o então bom jogo se transformou em um partidaço. Mesmo em vantagem, o Racing jamais recuou, ao contrário: com postura bem mais agressiva que no primeiro tempo, acuou o Lanús com roubadas ofensivas e muita intensidade de marcação. Vendo que seu time perdia o controle das ações, o técnico Jorge Almirón colocou em campo seu "parente" paraguaio Miguel Almirón. Destaque na goleada sobre o Newell's Old Boys de sexta passada, o meia trouxe mais qualidade ao time granate, que equilibrou o jogo.

Foram 14 minutos para que Almirón fizesse a diferença: em uma linda jogada coletiva, a qual envolveu Martínez, Acosta e Sand, o paraguaio ingressou livre na área e empatou. Um golaço coletivo, uma jogada absolutamente espetacular, que mostrou todas as melhores características do Lanús: um toque de bola paciente para abrir a defesa rival, mas também rápido para surpreendê-la, e a movimentação constante de todas as peças. A jogada foi tão envolvente que não veio da ponta: ocorreu no meio da defesa rival, onde normalmente o espaço para trabalhar é menor.

O Racing poderia sentir o golaço, mas não: reagiu prontamente, como time maduro e forte que é. Sava mexeu rápido: mal saiu o gol, colocou em campo outra afirmação deste começo de ano, o centroavante Lisandro López. Mesmo com Milito em campo, Licha entrou muito bem: os dois funcionaram perfeitamente juntos, o que indica uma possibilidade para os próximos jogos. A jogada do 2 a 1 surgiu numa roubada de Lisandro e foi concluída com enorme categoria por Milito, aos 35. Os três gols pareciam ser fáceis de fazer. Coisa de quem sabe. O final eletrizante, com o jogo lá e cá, foi cortesia da casa.

Com 11 pontos, o Racing fica a cinco do Lanús, que ainda lidera a Zona 2 do Campeonato Argentino. Ainda há mais nove rodadas para o final, e a briga é forte. Um tropeço hoje poderia significar chances mínimas para a Academia sonhar com o título. Agora, ele passa a ser possível. Não foi um jogo decisivo, mas importantíssimo. E, acima de tudo, de altíssimo nível. Um belo presente do Racing a Perfumo, que tão bem representou esta camiseta nos tempos de jogador.

Ficha técnica
Campeonato Argentino 2016 - 7ª rodada
11/março/2016
RACING 2 x LANÚS 1
Local: El Cilindro, Avellaneda (ARG)
Árbitro: Diego Abal (ARG)
Público: não divulgado
Gols: Óscar Romero 44 do 1º; Almirón 27 e Diego Milito 35 do 2º
Cartão amarelo: Cerro, Óscar Romero, Díaz, Gustavo Gómez, Velázquez e Marcone
RACING: Saja (5,5), Pillud (5,5) (Díaz, 8 do 2º - 5,5), Sánchez (6), Vittor (6) e Voboril (6); Aued (6,5), Cerro (6), Acuña (6,5) (Lisandro López, 29 do 2º - 6,5) e Óscar Romero (7); Martínez (5,5) (De Paul, 38 do 2º - sem nota) e Diego Milito (7,5). Técnico: Facundo Sava
LANÚS: Monetti (5,5), José Luis Gómez (5,5), Gustavo Gómez (5,5), Braghieri (5) e Velázquez (6); Marcone (5,5), Martínez (6) (Ayala, 41 do 2º - sem nota) e Aguirre (5,5) (Benítez, 26 do 2º - 6); Mouche (5) (Almirón, 27 do 2º - 6,5), Sand (6) e Acosta (7). Técnico: Jorge Almirón

Foto: Racing/Divulgação.

Comentários

Anônimo disse…
O Racing é um caso de clube que voltou a ser competitivo depois de décadas no limbo. Talvez o exemplo mais próximo aqui seja o Atlético-MG. E nos dois casos, conquistar um título representou uma mudança de patamar, e não um ano fortuito.

Pena que perdi esse jogo.