Ao mudar o esquema no intervalo, o Uruguai expôs a falta de variações táticas do Brasil

Entrada de Álvaro González deu ao Uruguai o domínio do jogo
A Copa do Mundo de 2010 esteve de certa forma presente ontem na Arena Pernambuco. Embora muitos personagens tenham mudado de seis anos para cá nas duas seleções, alguns dos principais protagonistas decisivos nos rumos das equipes na África do Sul foram os mesmos no empate em 2 a 2 em São Lourenço da Mata. Resultado que, embora tenha chegado a ser de 2 a 0 em favor dos brasileiros, acabou sendo injusto pelo melhor futebol apresentado pelos uruguaios.

A história de que falo começa em função da capacidade de Óscar Tabarez de, numa mexida, reestruturar o que não vinha dando certo. Assim como naquele mundial, montou o Uruguai num 4-4-2 com duas linhas, abrindo os meias Carlos Sánchez e Cristián Rodríguez pelos lados. O objetivo era frustrar as triangulações dos pontas brasileiros com os laterais e volantes, robustecendo as beiradas. Não deu certo porque logo aos 40 segundos Douglas Costa já fazia 1 a 0, e numa falha do sistema celeste. Se ele estivesse correto, Willian jamais ficaria no mano a mano com o zagueiro Coates na lateral do campo.

Este sistema tem um problema que o Uruguai já mostrou recentemente na Copa das Confederações e na Copa do Mundo: a falta de criatividade no meio. Lodeiro e Arrascaeta são bons, mas ainda não conseguiram assumir o protagonismo da função como Forlán conseguia. Isso ficou escancarado ontem, com a equipe charrua sofrendo para agredir um Brasil que tomava conta do jogo. Tudo funcionava no time de Dunga: Neymar saía para buscar jogo como um ponta de lança, jamais foi centroavante fincado. Willian e Douglas Costa iam bem pelos lados, contando com o desprendimento e a boa atuação de Fernandinho e Renato Augusto.

Suárez, o melhor em campo, dominou David Luiz, o pior
O 2 a 0 veio ao natural, e desta forma: Neymar buscando o jogo como articulador e achando o melhor jogador do Brasileirão 2015 por trás de Álvaro Pereira. Foi a melhor meia hora da seleção desde aquele 3 a 0 na Espanha, na final da Copa das Confederações de 2013. O gol de Cavani, minutos depois, recolocou o Uruguai no jogo, mas não traduzia a superioridade pentacampeã no primeiro tempo.

Aí, veio o deja-vu sul-africano. Primeiro, por Tabarez. Naquela Copa, ele escalou o esquema de ontem na estreia contra a França, e o Uruguai sofreu para criar. Na partida seguinte, mudou o modelo do meio-campo, formando um losango, com Forlán recuado na armação. Ontem tirou Cristian Rodríguez no intervalo e pôs Álvaro González, um triplo acerto: retirou um jogador que estava mal, robusteceu a marcação no meio e deu articulação e parceria à dupla de ataque, colocando o ótimo Carlos Sánchez na ligação. A dominação uruguaia foi tamanha na etapa final que, mesmo com o domínio brasileiro no primeiro tempo, o 2 a 2 soa injusto com a Celeste.

Pelo lado brasileiro, a sensação de "eu já vi isso antes" veio forte em relação ao jogo da eliminação daquela Copa, a fatídica virada sofrida diante da Holanda. O Brasil de Dunga é semelhante ao de 2010: um time com esquema já muito bem definido, mas que se abala diante de uma adversidade e, principalmente, sem qualquer variabilidade tática. Bastou Tabarez mexer no meio para a Seleção se perder em campo. Bastou uma adversidade, como aquele estranho primeiro gol holandês em Port Elizabeth.

O mais preocupante para o Brasil em relação ao jogo de ontem nem é o resultado em si, embora ele seja ruim. É justamente o fato de Dunga não ter aprendido nada de seis anos para cá. Segue sendo um treinador muito preocupado em achar um onze que lhe seja fiel e confiável e um esquema que funcione razoavelmente bem, mas que não pensa na possibilidade de algo acontecer fora do roteiro previsto. Esta limitação séria, ocorrida em 2010, se repetiu ontem: diante do domínio uruguaio nos minutos finais, seu time reagiu com nervosismo semelhante ao daquela partida contra os holandeses. Só não teve ninguém expulso.

Fotos: AUF/Divulgação.

Comentários

Chico disse…
Suárez tocou o pavor na defesa brasileira.
Geromel pergunta: quem é David Luiz?
Vicente Fonseca disse…
Não estou publicando por uma questão de tempo. Se uso a linha editorial de publicar as notas, teria de fazer uma postagem pra cada jogo que vejo, e aí seria impossível manter o blog ativo com uma produtividade e qualidade razoáveis. Mas sei bem qual nota tu quer saber:

David Luiz (3)