Um jogão para 30 mil pessoas abriu 2016: 1 a 0 para a Primeira Liga

Guerrero (C) decidiu o jogo: Flamengo 2 a 0 no Galo
O ano mal começou e a Primeira Liga já saiu ganhando de 1 a 0 dos estaduais. O motivo é simples: em que outra temporada tivemos um jogo inaugural do ano futebolístico brasileiro com um clima tão bom nas arquibancadas como o do Mineirão ontem? Em vez de um estádio às moscas para um entendiante duelo da fase inicial do estadual, mais de 30 mil pessoas foram ao Gigante da Pampulha acompanhar Atlético x Flamengo, jogo de duas camisas pesadas e com uma forte rivalidade interestadual envolvida.

O clima bom, na verdade, diz mais respeito ao estádio lotado e à atmosfera de jogo grande, algo incomum no Brasil dos feudos regionais e seus torneios maçantes que se arrastam maio adentro. Porque a torcida do Galo teve pouca coisa a comemorar: o time de Diego Aguirre apresentou no primeiro tempo as mesmas virtudes e defeitos de 2015. Criou muitas situações de gol na primeira hora de jogo, com a intensidade e velocidade habituais deste Atlético de 2012 para cá, mas perdeu gols demais. Poderia (deveria, até) ter ido para o intervalo vencendo um Flamengo até então acuado, pouco criativo e de saída de bola deficiente.

Visando a aproveitar Dátolo como centralizador da criação no meio, Aguirre o posicionou pelo meio, colocando Giovanni Augusto pela esquerda. O argentino foi bem: comandou a equipe mineira no primeiro tempo, partindo quase sempre de seus pés as principais tramas de ataque. Mas a mudança no jeito de jogar da equipe sobrecarregou o lateral Douglas Santos com tarefas defensivas. Na etapa inicial, isso ocasionou pouco apoio do ala atleticano; na complementar, houve prejuízo defensivo sério.

O Flamengo já havia terminado o primeiro tempo mais equilibrado, estancando os ataques do Galo e tendo no canhoto Jorge uma boa saída pelo lado esquerdo. Na etapa final, com Emerson Sheik voltando para auxiliar Everton na armação, a equipe passou a dominar a partida. O Atlético intenso e envolvente que conhecemos há quatro anos não deu as caras na volta do intervalo. Foi com a entrada de Marcelo Cirino no lugar do apagado Gabriel, porém, que o time rubro-negro tomou conta de vez do jogo. E o primeiro gol foi numa jogada de Cirino justamente pelo lado esquerdo de defesa do Galo, o setor fragilizado pela mudança no posicionamento dos meias proposta por Aguirre. Um belo gol de Guerrero, como o segundo, este um exagero pelo equilíbrio geral do jogo, mas que o peruano concluiu com o oportunismo que há cinco meses o Brasil não via.

Ainda é muito cedo para qualquer conclusão sobre os dois times, evidentemente. O Galo teve seus desfalques, e a derrota foi a primeira de um ano que começou com ótimos triunfos sobre Schalke 04 e Corinthians nos amistosos disputados na Flórida. Já o Fla tropeçou para Ceará e Santa Cruz antes de ganhar do vice-campeão brasileiro, e também precisa ser analisado mais vezes, com maior cuidado. O que parece certo, mesmo, é que a CBF não precisa dar a bênção para nenhum torneio para que ele seja abraçado pelo público. Se alguém me lembrar uma única vez que um jogo do Galo em abertura de ano contra time do interior mineiro teve mais de 30 mil torcedores no Mineirão, posso me retratar, sem problema algum.

Foto: Bruno Cantini/Atlético Mineiro.

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