A CBF vetou a Primeira Liga. E a Primeira Liga, ainda bem, não está nem aí pra isso

A monossilábica conversa do presidente da CBF com um jornalista em um hotel de Assunção ocorrida ontem representa todo o atraso da entidade que ele comanda. Pressionado pela Ferj a vetar a Primeira Liga, Coronel Nunes demonstrou que sequer sabe que briga está comprando, deixando claro que é mesmo um fantoche de Teixeira, Marin, Del Nero e tudo o que de mais atrasado existe em nosso futebol. Nada que surpreenda diante da pouquíssima legitimidade de sua presença no cargo.

A questão que se coloca é que de nada adianta a CBF vetar a Primeira Liga, pois ela ocorrerá igual. Não se trata apenas de mais um torneio para encher nosso já inchado calendário com mais jogos - esta é a visão que a CBF quer que todos comprem. É um torneio que tem potencial para se colocar como o início de um importante projeto de oposição ao modo como o futebol brasileiro está sendo conduzido - embora isso não ocorra de fato, quando os dirigentes o chamam de "torneio amistoso". Ao vetá-lo e tentar adiar sua discussão para 2017, a CBF nada mais faz que uma pífia tentativa de abafamento.

A Lei Pelé prevê a criação de ligas independentes. Prevê também que nenhuma entidade reguladora do esporte pode impedi-las, como a CBF está tentando fazer agora. Ao alegar a ilegalidade da competição, a confederação nacional comete outra, portanto. E, ao inchar seu calendário de forma estúpida há décadas, tenta usar esse erro lamentável como forma de impedir que iniciativas como a Primeira Liga surjam.

A reação dos dirigentes dos clubes participantes da liga com relação ao comunicado da CBF foi a melhor possível: vão realizá-la igual, com ou sem o aval da entidade maior, porque simplesmente não precisam pedir autorização dela para nada. É uma grande mudança, pois em anos anteriores (não muito tempo atrás), os clubes baixavam a cabeça para tudo o que as federações e a CBF mandavam, como se eles, clubes, não fossem muito maiores que estas entidades. A realização do torneio em 2016 é que dará força para que ele entre (ou não, pois não há necessidade) no calendário oficial no ano que vem. Recuando, perderiam essa batalha política para o atraso da CBF e das federações estaduais. Mantendo firmeza, derrotam a política do retrocesso que impera em tais entidades.

Sou ainda mais radical: o ideal era que os clubes jogassem a Primeira Liga com o que têm de melhor, relegando os atuais estaduais aos times reservas e de juniores. O problema é que seus dirigentes ainda não a enxergam como realmente deveriam: um projeto de oposição ao modelo de futebol gerido pela CBF. Os estaduais, já dissemos isso dezenas de vezes, precisam ocorrer, pelo bem dos clubes menores, mas precisam mudar, pelo bem dos clubes menores. E se na base da negociação as coisas não evoluem há anos, é na tomada de decisões firmes que elas podem acontecer.

Um brinde à Primeira Liga! E, principalmente, que seja a primeira de muitas.

Comentários

Chico disse…
Acho essa primeira liga uma grande besteira.
Vicente Fonseca disse…
Pode ser que ela não dê em nada mesmo, Chico. Pode ser que não mude o futebol brasileiro do modo como gostaríamos (infelizmente, é o mais provável). Mas não acho besteira por um simples motivo: ela incomoda a CBF. A FGF já admite diminuir a participação da Dupla Gre-Nal no Gauchão 2017 por causa do torneio, colocando Grêmio e Inter nas fases finais, apenas. Isso, além de termos um jogo como de ontem, quando 30 mil pessoas viram Atlético x Flamengo na abertura da temporada, já é por si só algo bem positivo.