O Palmeiras foi irregular em 2015, mas gigante no principal jogo na temporada

Fernando Prass, o símbolo do tri palmeirense na Copa do Brasil
Agora que a história acabou, e com final feliz, daria até para romantizar: o Palmeiras guardou todo o seu futebol inexistente nos últimos meses de Campeonato Brasileiro para a decisão da Copa do Brasil. Mas, claro, não foi uma estratégia pensada: foi ao perder fôlego no torneio de pontos corridos que a equipe alviverde virou todo o seu foco para o mata-mata. E isso é inegável: o Palmeiras é campeão porque ontem, ao contrário da semana passada, jogou para ser campeão. Entrou para anular o Santos e fazer o máximo que podia dentro do seu estilo, potencializando suas virtudes e se esforçando demais para esconder suas limitações. Entendeu que o que se disputava era uma decisão e sempre quis vencê-la mais do que o rival. Por isso ganhou, e por isso mereceu a taça.

Ao contrário da semana passada, Marcelo Oliveira escalou cada um na sua. E como fez diferença... Em vez de jogar pela direita, Robinho ficou mais centralizado desta vez. Partiram dele as principais jogadas perigosas do Palmeiras ao longo do jogo. Dudu, por sua vez, atuou aberto, protagonizando o melhor duelo da noite com o talentoso lateral santista Zeca. Seus dois gols não surgiram por isso, mas por oportunismo. Mas ontem houve mobilidade: ambos, mais Lucas Barrios, trocavam de posição constantemente, o que confundia a marcação do Peixe. O lance do 1 a 0 foi exatamente isso: Barrios saiu da área como pivô, Robinho invadiu o terreno pela direita e Dudu completou saindo da esquerda para o centro.

Mas bem antes desse gol a equipe da casa já mostrava a que vinha. Logo de cara, com menos de 20 segundos, o Palmeiras quase anulou a vantagem santista conquistada na ida, com Gabriel Jesus parando em Vanderlei cara a cara. A situação não abalou o Santos, que meteu uma na trave com Victor Ferraz, após ótima jogada de Zeca. O lance assustou o time da casa num momento em que ambos os rivais se estudavam. Foi só a partir dos 20 minutos, perdurando até os 40, que o Palmeiras exerceu seu maior período de domínio. Foram quatro chances claras, duas delas partindo de cruzamentos, a principal arma da equipe. Em quase todos os lances perigosos, o desprendimento de Robinho e a inquietude de Dudu estiveram presentes.

O segundo tempo, ao contrário do que prometia, foi mais equilibrado. Possivelmente ansioso por estar em desvantagem e ter cada vez menos tempo para fazer o gol, o Palmeiras apresentava dificuldades de criar, mesmo ocupando o campo santista. A marcação-pressão já não era tão forte, já que no primeiro tempo foi intensa demais. Ainda assim, na base da paciência, a equipe da casa abriu o placar, num lance incomum no seu 2015 - a já citada combinação Barrios-Robinho-Dudu, um lindo lance, bem mais típico do Santos que deste Palmeiras.

O gol deixava tudo igual e deu uma esfriada no jogo. Afinal, a equipe alviverde já não precisava desesperadamente marcar, e o Peixe não sabia se buscava o gol do título ou se segurava para não tomar mais. A partida entrou na zona de conforto dos pênaltis e ficou relativamente equilibrada dos 30 em diante - antes, a iniciativa palmeirense seguia maior, embora sem o volume e a fome de antes. Aí, veio a bola parada.

Dudu faz 2 a 0: jogada manjada, mas mortal do Palmeiras
Dorival Júnior lamentou profundamente o 2 a 0 por motivos óbvios, mas principalmente por ser uma jogada sabidamente forte do Palmeiras, e que o Santos trabalhou muito para estancar. Não conseguiu: Robinho, sempre ele, levantou na cabeça de Vítor Hugo, sempre ele, escorando para Dudu, o predestinado, fazer o gol que parecia ser o do título. Não fosse o Verdão um perigo nas duas áreas: nos três minutos em que resolveu ir para cima de fato no Allianz Parque, o Santos chegou ao gol, com Ricardo Oliveira, após um improvável calcanhar de Werley. Era o drama dos pênaltis, nos quais quem tem o sanguíneo Fernando Prass larga sempre como favorito. E não deu outra: fazendo uma defesa e convertendo a batida do título, ele é o símbolo da conquista palmeirense.

Não ir para a Libertadores é uma crueldade pelo futebol jogado pelo Santos em boa parte da temporada. A verdade é que o time de Dorival Júnior perdeu fôlego na reta final do ano, provavelmente por seu elenco pequeno: não manteve o mesmo nível de resultados no Campeonato Brasileiro, e por não ter gordura acabou saindo da briga pelo G-4. Ontem, repetiu suas recentes atuações abaixo da média, submetendo-se a um rival que entrou com a faca nos dentes. Entrar para apenas jogar futebol, muitas vezes, não é o suficiente numa decisão. Foi o caso de ontem. Lucas Lima joga bola, mas Matheus Sales jogou uma final. Tem menos futebol que o rival, claro, mas o anulou por causa disso. Esse foi um dos tantos duelos pessoais que exemplifica o espírito palmeirense ontem, em um estádio extremamente participativo e que pressionou a noite toda.

Já o Palmeiras ganha um título num ano no qual investiu muito. Acertou na política? É bem discutível. O fato de Dudu, símbolo da ambição verde no começo da temporada, ter marcado os dois gols da decisão sugere que sim, que valeu a pena o investimento. Mas quando a contratação de diversos jogadores caros precisa de uma cobrança de pênalti para ser aprovada ou não, é sinal de que algo deu errado. O Palmeiras fez um ano irregular, poderia (ou deveria) ter gastado menos e precisa repensar esta política de contratações. O 11º lugar no Campeonato Brasileiro fica esquecido diante de uma conquista grande como a de ontem, mas isso é para o torcedor: para quem gere o clube, é preciso ter atenção com o desempenho de toda a temporada. Ela acaba feliz, positiva, com um título grande, mas foi irregular, e é preciso corrigir o que não deu certo para que 2016 seja ainda melhor.

Mas numa coisa Alexandre Mattos, o tão famoso diretor executivo palmeirense, esteve coberto de razão: ontem não era jogo para o Palmeiras jogar bola por baixo, fazer um jogo envolvente que não costuma. Era jogo para ganhar do jeito que esta equipe sabe, na base da pressão e da bola aérea, e que essas limitações no estilo de jogo do sejam corrigidas em 2016. Ele parece ciente de que, apesar de toda a merecida alegria de ontem, há o que melhorar para que novas conquistas venham.

Em tempo:
- Segundo título de Copa do Brasil de Fernando Prass. E Marcelo Oliveira tira a zica de ser o eterno vice do torneio.

- No duelo Ricardo Oliveira x Fernando Prass, no último pênalti santista, quem viu os anos 1990 e início dos 2000 lembrou os pênaltis de Marcelinho Carioca contra Marcos. Rivalidade histórica revivida. Grande momento da noite, até Prass dar o título ao Palmeiras.

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Ficha técnica
Copa do Brasil 2015 - Final - Jogo de volta
2/dezembro/2015
PALMEIRAS 2 x SANTOS 1
Decisão por pênaltis: Palmeiras 4 x Santos 3
Local: Allianz Parque, São Paulo (SP)
Árbitro: Heber Roberto Lopes (SC)
Público: 39.660
Renda: R$ 5.336.631,25
Gols: Dudu 11 e 39 e Ricardo Oliveira 41 do 2º
Cartão amarelo: Matheus Sales, João Pedro, Dudu e Gabriel
PALMEIRAS: Fernando Prass (8), João Pedro (4,5) (Lucas Taylor, 27 do 2º - 6), Jackson (7), Vítor Hugo (7) e Zé Roberto (7,5); Arouca (6,5), Matheus Sales (7) e Robinho (8); Dudu (8), Barrios (7) (Cristaldo, 26 do 2º - 6) e Gabriel Jesus (6,5) (Rafael Marques, 41 do 2º - 5). Técnico: Marcelo Oliveira
Cobranças: Zé Roberto (gol), Rafael Marques (defendido), Jackson (gol), Cristaldo (gol) e Fernando Prass (gol)
SANTOS: Vanderlei (7), Victor Ferraz (6), David Braz (6), Gustavo Henrique (4,5) e Zeca (7); Renato (6), Thiago Maia (6) e Lucas Lima (5); Gabriel (4,5), Ricardo Oliveira (6) e Marquinhos Gabriel (5,5). Técnico: Dorival Junior
Cobranças: Marquinhos Gabriel (por cima), Gustavo Henrique (defendido), Geuvânio (gol), Lucas Lima (gol) e Ricardo Oliveira (gol)

Fotos: Palmeiras/Divulgação.

Comentários

Vine disse…
E o Santos conseguiu perder a final...
Não consegui acompanhar o jogo, apenas dei sorte de assistir a partir dos 30 e ver dois gols. Jurava que o desconto santista no final do jogo traria uma vantagem psicológica pros santistas, ainda mais logo após um gol de título do Palmeiras.
Vicente Fonseca disse…
Pois é, era um risco que se corria, mas o Palmeiras entrou muito mais concentrado. O mais desesperado após o gol do Ricardo Oliveira foi o Dudu, que, justamente por isso, não foi escalado para bater pênalti na decisão.