O Mundial escancarou o absurdo que é deixar Suárez fora da briga pela Bola de Ouro

Luisito fez cinco gols em dois jogos no Mundial Interclubes
Que a FIFA costuma dar azar em suas indicações já é tradicional. A sina começou com a eleição prematura de Oliver Kahn como craque da Copa do Mundo de 2002 dois dias antes de ele falhar num dos gols que deu ao Brasil o penta sobre a Alemanha, passou por 2006 e a indicação de Zidane antes de sua cabeçada em Materazzi e ganhou um novo capítulo hoje. Desta vez, de não indicação.

Talvez fique "chato" para o resto do mundo ver o Barcelona ter os três finalistas ao prêmio de melhor jogador do mundo, mas o fato é que Neymar, Suárez e Messi (em 2015, talvez nesta ordem) foram os três melhores desta temporada. A não indicação de Luisito para a entrada de Cristiano Ronaldo não condiz com o que foi o desempenho de ambos neste ano. O craque português não foi mal, longe disso, mas Suárez jogou mais. Dá para se discutir se alguém no mundo jogou mais que ele esse ano, aliás. Alguém que marca gols em praticamente todas as finais que disputa tem que ser fora de série. Trata-se muito provavelmente do melhor centroavante que o mundo já viu desde Ronaldo. É uma aberração vê-lo de fora da festa.

No Mundial Interclubes, Suárez só não fez chover. Cinco dos seis gols do título incontestável do Barcelona foram dele: os três da semifinal, contra o Guangzhou Evergrande, e os dois regulares dos três da decisão de hoje, contra o River Plate. Luisito fez gol na final da Liga dos Campeões, contra a Juventus. Antes, ajudou a decidir todos os mata-matas de 2014/15, contra Manchester City, Bayern München e Paris Saint-Germain - neste último, teve atuação inesquecível na capital francesa. Ele termina 2015 com 49 gols marcados - 12 deles nos últimos dez jogos que disputou.

Apesar de toda a genialidade de Suárez, a final foi dura para o Barça em boa parte da noite de Yokohama. Marcelo Gallardo armou o River do modo como todo sul-americano deve se portar num Mundial: pressionando, jogando, encarando o adversário europeu, por mais cheio de estrelas que ele seja. A dedicação de todos era imensa na marcação, e a pressão forçava erros dos catalães na saída de bola. O Brasil fez isso com a Espanha na final da Copa das Confederações de 2013, com a enorme vantagem de ter feito um gol cedo. O River não conseguiu, mas o jogo foi bastante equilibrado até os 30 minutos.

Aí, mais um erro da FIFA vitimou os argentinos: a escalação do fraco árbitro iraniano Alireza Faghani, que não viu o toque com o braço de Messi no lance do primeiro gol do Barcelona. Ter de encarar o time de Luis Enrique no 0 a 0 e esperando é difícil, mas perdendo e precisando reagir é quase impossível. Tomar gol no primeiro tempo contra o Barça era tudo o que o River Plate mais deveria evitar. A desvantagem mudou completamente a lógica da partida.

Balanta sofreu com Neymar, Suárez e Messi em Yokohama
Com Lucho González e Martínez no intervalo, Gallardo sinalizou mais uma vez a grandeza dos argentinos: a ordem era partir para cima e tentar o empate. Só que isso abriria ainda mais espaço para o Barça atacar, e logo de cara Suárez foi lançado em velocidade por Busquets e tocou na saída de Barovero. Ali, o River caiu de vez: batido, ainda sofreu o terceiro, novamente de Luisito, em cabeceio magnífico após passe genial de Neymar. Só então o Barça tirou o pé e administrou o resultado até sua discreta comemoração com o título.

A festa dos argentinos antes, durante e após o jogo foi linda, e justa: o River Plate caiu de pé diante do melhor time do mundo, um dos melhores da história do futebol. Mais uma vez, muito se comentará a respeito de algo que, olhando de perto, não existe: um suposto abismo generalizado entre times europeus e sul-americanos, como se o Wigan fosse candidato ao G-4 do Brasileirão e o Catania fosse candidato ao título argentino. O que existe, sim, é um abismo entre Barcelona, Real Madrid e Bayern para todo o resto do mundo do futebol, algo que tem tornado a Liga dos Campeões muito pouco competitiva de alguns anos para cá - PSG, Manchester City e outros milionários não têm feito nem cócegas neste trio de ferro. O último europeu que foi ao Mundial fora esses três clubes perdeu para o Corinthians, é bom lembrar. E o ótimo time do River, ao contrário do que muitos dizem, não seria rebaixado em nenhum dos principais campeonatos europeus, muito pelo contrário. O Rayo Vallecano não nos deixa mentir.

Fotos: Miguel Ruiz/Barcelona.

Comentários

Chico disse…
Los Millonarios jogavam bem até tomar o golo, depois a casa caiu.

Não gostei das trocas de Gallardo, acho que abriu muito o time e deixou espaços pro contra ataque do Barça.

Lamentável a torcido do River xingando Mascherando e Messi.

Luisisto e Lewandovski os dois melhores centroavantes do mundo.
Vine disse…
Perfeita análise do jogo, em especial pra falha do árbitro em não ver o domínio com o braço do Messi, que mudou todo o jogo.

Falando em melhores do mundo, com o Suarez fora, Neymar é o mais indicado a ganhar. Concorda?
Vicente Fonseca disse…
Neymar, pra mim, foi o melhor do mundo - ou o Suárez, um dos dois. Mas acho que o Messi vai ganhar de novo.