Altitude, adversários fortes e longas viagens: o Grêmio caiu no grupo da morte. De novo

Mercier e Luan: reencontro marcado em 2016
Quando Gustavo Bou e Diego Forlán pegaram as bolinhas que definiram o destino dos 38 clubes nas fases preliminar e de grupos da Libertadores 2016, tudo o que as equipes mais queriam evitar eram as três dificuldades sempre: adversários fortes, altitude e viagens longas demais. Acostumado recentemente a infortúnios em sorteios, o Grêmio não escapou de nenhuma dessas dificuldades. Dentre os brasileiros, é sem dúvida quem pegou a chave mais complicada.

As semelhanças com 2014 são incríveis. Dois anos atrás, o Tricolor também caiu no chamado "grupo da morte", com Nacional, Atlético Nacional e Newell's Old Boys. Também estreou fora de casa (desta vez será contra o Toluca), teve dois compromissos seguidos na Arena (agora com LDU e San Lorenzo, nesta ordem) e teve tabela espelhada no returno. Este trajeto complicado, portanto, o clube gaúcho já conhece. O San Lorenzo também: ao pegar Corinthians, São Paulo e Danubio em 2015, a equipe argentina cai na chave mais difícil da competição pela segunda vez seguida.

A questão é que, embora o grupo seja difícil, ele não é inacessível. O San Lorenzo é um tradicional e forte clube argentino, mas não é o cabeça de chave mais complicado. Vive um fim de ciclo com a saída de Edgardo Bauza e, embora seja experimentado e copeiro, não é o melhor time de seu país. Enfrentar Boca ou River seria tarefa mais árdua. LDU e Toluca também são rivais complicados, mas também não são os mais fortes de seus respectivos países - a equipe de Quito perdeu a hegemonia nacional para o Emelec há anos, e os mexicanos foram semifinalistas no último torneio, mas estão abaixo de times como Tigres e Pumas. Ambos jogam na altitude, mas a 2.800 e 2.600 metros, respectivamente. Não é a pior altitude, não é a que mais atrapalha, não é a que exige tubos de oxigênio para quem não está acostumado. Todos, portanto, são rivais fortes, mas poderia ser pior - poderia ser o Boca, poderia ser a altitude da La Paz.

O certo é que, mesmo sendo teoricamente um pouco superior aos seus adversários, o time de Roger Machado vai precisar estar muito bem preparado para chegar aos mata-matas. Como em 2014, quando o Grêmio entrou forte e passou voando, como inesperados 14 pontos, fazendo a segunda melhor campanha geral - que de pouco adiantou, já que o prêmio por isso foi ter pego (e sido eliminado) pelo San Lorenzo nas oitavas. Enfrentar Trujillanos, Melgar ou o River do Uruguai seria, claro, mais tranquilo - assim como deveriam ser Huachipato e Caracas em 2013, ou Cúcuta e Tolima em 2007, os verdadeiros e inesperados grupos da morte por que passou o Tricolor recentemente. Entrando forte, o time gaúcho tem condições de ser o líder do grupo. A chave é complicada, mas no limite da dificuldade para se entrar preparado para os mata-matas.

Chaves difíceis, mas um pouco (ou nem tanto) mais amenas
Ninguém pode se considerar com um pé nas oitavas ainda, não apenas porque a Libertadores tem o poder de transformar zebras em times complicados, mas porque todas as chaves reservam suas dificuldades. A diferença do grupo gremista para os demais é que em todos há a ausência de ao menos um dos três grandes problemas (altitude, viagem longa e força/tradição dos rivais). No do Grêmio, tudo isso está junto como ingrediente.

Atlético e Colo-Colo fizeram duelo dramático em 2015
No 1, River Plate e São Paulo (se passar pelo César Vallejo) entram como favoritos diante do Trujillanos, mas podem sofrer com o razoável The Strongest, principalmente em La Paz, mas ao nível do mar também. De dificuldade semelhante para os favoritos é a chave 5: o Atlético Mineiro talvez tenha sido o time mais favorecido pelas bolinhas, mas sabe que o Colo-Colo, por exemplo, é dureza. Campeão peruano, o Melgar vem empolgado, é viagem dura, mas tecnicamente não assusta tanto. O rival que vier da pré também está tecnicamente abaixo: o Independiente del Valle tem a altitude Quito como incômodo, o Guaraní foi semifinalista em 2015, mas está sendo desmanchado. O grupo é acessível.

A seguir, vêm grupos médios. O Corinthians deve passar, mas terá de tomar cuidado com o Santa Fe, que deve vencer seu mata-mata na fase preliminar contra o Oriente Petrolero. O Cerro Porteño costuma ser árduo em Assunção, mas não assusta tanto, assim como o Cobresal, rival de deserto do Cobreloa no Chile. Um pouco mais complicada é a chave do Boca: o Deportivo Cali fez uma bela temporada na Colômbia, o Bolívar é terrível no altiplano e o adversário da pré é o mais difícil possível (o longínquo Puebla ou o fortíssimo arquirrival Racing).

Além do Grêmio, há outros clubes que também pegarão grupos enroscados. Dos brasileiros, o Palmeiras é o exemplo típico: enfrentará a tradição do Nacional, o ótimo time do Rosario Central (tão ou mais difícil que o próprio San Lorenzo) e a Universidad de Chile, que não vêm tão bem como em anos anteriores, mas nunca é promessa de jogo simples. Já o Olimpia, cabeça de chave, tem em Emelec e Pumas rivais teoricamente até superiores tecnicamente ao seu próprio time. O Peñarol, tendo pela frente o forte Atlético Nacional e o sempre incômodo Sporting Cristal, também não terá vida fácil. Ainda poderá pegar Huracán ou Caracas, equipes mais fracas, mas que também vêm fazendo jogo duro.

Fotos: Lucas Uebel/Grêmio e Bruno Cantini/Atlético Mineiro.

Comentários

frente sul disse…
Uma diferença para 2014 é que o Grêmio vem com bem menos investimento no plantel. Talvez seja o mais racional, considerando que o clube tem que montar um time para a temporada e não só para a LA, mas a pressão por resultado num grupo desses vai ser forte.

Além de um zagueiro, que posições achas mais necessário de reforço?
Vicente Fonseca disse…
Acho que zagueiro é a principal dificuldade, mesmo. Vindo o Fred e mais de nível pra titular acredito que o grupo fique bem servido. De resto, acho que em todas as posições seria bom trazer mais algum jogador. O grupo do Grêmio é equilibrado, fora zagueiros não há uma grande carência mais específica, mas reforços que tragam qualidade agregariam bastante, especialmente na meia e na definição de jogadas (um 10 e um 9, digamos).

Com relação a 2014, aquele grupo em específico não foi caro (Dudu, Geromel, Alan Ruiz etc. foram jogadores vindos por empréstimo), mas a herança de 2013 (Barcos, Zé Roberto) era cara. Também acho que existe uma necessidade de reforços agora, mas o time que termina 2015 é melhor que o que termina 2013. E é como disseste: reforços têm de vir pro ano todo, não só pra Libertadores. Por isso, acho que contratar bem é muito mais importante do que contratar rápido. Só é preciso contratar rápido e em grande quantidade quando não há base, o que não é o caso de agora. E espero que a dificuldade desta fase de grupos não apresse para mais esse processo.
Vicente Fonseca disse…
Vindo o Fred e mais UM de nível de titular, corrigindo a segunda frase do meu comentário.
frente sul disse…
Tua última frase é bem o meu receio. E somado a um mercado retraído, é ainda mais arriscado.
Vicente Fonseca disse…
Acho que a grana que se gastou no Maicon meio que impede uma investida mais arriscada. Vamos ver.