Roger está certo: o Grêmio precisa finalizar mais

Bobô marca contra a Chapecoense: Grêmio tem chutado pouco
Uma das principais qualidades que ajudam a explicar o ótimo trabalho que Roger Machado faz no Grêmio é sua capacidade de enxergar os problemas da equipe. Pode-se argumentar que uma ou outra mexida de escalação poderia/deveria ter ocorrido antes, o que é verdade. Mas não estou falando de nomes, e sim de mecânica de time. A cada entrevista, Roger demonstra saber porque o Grêmio ganhou ou perdeu as partidas. E saber porque se ganha e porque se perde é o primeiro passo para consolidar um trabalho sólido e um estilo de jogo de alto nível.

Se o caso do golaço de contra-ataque contra o Atlético-MG ficou célebre pelo fato de Roger ter treinado mecânica semelhante em um treino dois dias antes daquele jogo no Mineirão, esta semana tem se notabilizado por outra insistência bem notada pelo técnico do Grêmio: a falta de conclusões a gol de seu time. É verdade, há algumas rodadas o problema se repete, e talvez o técnico pudesse ter atentado para isso antes. Mas o fato é que ele atentou. E está coberto de razão em tentar melhorar esse aspecto do seu time.

O diagnóstico é claro: o Grêmio intenso do primeiro turno virou um Grêmio que dosou energia no segundo para aguentar o campeonato todo sem deixar o nível de pontuação cair. Diante de um elenco reduzido, um processo natural. Porém, a diminuição natural no ritmo de uma equipe desgastada pelo excesso de jogos com alta demanda física (o estilo de Roger cobra seu preço neste sentido) trouxe um efeito colateral sério: a diminuição drástica no número de conclusões a gol, talvez por preciosismo, mas mais provavelmente por uma obsessão em manter a bola sob controle - quem mantém a bola consigo corre menos e melhor. O Tricolor era um time que criava muitas oportunidades no primeiro turno, e muitas vezes as perdia por falta de um grande definidor no elenco. No returno, virou um time que toca demais e chuta de menos. Mais do que faltar um finalizador, o que faltam são finalizações.

Nas últimas partidas, começaram a ficar comuns estatísticas que deixam isso bem claro. No jogo recente contra o Vasco, o Grêmio chegou a ter apenas cinco conclusões a gol contra a meta adversária em determinado momento do jogo, contra 16 dos cariocas (acabou 20 a 11). Posse de bola? Exatos 50% a 50%. No Gre-Nal de domingo, o Inter chegou a ter 11 a 3 em finalizações, antes de Argel retrancar o time (acabou em 13 a 11). Posse? 54% a 46% - para o Grêmio. Se em média o Tricolor finalizava 13,3 vezes por jogo no turno, passou a finalizar 20% a menos no returno (11,0 por jogo). A posse de bola se manteve relativamente estável (53,2% no turno, contra 51,2% no returno). O aproveitamento até melhorou um pouco: se antes 38% dos chutes gremistas iam na direção do gol, na segunda metade do campeonato o índice subiu para 41%.

A discrepância fica mais evidente quando tomamos partidas que exemplificam isso. No auge das vitórias do primeiro turno, o Grêmio chegou a ter 22 conclusões na vitória sobre o Cruzeiro, e 58% da posse de bola, e 21 contra o Vasco (56% da bola). No returno, o time venceu o Atlético-PR em Curitiba dando apenas cinco chutes a gol. Mas não foi um retrancão: neste jogo, o Grêmio teve 51% do tempo de bola no pé, ou seja, teve volume, controlou a partida, mas concluiu pouquíssimo. O Furacão deu 16 chutes ao longo do jogo. Contra o Cruzeiro, no Mineirão, míseros três chutes a gol (o pior índice da equipe no campeonato), contra 18 dos mineiros. Posse de bola novamente dividida, em 50% a 50%.

Um grande finalizador? Ninguém discorda de que falta. Mas o aproveitamento do Grêmio está longe de ser uma tragédia: ao todo, 39,9% dos chutes gremistas vão na direção do gol. O índice não chega perto dos incríveis 47,2% do campeão Corinthians, mas é o quinto melhor da Série A, perdendo apenas para Santos, Palmeiras e Atlético-MG. Em número de finalizações, porém, o time de Roger é só o 7º. Palmeiras, Ponte e Cruzeiro, que fazem campeonato bem inferior, estão melhores, por exemplo. Tem faltado objetividade, e isso é nem nítido.

Em tempo:
- Mais uma vez, cogita-se a volta de Alán Ruiz ao Grêmio. Os ódios e paixões que o nome desperta não podem cegar as análises: trata-se de um bom jogador, com potencial e boa capacidade de finalização, que, vimos, é algo que falta ao time atualmente. Porém, tratá-lo como solução é um risco alto, pois só conseguiu se firmar como titular agora, no modesto Colón. Mas seria um acréscimo, considerando prós e contras.

Foto: Lucas Uebel/Grêmio.

Comentários