O heroísmo vascaíno não foi suficiente para superar mais uma reação do campeão brasileiro

Vágner Love comemora: gol do título consolidou sua redenção em 2015
No jogo em que confirmou de forma matemática o seu título, o Corinthians repetiu o que fez em boa parte de sua campanha. Não, não houve brilho ontem, mas o time de Tite foi mais dele mesmo em São Januário. Porque mostrou força. Este Timão raramente perde, e normalmente não fica muito tempo atrás no placar. Obteve um empate que nem era necessário, dada a derrota do Atlético-MG no Morumbi. Mas é um time que não suporta perder, e por isso ganha tanto. É um time que não relaxa mesmo 11 pontos à frente do Galo, e por isso tem tudo para bater o recorde de pontos de um clube de 2006 para cá (faltam só quatro para superar o Cruzeiro do ano passado).

São Januário viu o Corinthians do ano inteiro. Ou, ao menos o do returno. É só pegar os (raros) jogos em que a equipe não venceu: contra o Grêmio, em Itaquera, o Timão saiu perdendo, mas precisou de sete minutos para empatar; diante da Ponte, tomou uma virada no segundo tempo e, ainda assim, precisou de 20 minutos para igualar; contra o Palmeiras, o símbolo do poder de reação, com a equipe buscando três vezes a igualdade na casa do maior rival. Só não deu para buscar contra o Inter, o único dos últimos 27 jogos no qual o time paulista foi derrotado no Brasileirão. Tomou o gol aos 36, no Beira-Rio, e aí parece ter faltado tempo para um gol salvador.

Ontem, era previsível que mais uma vez o empate chegaria. O Corinthians precisou de 10 minutos para empatar com um Vasco heroico, abnegado, dedicadíssimo, mas já sem pernas (muitos veteranos em campo) e com um a menos. Rodrigo, o mais experiente do grupo, cometeu mais uma agressão juvenil em meio a um jogo decisivo e foi expulso, prejudicando a equipe no duelo mais importante do ano por puro descontrole.

O Corinthians fez um jogo de segurança em São Januário. Não se atirou para cima porque não precisava. Com muitos atletas cansados por terem atuado pela seleção brasileira, administrou a ansiedade do Vasco e procurou jogar no seu erro. A entrega dos atletas cariocas era comovente, mas a diferença entre os dois times era ainda maior. Mesmo com o caldeirão lotado, fazer um gol era uma quimera cruz-maltina, ainda mais depois da expulsão.

Pois o Vasco chegou ao 1 a 0, e na qualidade de dois dos seus melhores jogadores. Júlio César, lateral excelente no apoio, e Nenê, o homem da reação no campeonato e cérebro da equipe. Foram eles, na base da qualidade individual, que acharam um improvável espaço na melhor defesa do campeonato, mesmo com inferioridade numérica, para fazer o gol. O estádio, compreensivelmente, enlouqueceu de alegria, mas ainda restavam pouco mais de 20 minutos para a equipe segurar a vantagem. Seria preciso um heroísmo ainda maior, por ter dez, por ser um time nervoso e fragilizado e por ter como adversário o, naquele momento, 99,9% campeão brasileiro, acostumado a buscar placares adversos, mesmo longe de Itaquera.

E não deu, mesmo. Foi na quarta bola alçada para a área em diagonal, da direita para a esquerda, com Edílson mais uma vez buscando o predestinado Lucca, que escorou para Vágner Love estufar a rede e marcar o gol do título. O da oficialização, na verdade, já que o Corinthians era virtual campeão desde os 3 a 0 no Horto sobre o Galo. Mas coube a Love, um jogador que começou o ano contestadíssimo, esta honra. Sua trajetória, de certa forma, se confunde com a do Timão 2015: uma equipe que soube se reinventar e chegar à glória de forma brilhante.

O título é incontestável, como é o trabalho de Tite. Dispensável enchê-lo de elogios mais uma vez. O Corinthians, que começou o ano muito bem, brilhando cedo na Libertadores, parecia fogo de palha lá por abril, maio e junho, quando caiu no Paulistão e na copa continental, além de começar o Brasileirão de forma irregular. No entanto, termina a temporada ainda melhor do que como a começou. Termina campeão brasileiro, mais uma vez.

Ao Vasco, mesmo com toda a luta, e mesmo tendo segurado o campeão brasileiro com um a menos em casa, a rodada foi péssima. Com 34 pontos, está quatro atrás da saída da zona, faltando apenas três rodadas. Não depende de si e precisa, na prática, vencer seus três jogos para ter chances verdadeiras de escapar da terceira queda em oito anos. A equipe que afundou o Corinthians na zona de rebaixamento em 2007 se vê afundada em 2015 não pelo Timão, mas na rodada em que o enfrentou.

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Ficha técnica
Campeonato Brasileiro 2015 - 35ª rodada
19/novembro/2015
VASCO 1 x CORINTHIANS 1
Local: São Januário, Rio de Janeiro (RJ)
Árbitro: Anderson Daronco (RS)
Público: 17.225
Renda: não divulgada
Gols: Júlio César 26 e Vágner Love 36 do 2º
Cartão amarelo: Diguinho, Jadson, Edílson e Lucca
Expulsão: Rodrigo 16 do 2º
VASCO: Martín Silva (5,5), Madson (6), Luan (6), Rodrigo (3) e Júlio César (7); Diguinho (6,5) (Rafael Vaz, 19 do 2º - 5), Serginho (6), Andrezinho (5,5) e Nenê (6,5); Riascos (4,5) (Éder Luís, 23 do 2º - 5) e Rafael Silva (5) (Jorge Henrique, 11 do 2º - 5,5). Técnico: Jorginho
CORINTHIANS: Cássio (5,5), Edílson (6,5), Felipe (6), Gil (6) e Guilherme Arana (5,5); Ralf (6) (Bruno Henrique, 30 do 2º - 5,5), Elias (5,5) (Lucca, 25 do 2º - 6) e Renato Augusto (5,5) (Rodriguinho, 14 do 2º - 6); Jadson (5,5), Vágner Love (6,5) e Malcom (5). Técnico: Tite

Foto: Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians.

Comentários

Lourenço disse…
Lembro ter dito desde o começo, quando Corinthians patinava no meio da tabela e com aproveitamento de 50%, que era o meu favorito.
Não registrei, mas vale o auto-reconhecimento.
Vicente Fonseca disse…
É verdade, justiça seja feita. Eu não acreditava no Corinthians como campeão naquela altura dos acontecimentos, mas ele cresceu muito ao longo do campeonato. Mesmo para G-4 precisava melhorar naquele momento, embora sempre tivesse potencial. Para título, sempre apostei mais no Galo.