Num Gre-Nal fraco, venceu merecidamente quem entrou com a faca nos dentes
Vitinho leva vantagem sobre Galhardo: Inter correu mais no Gre-Nal |
O clássico foi feio. Especialmente no primeiro tempo. O Inter teve cinco chegadas perigosas, o Grêmio só duas, e a única chance realmente clara foi colorada (Anderson perdeu de cabeça na pequena área). De resto, muita briga, muita discussão e pouco jogo. O time de Argel não conseguia articular nada, por falta de qualidade coletiva. Abusava dos chutões e não tinha ligação. Já o de Roger foi bem marcado, e pouco fez para sair desta marcação. Douglas não se apresentou, Giuliano raramente saiu da direita, Everton foi bem dominado. Só Luan incomodava o Inter. Maicon fez falta. Faz falta quase sempre, pois é ele quem dá a saída qualificada de quase todas as jogadas de ataque. Walace não tem essa característica, e seus erros de passe muitas vezes comprometem.
Com Pedro Rocha no lugar de Everton, o Grêmio teve boa chance na largada do segundo tempo, com Marcelo Oliveira cabeceando livre por cima após falta levantada por Douglas. Mas foi um falso indício de crescimento gremista: em vez de tomar conta do jogo como poderia, o Tricolor viu o Inter crescer no jogo e aceitou a pressão. Tomou o gol merecidamente: dois minutos antes de marcar, Vitinho envolveu o displicente Galhardo com facilidade e cruzou para Ernando perder chance incrível. No lance do gol, a displicência foi de Erazo, que tentou sair jogando contra um Rodrigo Dourado furioso, dedicado, que deu a vida pela jogada. Foi premiado com a assistência para o gol que decidiu o jogo.
Depois de abrir o placar, o Inter viveu seu melhor momento no jogo. Em cinco minutos, dos 11 aos 16, criou quatro chances de ampliar - duas com Vitinho, uma com Lisandro, outra com Dourado. Foram os únicos cinco minutos de real bom futebol apresentado na partida toda. O Grêmio seguia sem dinâmica ofensiva, mas agora abria muitos espaços, os quais não eram aproveitados porque o ataque sabidamente é a deficiência maior do Colorado. Anderson conduzia os contra-ataques com muita consciência. Teve de fato muito boa atuação, só não superior à de Rodrigo Dourado - que, é verdade, deveria ter sido amarelado por Ricardo Marques Ribeiro devido a sequência de faltas em Luan.
O crescimento do Grêmio coincide com a saída de Anderson da partida. Argel pôs Bertotto cedo demais, e ainda perdeu o contra-ataque com a má mexida. O Colorado tinha o controle do jogo e marcava bem seu rival com a formação que tinha em campo, não precisava se fechar ainda mais. O time de Roger encontrou o espaço que precisava para trabalhar a bola de trás e criou chances. Mas menos do que deveria para empatar, nem o suficiente para merecer a igualdade.
Tanto quanto a vitória no Gre-Nal, a grande notícia do domingo colorado foi a goleada de 6 a 1 sofrida pelo São Paulo para o Corinthians. A distância no saldo, que era de 11 gols, caiu para apenas cinco nesta rodada. Ainda é complicado: os rivais dos gaúchos são mais difíceis que os dos paulistas. Porém, o Colorado chega inegavelmente em melhor ânimo para as duas rodadas finais - tomar goleada deste tamanho em um clássico não é nada fácil, e o próprio Inter sabe bem disso. Além do mais, a comemoração diz muito sobre o clima de alívio no Beira-Rio: para quem temia uma nova derrota, o Inter ganhou do maior rival cheio de problemas, com muitos desfalques, na base da superação. Tudo isso dá ânimo. O problema é que o time de Argel tem se resumido a isso. Aliás, não passou disso hoje, mais uma vez. E por isso ainda acho que fica fora da Libertadores.
Quanto ao Grêmio, pareceu claro que alguns jogadores não entraram com a devida concentração no Gre-Nal. O que explica a irritação de Marcelo Oliveira, um dos mais dedicados durante toda a partida, e irritadíssimo na saída de campo, porque entende o peso do clássico. E ele tem razão: o Tricolor, em condições normais, poderia vencer seu rival. Mas Gre-Nal não perdoa quem o encara como um jogo normal - e a derrota, seja com vaga garantida ou não, seja de 1 ou de 5 a 0, sempre incomoda.
_______________________________________________________________
Ficha técnica
Campeonato Brasileiro 2015 - 36ª rodada
22/novembro/2015
INTERNACIONAL 1 x GRÊMIO 0
Local: Beira-Rio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Ricardo Marques Ribeiro (MG)
Público: 34.109
Renda: R$ 1.081.230,00
Gol: Vitinho 7 do 2º
Cartão amarelo: Vitinho, William, Alisson, Silva, Galhardo e Luan
INTERNACIONAL: Alisson (6), William (5), Paulão (6,5), Ernando (6) e Artur (6); Rodrigo Dourado (7), Nico Freitas (6) (Silva, 38 do 2º - sem nota), Anderson (6,5) (Bertotto, 24 do 2º - 5) e D'Alessandro (5,5); Vitinho (6,5) (Alisson Farias, 33 do 2º - 5,5) e Lisandro López (5). Técnico: Argel Fucks
GRÊMIO: Marcelo Grohe (6), Galhardo (5), Geromel (6,5), Erazo (4) e Marcelo Oliveira (5,5); Walace (5), Ramiro (5,5) (Maxi Rodríguez, 33 do 2º - 5), Giuliano (5,5) e Douglas (5) (Bobô, 22 do 2º - 5,5); Luan (6) e Everton (5) (Pedro Rocha, intervalo - 5,5). Técnico: Roger Machado
Foto: Ricardo Duarte/Internacional.
Comentários
E não só pelo jogo de hoje, mas eu não faria tanta força pra que o Erazo e o Galhardo ficassem. Não têm nada de excepcional que o time não possa encontrar opções no mercado. O Maicon sim, mas pena que o São Paulo pôs condições absurdas pra renovar. E terminada a rodada, com o Grêmio virtualmente na fase de grupos, é hora de começar a pensar nessas questões.
Acho que o Grêmio sente muito a falta de bons finalizadores, e não é de hoje. Os erros de passe também me pareceram bem acima do habitual, ocasionados provavelmente pela displicência - mas é somente a minha impressão, não cheguei a conferir as estatísticas.
Espero que a diretoria esteja consciente de todas as limitações do grupo atual e busque soluções adequadas o mais rápido possível. Apesar da ótima campanha, é preciso evoluir muito se quiser ter alguma chance na Libertadores.
E também concordo contigo, Rodrigo. Acho que falta um grande finalizador neste grupo, mas, mais do que propriamente isso, falta mais objetividade para definir as jogadas. O Grêmio do returno (que não tem a campanha ruim que dizem, é de 51% de aproveitamento) é um time que passa, passa, passa e não chuta. Sempre tem pouquíssimas finalizações, que não condizem com o volume de jogo do time. Acho importante valorizar a posse de bola, mas às vezes vejo o time ser um tanto preciosista em esperar uma oportunidade perfeita de arrematar, o que nem sempre é possível num jogo como o de ontem.
Quanto aos reforços, sim, é evidente que são necessários. O que não dá é a terra-arrasada que os mais exaltados fizeram ontem, mas acho esse alarde todo até positivo para que a diretoria não se acomode. O grupo é só médio, o grande trabalho do Roger é que torna a equipe boa. Só precisamos tomar cuidado com o "Projeto Libertadores". Não gosto muito de pensar o ano seguinte só pensando na Copa, e sim na temporada inteira.
Abraços aos amigos.