A Copa Argentina não merecia ser decidida por uma arbitragem desastrosa

Lodeiro bate o pênalti polêmico e abre caminho para o título
O Estádio Mario Alberto Kempes lotado foi a prova do sucesso da Copa Argentina, que chega à sua quarta edição transbordando a paixão do povo argentino pelo futebol. Na cancha neutra de Córdoba, Rosario Central e Boca Juniors faziam o duelo do time mais bem treinado do país na temporada, o de Coudet, contra o das melhores individualidades, comandado por Tevez. Um jogaço, sem ida e volta, com 90 minutos ou no máximo os pênaltis para decidir quem será o campeão. Um cenário maravilhoso de um torneio extremamente atraente, que não merecia o final que teve: um 2 a 0 para a equipe de Buenos Aires com dois tentos irregulares, um por pênalti cometido fora da área e outro em impedimento, além de um gol anulado da equipe de Rosário.

Falar que o Central não mereceu perder pelos erros de arbitragem é óbvio. A questão é que nem o Boca, este timaço que poderia ter ganhado a Libertadores se não fosse a irresponsabilidade de um torcedor seu naquele fatídico clássico contra o River, merecia ser campeão desta forma. A superioridade obtida no Campeonato Argentino fala por si: o Boca não precisa da arbitragem para merecer um título. Este belo time de Arruabarrena não merecia ser olhado com desconfiança após uma conquista deste nível.

No fim de semana, o Central chegou a poupar alguns titulares diante do Banfield, mesmo com chances remotas de título argentino, para poder se guardar para este jogo frente ao Boca. Nomes como Cervi, Donatti e Rubén, titulares que formam a espinha dorsal desta equipe, foram preservados em Lomas de Zamora para este jogo, que era o da possibilidade maior de título, de fato. O time da capital, não: buscando confirmar a conquista do certame, foi com o que tinha de melhor e sofreu para fazer 1 a 0 no Tigre e oficializar a taça. Não queria, por todas as razões do mundo, ter de decidir a parada contra o próprio Central, fora de casa. Isso cobrou o preço de a equipe chegar um pouco mais desgastada para esta decisão tão parelha.

Também por isso, o Boca tentou abrir vantagem cedo, para administrar mais adiante. Impôs um ritmo forte no começo, mas parou na bem postada zaga rosarina. Naturalmente foi diminuindo o ritmo, e viu o confronto se equilibrar. Um confronto muito disputado, leal, mas acidentado, com cinco amarelos só no primeiro tempo. E dois times de esquemas idênticos, um 4-4-2 em losango. Ambos se anulavam pelos lados e pelo meio, com as firmes defesas levando sempre vantagem sobre os velozes e insinuantes ataques.

Num cenário de tamanho equilíbrio, qualquer detalhe pode ser decisivo. Foi o que aconteceu, primeiro, aos 37 da etapa inicial, quando o Central, que ensaiava um domínio sobre o Boca, teve um gol mal anulado. Larrondo estava impedido, mas foi Rubén quem cabeceou para a meta de Orión. A equipe de Rosário terminou o primeiro tempo em cima, fazendo por merecer uma vantagem, até. Aos sete da etapa final, porém, a segunda polêmica: rompendo o domínio de Musto, Donatti e Pinola sobre os homens de frente do Boca, o lateral Peruzzi surgiu de trás e foi derrubado por Ferrari quando ia invadindo a área, mas ainda fora dela. O pênalti mal marcado abriu o placar para o time da capital e mudou completamente os rumos da partida.

O Central continuou melhor, com mais volume, mas já sem a naturalidade de antes, e sim com a obrigação de ter de reverter uma vantagem contra um Boca que, agora, estava em situação confortável. A equipe de Coudet nunca se desorganizou, nunca deixou de manter uma coerência tática, com destaque para a segurança do volante Musto e o dinamismo de Montoya pela direita. Parou diante de um rival bem postado e muito experiente. Prometia lutar até o último minuto, até a terceira polêmica definir de vez o jogo: Chávez recebeu o passe em impedimento não escandaloso, mas claro até para a transmissão ao vivo da TV argentina, sem necessidade de replay. Foi a cereja no bolo da atuação desastrosa do árbitro Diego Ceballos.

É uma pena que este Central não vá ter comemorado nenhum título em 2015, e uma pena que tenha perdido sua maior chance de conquista de uma forma tão infame como esta. Mas a Libertadores de 2016 verá um grande time vindo de Rosário. E, como o futebol sempre proporciona voltas por cima, o time de Coudet tem a chance de uma pequena vingança no próximo domingo, diante do próprio Boca, no Gigante de Arroyito. Não dará o título da Copa Argentina, não faz os erros de arbitragem voltarem atrás, mas ao menos proporciona à sua torcida a chance de se despedir deste belo time na temporada. Por todo o trabalho desenvolvido esse ano, os jogadores merecem uma festa. Festa, aliás, que é o que a torcida xeneize mais faz. Seu time merece todos os louros da temporada argentina, mas não da forma como ocorreu ontem à noite.

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Ficha técnica
Copa Argentina 2014/15
4/novembro/2015
ROSARIO CENTRAL 0 x BOCA JUNIORS 2
Local: Mario Alberto Kempes, Córdoba (ARG)
Árbitro: Diego Ceballos (ARG)
Público: 55.000
Gol: Lodeiro (pênalti) 10 e Chávez 44 do 2º
Cartão amarelo: Larrondo, Musto, Salazar, Pérez e Meli
Expulsão: Pinola 47 do 2º
ROSARIO CENTRAL: García (5,5), Salazar (5,5) (Domínguez, 25 do 2º - 5,5), Donatti (6), Pinola (6) e Villagra (5,5) (Ferrari, intervalo - 5); Musto (7), Montoya (6,5) (Niell, 37 do 2º - sem nota), Fernández (5,5) e Cervi (6); Larrondo (5,5) e Rubén (6). Técnico: Eduardo Coudet
BOCA JUNIORS: Orión (5,5), Peruzzi (6,5), Tobio (6), Daniel Díaz (6) e Monzón (6); Erbes (6), Meli (6), Pérez (5,5) (Bentancur, 25 do 2º - 5) e Lodeiro (6) (Rolín, 43 do 2º - sem nota); Calleri (6,5) (Chávez, 37 do 2º - 6,5) e Tevez (6). Técnico: Rodolfo Arruabarrena

Foto: Boca Juniors/Divulgação.

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