Sobrou ansiedade em um jogo no qual o que o Grêmio mais precisava era de confiança
A segurança com que o Grêmio administrou o empate em 0 a 0 no Maracanã dava a entender que a equipe tinha total confiança em fazer prevalecer o fator local na partida de volta, dentro da Arena. Mas não foi nada disso o que se viu em campo ontem: diante de um Fluminense humilde, que teve no reconhecimento de suas próprias limitações seu maior mérito, o time de Roger Machado fez tudo o que quase nunca faz: triangulou pouco, forçou demais o jogo, apelou para os chutões e trabalhou pouco a bola. Baixou o nível técnico da partida como convinha ao Tricolor Carioca, que fez valer sua estratégia pragmática para sair de Porto Alegre com uma classificação surpreendente, dado o contexto de ambos na atualidade.
Como falávamos na semana passada, a sensação após a partida de ida era de que o Grêmio havia deixado de matar o confronto no Maracanã. Se tivesse forçado um pouquinho mais, teria vencido no Rio de Janeiro. Isso era importante por um simples motivo: obrigaria o Flu a sair de sua zona de conforto. Jogar por uma bola, se defendendo e esperando um erro do adversário, era tudo o que o time carioca queria, e o 0 a 0 permitia isso. Se tivesse de partir para cima, abriria espaços e deixaria tudo à feição da equipe gaúcha.
Se o contexto favoreceu a estratégia inicial de Baptista, é inegável que o Grêmio também fracassou por seus próprios erros. Em especial, o da ansiedade, visível a partir dos inúmeros erros de passe próximos à área do Flu, próximos da hora do arremate. Talvez pensando no fato de não ter feito o gol fora de casa, e com medo de sofrer um na Arena, o time de Roger jamais executou a pressão confiante que costuma sobre seus rivais ontem. Teve mais posse de bola sempre, mais iniciativa, tudo isso é verdade. Mas não fez a pressão alta, não encurtou o campo, não aplicou a intensidade de sempre. Não quis correr riscos, em suma, em um jogo no qual isso era um dever, dada a necessidade de ganhar. Se diz que o Fluminense marcou bem ontem, o que é verdade, mas a falta de apetite do Grêmio em pressionar facilitou esse trabalho também.
O gol de Fred era o risco temido por diversos motivos: a não-marcação de gol no Maracanã, o fato de ele ser um grande centroavante e a ausência de Geromel, que ontem fez mais falta do que nunca. E ele não mudou em nada o panorama do jogo: só dobrou a necessidade de gols e quadruplicou a ansiedade gremista na partida. A entrada de Bobô se justificou com o golaço, a de Fernandinho foi correta para abrir espaços em uma defesa fechada, mas o Grêmio nunca chegou a jogar bem, como sabe, com a bola no chão, com aproximações. Empatou, tornou Diego Cavalieri o melhor nome do jogo, mas criou oportunidades basicamente em levantamentos para a área, em balões, um modo de jogar que esta equipe simplesmente não é talhada para realizar. O próprio gol foi uma sobra, um lance quase fortuito.
O Grêmio cai diante de uma equipe inferior à sua, embora não ruim. A frustração é evidente, mas também é preciso levar em conta o panorama de toda a temporada antes de sair crucificando quem quer que seja. Roger faz um excelente trabalho, tanto que a realidade a partir de agora é brigar, no mínimo, pelo vice-campeonato brasileiro. Mas uma coisa é inegável: seu time não matou o Fluminense quando deveria, e não fez uma boa partida ontem. Os 180 minutos foram pensados de forma equivocada. Na maioria das derrotas com Roger, o Grêmio buscou o jogo, não fugiu de suas características básicas. Ontem, deixou de jogar como sabe. Mesmo que mata-mata seja diferente de pontos corridos, foi um grande erro deixar de lado as virtudes que fizeram desta equipe uma das melhores do país neste ano. Fica a dica para a Libertadores de 2016.
O duplo erro de marcação no gol de Fred
No início da jogada, repare como Marcos Júnior sai da área completamente livre para retomar a posse de bola. Marcelo Oliveira só se desloca mais tarde para dar combate |
Comentários
Quanto à Sul-Americana, ser eliminado pelo Criciúma seria complicado de explicar. Mesmo que a Sul-Americana seja mais fácil teoricamente, a queda causaria um desgaste enorme naquele momento, geraria desconfianças que talvez impedissem um momento tão bom como o atual no Brasileiro. É complicado fazer esse tipo de planejamento, onde perder é benéfico. Só no Brasil pra esse tipo de coisa existir...