Sem o técnico e seus dois craques, o Uruguai provou que pode ir à Copa sem repescagem


Equador e Chile também têm 100% de aproveitamento, e foram deles as vitórias mais expressivas deste começo eliminatórias, contra Argentina e Brasil. Porém, o começo do Uruguai é o mais consistente de todos até agora. Provando que a vitória na altitude de La Paz sobre a Bolívia não foi ao acaso, a Celeste fez outra partida extremamente segura na 2ª rodada, desta vez em casa. A vítima foi a Colômbia, uma das favoritas para ir ao Mundial. O placar? Um 3 a 0 sem deixar margem para qualquer contestação.

É verdade que os colombianos vieram sem James Rodríguez, mas a ausência do craque do Real Madrid em nada diminui o feito uruguaio. Afinal, a equipe de Óscar Tabárez (ou melhor, Celso Otero, já que o Maestro está suspenso) jogou sem seus dois principais nomes mais uma vez - a fantástica dupla de ataque Cavani-Suárez. Mesmo sem os dois, conseguiu arrancar na corrida rumo à Rússia 2018 com 6 pontos, cinco gols marcados e duas vitórias com sobras neste início de campanha.

Numa eliminatória que começou sem Neymar, Suárez, Messi, Cavani e James, o Uruguai é a equipe que melhor soube suprir a ausência de seus grandes desfalques. Diante da falta de um homem criativo confiável e capaz de conduzir o time, Tabárez pensou os dois confrontos de forma inteligente: postou seu time num 4-1-4-1 com marcação agressiva, adiantada, sufocando a Colômbia nos minutos iniciais em busca de um gol que lhe permitisse jogar no contragolpe, como em La Paz. 

O tento não saiu de início, mas o time celeste não teve vergonha de se postar de forma reativa, mesmo dentro de casa. Ofereceu a bola à Colômbia, mas nunca espaço para ela trabalhar. Sem James, o time de Pekerman sofreu para levar perigo. Na falta de um contragolpe realmente perigoso, o Uruguai usou a bola aérea para chegar ao 1 a 0, no infalível escanteio que Godín tantas vezes já comemorou. Na falta de Cavani e Suárez, o chuveirinho parecia salvar os uruguaios de novo (em La Paz, apesar da boa atuação, os dois gols vieram de bola aérea), num resultado superior à atuação que a equipe tinha naquele momento.

O segundo tempo, porém, foi bem diferente. O golaço de Rolan logo aos cinco minutos aumentou o desespero da Colômbia, que era cada vez mais ineficiente. O Uruguai, mesmo atuando sem a bola em 62% do tempo de jogo, era muito mais incisivo e criativo. As trocas rápidas de passe envolviam a equipe visitante de um modo como não estamos acostumados a ver um time charrua realizar. Sem Cavani e Suárez, as ideias de Tabárez apareceram melhor na etapa final: extrema movimentação dos homens de frente, com o meia Stuani atuando como falso centroavante, abrindo espaço para quem chegava de trás como surpresa - o tento de Rolan foi fruto disso. E o segundo golaço da noite, desta vez do reserva Abel Hernández, decretou o 3 a 0 justo pelo futebol apresentado pelos dois times em campo.
No lance do segundo gol uruguaio, Stuani chama a marcação como falso nove e abre espaço para Rolan ingressar pelo lado esquerdo da defesa colombiana, de surpresa
O que de mais importante fica destes dois jogos iniciais de eliminatórias é que o Uruguai sabe se virar muito bem sem seus dois grandes atacantes. Mais que o Brasil sem Neymar, a Argentina sem Messi e a Colômbia sem James, mesmo tendo menos opções. Extremamente coletivos, Cavani e Suárez não devem fazer o time perder o sentido coletivo apresentado contra bolivianos e colombianos. Eles só tendem a acrescentar uma qualidade de definição ainda maior à equipe, mesmo que Rolan, Hernández e companhia não tenham deixado a peteca cair neste começo de eliminatórias. 

É verdade que em 2011 o início uruguaio foi parecido. Ainda no embalo do título da Copa América, a Celeste iniciou patrolando todo mundo, mas sofreu uma forte queda em 2012 e só uma grande recuperação no ano seguinte permitiu à Celeste ir ao Brasil 2014 através da repescagem. Desta vez, porém, mesmo que a equipe seja tecnicamente inferior àquela, o começo altamente promissor sem Cavani e Suárez permite pensar que a repescagem talvez nem seja necessária. Porque a qualidade coletiva do futebol celeste é bem superior e muito menos dependente de seus dois gênios da grande área. A ótima Colômbia de Pekerman que o diga. E os claudicantes Brasil e Argentina que se cuidem.
Mesmo sendo atacante de origem, Rolan cumpre função importante no time de Tabárez. Quando a equipe tinha a bola, ele recompunha a defesa quase como um volante pela esquerda, acompanhando as subidas do lateral Arias - justamente o homem que falhou no lance do seu gol

Comentários

Sancho disse…
O time é mais jovem que o das Eliminatórias passadas, ou estou errado?
Vicente Fonseca disse…
Sim, mas não tanto assim. Se pegarmos a escalação da estreia daquela eliminatória, em 2011, temos a média de idade 27,0 de anos. Agora, se retirarmos do time Álvaro Pereira e Stuani (prováveis reservas) para as entradas de Cavani e Suárez, ela é de 25,8 anos (sobe para 26,2 com Arévalo no lugar de Corujo). Ontem, o time que entrou em campo contra a Colômbia tinha média de 26,0 anos.

Escalação contra a Bolívia (4 a 2) em 07/09/2011 (idade na época entre parênteses): Muslera (25), Maxi Pereira (27), Lugano (30), Godín (25) e Cáceres (24); Pérez (31), Arévalo Ríos (29), Álvaro Pereira (25) e Forlán (32); Cavani (24) e Suárez (24).

Escalação atual, mais Cavani e Suárez: Muslera (29), Maxi Pereira (31), Giménez (20), Godín (29) e Cáceres (28); González (30), Corujo (29), Sánchez (30) e Rolan (22); Cavani (28) e Suárez (28).
Sancho disse…
Interessante. Me faz pensar que a causa principal para a queda de produção nas Elim./14 foi a decadência do Forlán. Ele era vital para o esquema e para a equipe. A vantagem do atual time é não haver ninguém que, sacado, obrigue o Uruguai a se reinventar. Os melhores jogadores são a dupla de atacantes. A equipe piora sem eles, teoricamente, mas não precisa mudar o jeito de jogar.
Vicente Fonseca disse…
É uma leitura correta. Normal qualquer time ser dependente daquele Forlán de quatro ou cinco anos atrás. Agora, sem ele, o Uruguai é obrigado a se reinventar. Vendo que nomes como Lodeiro e Arrascaeta não conseguem dar conta do recado, o Maestro mudou a forma de jogar de tal modo que não seja mais necessário um centralizador na criação de jogadas. As saídas pelos lados, com Sánchez e Rolan/Cebolla, são uma opção para que essa dependência não ocorra mais. E aí, Cavani e Suárez viram um plus no ataque. O véio é inteligente.
Lourenço disse…
Aguante celeste