Ao usar reservas, Palmeiras permite a questão: para que contratou tanto em 2015?

Poucos times têm conduzido tão mal suas últimas semanas de trabalho como o Palmeiras. Os números são claros: nos últimos cinco jogos, foram quatro derrotas (uma delas, goleada histórica em Chapecó) e só uma vitória. Fora do G-4 do Brasileirão, a equipe paulista tem que correr atrás do prejuízo também na Copa do Brasil, onde perdeu o primeiro jogo da semifinal para o Fluminense. A situação definitivamente não é confortável.

Mas pior que os resultados, só o planejamento adotado para superar as duas competições. A ideia de colocar equipe reserva nas últimas rodadas do Campeonato Brasileiro é um risco desnecessário e equivocado. Numa briga tão parelha, descaracterizar o time é praticamente entregar os pontos para o adversário. Foi o que fez Marcelo Oliveira ontem: chegou ao Pacaembu com o discurso de que era inaceitável não vencer o Sport, concorrente direto por uma vaga na Libertadores. Porém, de titulares, escalou apenas Fernando Prass, Vítor Hugo, Egídio e Thiago Santos. No ataque, nem Alecsandro, reserva imediato de Barrios jogou, mas Cristaldo, raramente aproveitado. Levou 2 a 0 com total justiça.

Existe o desgaste com o acúmulo de jogos? Existe, claro, para todos. Mas, para começar, menos para o Palmeiras do que para o Sport. Afinal, o elenco numeroso do Alviverde lhe permite rodar mais o time que o caso pernambucano, onde a base titular é usada exaustivamente quase que desde maio. A vitória sobre o Avaí na Ressacada, com cinco titulares (Prass, Jackson, Egídio, Thiago e Gabriel Jesus) trouxe a falsa impressão de que o elenco poderia encarar o Brasileiro com mistão enquanto os titulares buscavam a Copa do Brasil. Um gerenciamento completamente equivocado, que superestima a capacidade do grupo, que é numeroso, mas sem grandes craques. A arma palmeirense em 2015 é a quantidade alta de bons jogadores, não a presença de foras-de-série em seu grupo
Esquema do Palmeiras se mantém com os reservas, mas a ausência de muitos titulares prejudica a mecânica de jogo
Com tantos bons jogadores à disposição, mais do que dois por posição, até, o rodízio palmeirense deveria ser obrigatoriamente implantado. Se cita gigantes europeus, que usam até 30 jogadores com relativa regularidade, mas na prática o procedimento usado no Allianz Parque é equivocado: em vez de colocar todos os titulares na Copa do Brasil e quatro ou cinco no Brasileirão, o ideal era Marcelo Oliveira escalar sempre entre sete e nove dos considerados 11 principais em todos os jogos. Dois ou três por vez ganhariam uma semana para descanso e treinos e a força da equipe se manteria a mesma. Quem tem elenco, como o Palmeiras, não sente dois ou três desfalques. Mas todos, do Palmeiras ao Joinville, sentem a perda de seis ou sete titulares. Porque a mecânica de jogo se perde.

A dica foi dada pelo técnico Diego Aguirre no Internacional, até as quartas de final da Libertadores. Depois de ganhar o Gauchão contra o Grêmio, deixou D'Alessandro e Valdívia no banco nas oitavas da copa continental, em Belo Horizonte, contra o fortíssimo Atlético Mineiro. Seu time manteve o alto nível, e eles ainda atuaram por 45 minutos no Horto, sendo decisivos tanto na vitória por 2 a 1 que deu o título gaúcho como no empate em 2 a 2 em Minas, resultado que encaminhou a vaga às quartas. Foi só após chegar à semifinal que o uruguaio se perdeu: exagerou ao poupar peças, como faz Marcelo Oliveira agora, viu seu time perder a mão e caiu diante de um Tigres visivelmente superior. Hoje, o Inter, mesmo com uma sequência de vitórias, segue fora do G-4 por conta disso, ainda pagando a conta pelos erros e péssimos resultados de junho e julho. E o Palmeiras também começa a ficar para trás no Brasileiro justamente por gerenciar mal seu vasto grupo de atletas.

Na Copa, a situação é semelhante: ao contrário do Tigres em relação àquele Inter de três meses atrás, o Fluminense não é melhor que o Palmeiras, mas pode também fazer o crime quarta que vem. Porque o erro de Marcelo se assemelha ao de Aguirre. Ainda há tempo para corrigir o rumo, nas duas competições, tanto para o Colorado quanto para o Alviverde. Mas para isso será preciso ter a corda esticada, algo que elencos tão bons e numerosos teoricamente não precisariam tanto.

Comentários