Ao comandar virada da Chapecoense, Guto Ferreira superou sua façanha no começo do Brasileirão

As histórias guardam incrível semelhança. Na 1ª rodada do Campeonato Brasileiro, Guto Ferreira veio à Arena do Grêmio com a Ponte Preta. Seu time foi dominado no primeiro tempo, chegou a estar perdendo por 2 a 0, mas obteve uma impressionante reação e buscou um empate de 3 a 3 no último lance do último do jogo. Neste domingo, ele superou aquele feito do dia 10 de maio: vendo sua Chapecoense completamente batida em campo, levou o time para a frente na etapa final e conseguiu um gol salvador na última ação da partida. Mas, mais do que o empate, obteve a vitória. E, ao contrário daquele dia, diante de um Grêmio hoje confiante, afirmado e praticamente garantido na Libertadores.

A mudança de postura da Chapecoense na Arena gremista foi impressionante na etapa final. Nos primeiros 45 a equipe catarinense teve três chances claras, é verdade (duas com Camilo, uma com Túlio de Melo salva por Galhardo em cima da linha), mas as ações foram comandadas pelo Grêmio de Roger Machado. O gol cedo trouxe confiança aos gaúchos, que dominaram o jogo em grande parte do tempo. Houve momentos de intensa pressão gremista no campo de defesa da Chape, da intermediária para trás. Coisa de dois minutos sem que o time visitante tocasse na bola, tudo nos últimos 25 metros do gramado. Tudo o que Roger mais pede e pensa sobre futebol.

O panorama favorável ruiu no segundo tempo. A mudança de postura do time catarinense foi clara: em vez de temer uma goleada que se desenhava, a Chapecoense arriscou atacar um Grêmio muito mais forte, e saiu premiada por isso. Guto foi inteligente: na esquerda, abriu Maranhão em cima de Galhardo, embora tenha tomado o cuidado de manter o lateral Dener quase como um terceiro zagueiro, para manter a solidez defensiva. Ao mesmo tempo, adiantou seus zagueiros e volantes, para encurtar o campo. Na direita, liberou Apodi para ser um ponta. Ambos sempre tendo em Camilo uma peça centralizadora e participativa do processo criativo e de contragolpe. Mesmo que quisesse jogar recuado, Marcelo Oliveira não conseguiu conter a velocidade do ala catarinense, que jogou projetado o tempo todo. O primeiro e o terceiro gols surgiram por ali. O jogo do 1º turno, disputado na Arena Condá, em julho, foi igual.
No lance do primeiro gol, Maicon não acompanha Camilo. Talvez porque não esperasse que o alto Marcelo Oliveira perderia no jogo aéreo para o baixinho Apodi. Esta disputa foi decisiva...
...pois na velocidade é difícil acompanhar o ala da Chapecoense. Camilo recebe livre e lança Apodi, já metros à frente do lateral gremista, invadindo a área. Erazo chega atrasado e comete o pênalti
Mas nada disso seria possível sem uma visível soberba gremista. É verdade que os comandados de Roger não esperavam que a Chape arriscasse tudo na etapa final, mas ainda assim a equipe gaúcha foi sonolenta, dormiu em cima do resultado, pensando que o jogo estava definido, tal a superioridade tática e técnica apresentada no primeiro tempo e a situação tranquila dentro da classificação do campeonato. A desorganização foi tamanha que dois dos gols sofridos foram tomados de contra-ataque, algo inaceitável para quem está defendendo uma vantagem.

Se diante do Santos Roger elogiou seu grupo por ter atuado de forma distinta nos dois tempos do jogo (agredindo no primeiro, segurando a vantagem com qualidade no segundo), no domingo o que ocorreu foi nível distinto de atuação de um tempo para o outro. Uma oscilação que o próprio Grêmio não costuma ter, e que custou caríssimo. Esses cinco pontos perdidos para Guto Ferreira, três deles no último lance das duas partidas, impedem que o Tricolor ainda sonhe minimamente com o título, ou esteja atualmente na vice-liderança do Brasileiro. No fim do campeonato, são eles que vão ser os mais lamentados pelos torcedores.

Para a Chapecoense, ao contrário, os complicadíssimos seis pontos diante do Grêmio (algo que só ela e o São Paulo devem conseguir em 2015), é que devem livrá-la do rebaixamento - se perdesse os seis, como em 2014, a equipe do oeste de Santa Catarina estaria agora na zona de descenso. O River Plate que se cuide amanhã.

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