A versão 2016 do calendário "revolucionário" da CBF que brinca com a inteligência alheia

Cada vez que a CBF anuncia o seu calendário para a temporada seguinte, é preciso analisá-lo com olhos bem atentos para descobrir seus furos. Na verdade, cada vez menos atenção precisa ser dispensada para encontrar os absurdos. Na versão 2016, o anúncio oficial é de que o Brasileirão vai parar durante as eliminatórias para a Copa do Mundo, algo que não deveria ser comemorado, mas sim praxe há décadas. Pois até isso é uma farsa.

As Datas FIFA utilizadas para as eliminatórias preveem jogos às sextas (ou sábados, dependendo da TV) e terças-feiras. O que a CBF fez foi simplesmente acabar com um absurdo: na data de setembro, retirou a rodada que ocorreria no sábado e no domingo entre os dois jogos da Seleção Brasileira. Qual a revolução? Absolutamente nenhuma. Em 2015, esse fim de semana receberá jogos do campeonato normalmente, pois haverá amistoso do Brasil marcado, e não jogo de eliminatória. Em outubro e novembro da atual temporada, quando a Seleção iniciará sua caminhada rumo à Rússia, a rodada já não está prevista.

Além disso, trata-se de uma folga às avessas. Afinal de contas, há rodada do Brasileirão marcada sempre para o dia seguinte ao segundo duelo de eliminatórias de cada Data FIFA. Ou seja: jogadores de clubes domésticos poderão ter de enfrentar um jogo pela Seleção na sexta e outro na terça, e na quarta-feira terem de jogar por seu clube no campeonato nacional. Dois jogos em um intervalo de 24 horas, três em 96 horas, espremidos em um calendário que soca as 38 rodadas do Campeonato Brasileiro em menos de sete meses, pois ainda prevê 19 datas para os famigerados estaduais (incrivelmente, algumas federações foram mais sensatas que a CBF e diminuíram para 15 as datas de deus respectivos campeonatos). Isso sem falar na Copa América dos Estados Unidos (se é que ela vai sair) e nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro - claro que o Brasileirão não vai parar durante a Olimpíada, mesmo ela ocorrendo no Brasil.

Só há uma coisa no calendário do ano que vem que é inédita: nunca os clubes poderão ser tão desfalcados de seus craques durante o Brasileirão como em 2016. Somando as perdas humanamente inevitáveis de três jogos das eliminatórias às da Copa América e às da Olimpíada, em 18 das 38 rodadas isso é passível de ocorrer. A desvalorização do nosso principal certame também deve se acentuar com a concorrência com os Jogos do Rio 2016, pois isso afeta a visibilidade da competição. Isso sem falar que clubes de diversos estados terão de jogar em estádios menores durante algum período, pois arenas importantes serão utilizadas para as disputas do futebol masculino e feminino. Isso diminui o nível de interesse, baixa a média de público. Trocando em miúdos: desanima.

Mas o problema, claro, são as férias de um mês em janeiro. E a Copa Sul-Minas, esse disparate.

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