O Inter começou a perder a Libertadores no dia de sua vitória mais emblemática



Parece algo impossível e ilógico, mas a verdade é que o Internacional começou a perder para o Tigres no dia em que se classificou para enfrentá-lo, dois meses antes do confronto. A vitória sobre o Santa Fe, classificação dramática e com pinta de título, trouxe inúmeros prejuízos ao trabalho que vinha sendo no Beira-Rio. Foi naquele dia que Diego Aguirre mudou o esquema para uma formação com dois atacantes que jamais funcionou como o 4-2-3-1 das partidas contra o Atlético Mineiro. Foi também naquele jogo que o uruguaio foi expulso de sua casamata, em uma reação desmedida a uma falta que o suspendeu por três jogos. Não há dúvida que Aguirre fez muita falta nos dois jogos contra os mexicanos.

Isso para falar apenas nas consequências diretas. Na verdade, sabíamos desde aquele dia também que a parada da Libertadores para a Copa América vinha em mau momento. Naquele 28 de maio, o Inter era, talvez ao lado do River Plate, o time mais embalado da Libertadores. Em dois meses, dizíamos, muita coisa muda. E como mudaram... Não foi só troca de esquema ou perda da presença do técnico. Veio também uma sucessão de lesões e de más atuações no Brasileiro, que causaram a perda da confiança no potencial técnico do time na metodologia de trabalho de Aguirre. Tudo isso influenciou na perda de embocadura do time e na derrota de ontem.

Há também, claro, o lado do adversário. A parada possibilitou ao Tigres se reforçar bastante. É bom lembrar que os mexicanos também vinham numa crescente importante. A classificação contra o Emelec, com gol no fim do jogo, inflou os ânimos da torcida local, que já é animada desde sempre, por sinal. É bom lembrar que o Tigres fazia uma campanha no geral superior inclusive à do Inter, mesmo tendo o River em seu grupo inicial de adversários - decidiu o confronto semifinal em casa por isso. Sempre foi um ótimo time, mas conseguiu ir além disso ao trazer Aquino e Gignac, entre outros reforços. E como eles foram importantes no mata-mata.
Um minuto antes do gol, Aquino passa por William e obriga Ernando a sair na cobertura. Abre-se um buraco para Gignac entre os dois zagueiros do Inter, uma constante ao longo do jogo em Monterrey
Aquino, no geral, foi o melhor. Repetiu ontem em Monterrey a atuação de gala que já tivera em Porto Alegre, infernizando a vida de William com dribles sempre agudos. Isso desestabilizou completamente a marcação colorada: ao levar vantagem frequentemente sobre o lateral direito, ele obrigava Ernando a se deslocar da área para fazer a cobertura sempre. Isso abria espaços generosos para Sobis e Gignac pelo meio. A inteligência acima da média do centroavante francês fazia o mesmo pelo outro lado. Ora ele colava em um lateral, ora em outro, sempre puxando a marcação e abrindo espaços para Damm e Aquino subirem pelos lados. Uma mecânica ofensiva de alto nível, e que o Inter simplesmente não conseguiu conter. O 3 a 1 saiu barato.

Tudo isso, aliado aos últimos maus jogos pelo Campeonato Brasileiro, ajudou a tirar a confiança que antes sobrava ao Inter fora de casa na Libertadores. O time perfeito da goleada sobre a Universidad de Chile, de personalidade impressionante no Independência contra o Atlético e de poucos erros defensivos em Bogotá contra o Santa Fe deu lugar a uma equipe com erros técnicos graves. Não se trata apenas do gol contra de Geferson, lance que demonstrou a falta de recursos do jogador: Aránguiz, que deveria dar qualidade à transição defesa-ataque, errou passes demais (o Inter errou 47, o Tigres só 21 ao longo do jogo). D'Alessandro aceitou passivamente a marcação. Nilmar, se tocou na bola, foi para dar a saída nos lances dos gols mexicanos. Os experientes se ausentaram, e isso explica decisivamente o fato de os jovens terem sucumbido.

Sobis confunde a marcação. Inteligente, Gignac se desmarca e fica completamente livre na entrada da área. Neste lance, para sorte do Inter, ele isolou
Diego Aguirre também fez muita falta à beira do campo, mas não é só sua ausência que explica a derrota. A mudança de esquema, do afirmado 4-2-3-1 para o 4-2-2-2, tirou do Inter uma peça centralizadora da criação ofensiva. Tal mudança se justificava na partida contra o Santa Fe, na qual a equipe precisava vencer por 2 a 0, e ter mais força ofensiva. Porém, foi mantida ao longo do Brasileiro, apesar dos maus desempenhos do ataque, e prosseguiu na Libertadores. Se Eduardo Sasha entrasse pela direita, como antes daquele jogo, talvez Aquino tivesse de voltar para mais, e não atacaria com tanta volúpia; se D'Alessandro estivesse pelo meio, provavelmente o Tigres não ganharia o meio com tanta naturalidade, pois Arévalo Ríos e Pizarro teriam a quem controlar diretamente. Não foi só nos lados, mas também pelo meio, que o Tigres destilou sua imensa superioridade ontem.

Mas não dá pra colocar a culpa no destino e reclamar dessa parada de quase 60 dias. A verdade é que a Libertadores do Inter se dividiu em três: nos primeiros quatro jogos, até 19 de março, o Colorado tinha uma equipe formada pelos reforços caros que trouxe. Um time que não convencia e tomava gols demais. Veio uma parada de 28 dias, na qual Aguirre implantou o rodízio, descobriu a partir dele Rodrigo Dourado, William e Geferson, acertou o esquema e o time cresceu a ponto de chegar às semifinais. Aí a Copa parou de novo. Só que em vez de conduzir bem esse processo, como na interrupção anterior, o Inter fez um mau trabalho entre junho e julho. Contra um adversário de altíssimo nível, e que fez uma boa transição no mesmo período, o preço pago foi o de uma decepcionante e dolorida eliminação, que antecipa tempos mais austeros - muito dinheiro foi investido nesse título. Agora, a conta terá de ser paga.

Comentários

Chico disse…
...enquanto isso dodóilessandro continua jogando videogame.

geferson: a personificação do inter cagão.

...mas com a eliminação do Boca Jrs o inter já não era campeão?

Quando ânderson, réver e vitinho vão estrear?
Vicente Fonseca disse…
Pra mim, pelo menos até agora, o Anderson é uma das piores contratações da história do Inter. Em seis meses, zero gol, zero passe pra gol, duas expulsões e R$ 3 milhões de custo - pra sequer ficar no banco no jogo mais importante do ano. Fiasco.